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Ações argentinas sobem com vitória de Milei, mas mercado ainda adota cautela

Propostas do presidente eleito ainda devem ter dificuldades de implementação, e investidores aguardam definições de política econômica

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Marcelo Azevedo Jorgelina do Rosario Libby George
São Paulo, Buenos Aires e Londres | Reuters

A vitória do ultraliberal Javier Milei impulsionou ações argentinas e pode desvalorizar o peso, mas a cautela deve permanecer no mercado.

Segundo analistas, investidores devem monitorar definições dos membros da equipe de política econômica e ainda têm dúvidas sobre a viabilidade das propostas do presidente eleito, o que deve manter o mercado em compasso de espera.

O radical de extrema-direita foi eleito no último domingo (19), derrotando o ministro da Economia peronista, Sergio Massa, com uma campanha que pregou corte agressivo de gastos públicos, dolarização da economia e a promessa de "queimar" o banco central argentino.

Apesar da campanha inflamada, Milei adotou um tom considerado mais moderado em seu primeiro discurso após a vitória. Investidores observaram, por exemplo, que ele não se referiu à dolarização, levantando dúvidas sobre a rapidez com que o presidente eleito pode implementar a eliminação do peso argentino.

Ele prometeu reformas rápidas para consertar uma economia atolada em crise. A inflação está em 143%, as reservas de moeda estrangeira estão em mais de US$ 10 bilhões de dólares no vermelho e uma recessão se aproxima. Milei também sinalizou moderação e agradeceu a seus principais apoiadores conservadores, Mauricio Macri e Patricia Bullrich.

Javier Milei comemora vitória nas eleições da Argentina
Javier Milei comemora vitória nas eleições da Argentina - Agustin Marcarian - 19.nov.2023 / Reuters

Para analistas do Goldman Sachs, algumas propostas de Milei apresentam riscos significativos de implementação, o que aumenta dúvidas sobre o avanço da pauta ultraliberal do presidente eleito.

"A dolarização, por exemplo, que não apareceu no discurso de Milei na noite de domingo, tem limitações e deve esbarrar em desafios macroeconômicos. Como acontece em tudo na economia, não existe almoço grátis", diz a equipe do Goldman.

Eles destacam, ainda, que Milei vai governar sem maioria no Congresso, o que deve dificultar a implementação das medidas previstas pelo ultraliberal.

Além disso, o Goldman afirma que o mercado deve monitorar definições sobre o gabinete do presidente eleito, em especial o ministro da Economia e posições no banco central argentino.

Já Anders Faergemann, cochefe de renda fixa global da PineBridge Investments, disse que os investidores estavam satisfeitos com o resultado, mas que agirão com cautela até que Milei anuncie seu gabinete.

"Achamos que é um resultado positivo para os mercados, mas pode haver alguns ajustes nos próximos dias, nas próximas semanas, para ver qual será sua abordagem", disse ele.

Diego W. Pereira, do JPMorgan, afirmou em uma nota a clientes no final do domingo que não mudaria sua recomendação sobre os títulos internacionais da Argentina enquanto aguarda clareza sobre a trajetória da política econômica de Milei e sua capacidade de implementar seus planos.

"Embora esperemos que o resultado seja construtivo para as avaliações no prazo imediato, a incerteza persistente em torno da trajetória da política econômica de Milei, as capacidades de execução e a frágil posição econômica da Argentina ainda pesarão sobre os preços", disse Pereira.

Walter Stoeppelwerth, estrategista-chefe da empresa financeira Gletir, avaliou que Milei precisa se manter firme em seu plano de corte de gastos, apesar do medo real dos eleitores em relação ao sofrimento causado pela austeridade, com dois quintos da população já na pobreza.

"O fator determinante é o compromisso fiscal. Se Milei conseguir convencer o mercado de que a motosserra (disciplina fiscal) é o coração e a alma de sua presidência, então os títulos vão subir", analisou. "Se ele avançar em direção à unificação do câmbio, isso também será positivo. Ele não pode se equivocar."

Ações sobem com euforia do mercado

Apesar das indefinições e do feriado na Argentina, já houve sobressaltos em papéis argentinos em mercados internacionais. As ações da empresa de energia YPF listadas nos EUA, por exemplo, subiram mais de 40% após Milei afirmar que tentaria privatizá-la.

Os bancos Grupo Supervielle, Banco Macro, Banco Bbva Argentina e Grupo Financiero Galicia subiram entre 8% e 15%, enquanto o ETF Global X MSCI Argentina, de US$ 50,8 milhões, valorizou-se mais de 11%.

No câmbio, o mercado de dólar oficial permaneceu fechado devido ao feriado argentino, enquanto o dólar paralelo, conhecido como "blue", chegou a recuar mais de 2% pela manhã, mas terminou o dia estável cotado a 950 pesos argentinos, segundo o jornal Clarín.

A expectativa, no entanto, é que o peso argentino continue sendo pressionado e se desvalorize ante o dólar na reabertura dos mercados na terça (21), mas a magnitude do impacto ainda gera dúvidas.

"O câmbio argentino está sob pressão da inflação. Por outro lado, o discurso de vitória de Milei foi moderado e politicamente positivo na sinalização de união para enfrentar a crise profunda. Isso pode moderar um pouco a pressão do câmbio argentino", afirma Nicolas Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

O economista afirma, no entanto, que a fase inicial de posse, até dezembro, ainda é de incerteza e volatilidade, e a taxa de câmbio deve refletir esses movimentos.

O operador de renda variável Gabriel Mota, da Manchester Investimentos, projeta que o dólar deve começar o dia em forte alta ante o peso argentino, mas também prevê cautela.

"Só vamos entender o impacto amanhã. O mercado está eufórico, mas a expectativa é que o dólar abra o dia se valorizando muito frente ao peso argentino, por conta de todo o discurso de dolarização que o Milei pretende implementar", diz Mota.

O peso perdia terreno nas bolsas de criptomoedas, observadas pelos investidores como um parâmetro do mercado paralelo. O preço de um tether —uma criptomoeda atrelada ao dólar— subiu para 1.120,40 pesos argentinos no domingo e era negociado a 1.067,90 nesta segunda-feira, em comparação com o preço de abertura de sexta-feira de 913,7, de acordo com o site da Binance.

Bruno Gennari, especialista em Argentina da KNG Securities, disse que a precariedade das reservas internacionais argentinas provavelmente forçará uma rápida desvalorização; o Morgan Stanley disse que espera um ajuste de pelo menos 80% do câmbio oficial da Argentina em dezembro.

Com Reuters

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