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Bolsa argentina dispara 20%, e dólar 'blue' sobe a 1.000 pesos após vitória de Milei

Salto da moeda ficou dentro do esperado depois de congelamento de parte do mercado informal pré-eleições

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Buenos Aires

As ações da Argentina dispararam mais de 20% e o dólar paralelo ultrapassou os 1.000 pesos nesta terça-feira (21), depois da vitória do ultraliberal Javier Milei e de um feriado local nesta segunda (20). A subida da moeda americana, porém, ficou dentro do esperado após dias pré-eleições com parte do mercado paralelo congelado.

O chamado 'dólar blue', que passou o dia instável, saltou de 950 a 1.075 em relação à última sexta-feira (17), uma alta de 13%. Comprar ou vender dólares por essa cotação teoricamente é proibido no país, mas na prática é esse valor que rege os preços nos comércios e serviços do dia a dia.

Presidente eleito Javier Milei em seu primeiro discurso após vencer as eleições, neste domingo (19) - Agustin Marcarian/Reuters

"Está dentro do esperado", diz Alejo Costa, estrategista-chefe do banco BTG Pactual na Argentina. "Com Milei, há duas forças opostas. Primeiro, a ideia de uma menor emissão monetária devido a um menor déficit, o que alivia a pressão sobre o dólar. Segundo, uma potencial dolarização, que supõe um dólar mais alto. Entre essas duas forças, parece lógico ver o dólar entre 1.050, 1.100 pesos", diz.

Além disso, diante das incertezas do que ia acontecer nas urnas e da fiscalização reforçada pelo ministro da Economia e então candidato Sergio Massa, parte das "cuevas", cambistas informais, pararam de vender a moeda na última semana, o que pode ter segurado seu preço. Informalmente, se brincava que havia um dólar "blue do blue", ou seja, que nas ruas se vendia um dólar ainda mais caro do que o paralelo.

Agora, diante da disparada do dólar e dos preços nas gôndolas, a gestão de Alberto Fernández e de Massa tentam conter uma subida com um novo acordo de preços com as empresas, prática recorrente no país. O governo deve impor um limite de 5% em novembro e 8% para alimentos nos supermercados, por exemplo, até que Milei assuma em 10 de dezembro, segundo o jornal La Nación.

A cotação do dólar oficial usada no mercado atacadista, por sua vez, não teve surpresas nesta terça e fechou em 356 pesos, um avanço de 2 pesos. Não houve uma correção do governo nesse câmbio, como ocorreu após as eleições primárias de agosto. Na época, a medida acordada com o FMI (Fundo Monetário Internacional) contribuiu para uma disparada do dólar e uma paralisação nas vendas, que ficaram sem preços de referência.

Na Bolsa, o índice S&P Merval de Buenos Aires registrou uma alta de 20,81%, às 11h03 desta terça (horário de Brasília), devido aos ajustes de preços após o feriado, com as empresas de energia liderando os ganhos. Nesta segunda, os mercados externos haviam reagido positivamente à vitória de Milei.

As ações das empresas argentinas listadas nos Estados Unidos subiram até 40%, puxadas pela empresa petrolífera YPF, que Milei confirmou querer privatizar. A dívida soberana também se recuperou com o otimismo em relação ao novo presidente da terceira maior economia da América Latina, atrás de Brasil e México. O país hoje sofre com uma inflação de 143%, uma recessão iminente e o aumento da pobreza.

"A agenda de Milei cria ilusão, há uma visão positiva, embora haja problemas muito difíceis de resolver", diz o analista Marcelo Elizondo. "Os mercados externos endossam o fato de que houve a derrota de uma força política que levou ao caos econômico", acrescenta, referindo-se ao peronismo que impulsionou o candidato Massa.

Analistas do Morgan Stanley previram nesta segunda (20) um ajuste de pelo menos 80% no dólar oficial da Argentina em dezembro, ou seja, que ele se aproxime do "blue". O banco diz que a gestão de Milei provavelmente negociará um novo acordo com o FMI "com relativa rapidez" para evitar atrasos nos pagamentos do programa de empréstimo, que totaliza US$ 44 bilhões.

"O presidente eleito terá de dissipar as várias fontes de incerteza que afetam os argentinos. Ele terá de vestir o uniforme de um líder desde o momento zero", diz Pablo Besmedrisnik, diretor e economista da empresa de consultoria Invenómica.

Com Reuters

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