Descrição de chapéu Sabesp

Tarcísio quer licença para privatizar Sabesp em dezembro, mas estudos só vêm em janeiro

Governo não divulga estimativa de arrecadação e tarifa; oposição critica e especialistas se dividem sobre detalhamento

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São Paulo

O governo de São Paulo deve aprovar na Assembleia Legislativa a autorização para privatizar a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) sem divulgar números de quanto deve arrecadar para os cofres públicos com a medida.

Além disso, também não há detalhes sobre a suposta redução da tarifa caso a companhia vá para o controle privado, um dos argumentos principais usados pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) para justificar a venda.

O projeto que autoriza a desestatização da companhia deve ir à votação no começo de dezembro, nas contas dos parlamentares, e o governo tem maioria para aprovar a proposta na Assembleia.

Mas ainda não é possível saber quanto a venda vai reverter em dinheiro para o estado. O governo diz que os estudos que vão detalhar os valores saem só em janeiro.

Estação de tratamento de água da Sabesp no bairro Santo Amaro, em São Paulo
Estação de tratamento de água da Sabesp no bairro Santo Amaro, em São Paulo - Gabriel Cabral-26.jul.19/Folhapress

A oposição critica o expediente acelerado, e especialistas divergem entre quem diz que o projeto é um cheque em branco para o governo e quem defende que a autorização da Alesp não demanda esse detalhamento.

A ideia do governo é diluir a participação do estado na empresa, hoje de 50,3%, para uma fatia entre 15% e 30%, mas deve aprovar o projeto antes de detalhar qual será a participação —impossibilitando assim o cálculo da arrecadação possível. Também há detalhes de qual será o valor de referência da oferta pública das ações antes de encaminhar o projeto para discussão.

Em conversa com jornalistas na quinta (16) após audiência pública na Assembleia, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, afirmou que a participação final do governo na companhia será definida pelo Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização, que fará a modelagem da privatização.

Questionada sobre qual a estimativa de arrecadação, ela afirmou que "isso é também o que a gente está estudando agora". Como a empresa hoje tem 49,7% das ações listadas na bolsa, afirmou, o governo "sempre tem o cuidado de passar as novas informações junto com fatos relevantes para ter o cuidado com a CVM [Comissão de Valores Mobiliários]", evitando responder à pergunta da reportagem.

Outras privatizações de grande porte, no entanto, foram anunciadas já com expectativa de venda.

O governo Jair Bolsonaro (PL), do qual Tarcísio fazia parte, divulgava antes da venda a estimativa de movimentação de R$ 67 bilhões com a privatização da Eletrobras —o hoje governador paulista já citou a empresa como modelo para privatização da Sabesp.

Além disso, um dos argumentos principais da gestão em SP é o de que a tarifa paga pelo consumidor vai reduzir se a empresa for privatizada e aumentar se ficar sob controle estatal, diante da necessidade de aumentar investimentos para universalizar o saneamento.

Mas o governo ainda não apresentou números ou estimativas de quanto exatamente pode baixar ou aumentar.

Questionada sobre esses valores, Resende afirmou que a informação deve constar na próxima fase de estudos do IFC (International Finance Corporation), braço do Banco Mundial que recomendou a desestatização da empresa em pesquisa contratada pelo governo —o contrato previa uma remuneração cinco vezes maior para a companhia caso o veredito fosse pela privatização.

Segundo Resende, os estudos virão a público somente em janeiro —portanto depois da possível aprovação da licença para privatização pelos deputados.

"É o que a gente está calculando, essa redução é o objeto do estudo agora. O que a gente já colocou no PL, desde a primeira nota que a gente fez, foi essa diretriz, redução tarifária com foco no vulnerável", disse.

Segundo ela, "a lei tem de ter as diretrizes principais". "Muitas vezes, e isso acontece em várias leis, elas acabam entrando em matérias que são de estatuto de contrato, e muitas vezes isso não dá certo no futuro, não é o correto também no aspecto seja de [ação] legislativa, seja da própria eficiência das normas", disse Resende.

"No início do ano que vem a gente acaba fase 1 [do estudo do IFC], já mostra todos esses dados. E não precisa ter isso para você já fixar o mecanismo, já fixar as diretrizes", afirmou.

Para o especialista em finanças da FGV Ricardo Teixeira, como o projeto em discussão na Alesp se trata de uma autorização para que o governo prossiga com a venda de ações da companhia, não há necessidade estrita de detalhar valores e tarifa no texto da lei.

"Depois de aprovado é que começa a montagem", diz. "Se o número [estimativa de capitalização] sai muito alto antes de você ter um estudo mais aprofundado, isso inibe empresas e cria no mercado uma sensação de que ninguém vai comprar. Se sai muito baixo, há questionamentos de que não houve piso mínimo", afirma ele, justificando a necessidade de um estudo detalhado.

"O valor poderia ser apresentado agora, mas o mais importante é que esteja depois no edital [da privatização]", diz.

Já para o professor de gestão pública da mesma instituição Marco Antonio Teixeira, os deputados vão dar um cheque em branco ao aprovar a lei sem os detalhes. "O governo está apresentando um projeto que não está completo", diz.

"O preço da tarifa é um elemento crucial, e isso você não consegue saber rigorosamente porque ela está associada a fatores conjunturais, clima, investimento, que você não pode prometer agora", afirma.

Procurado, o governo afirmou que a autorização para a privatização na Alesp "não precisa necessariamente acontecer depois das definições de preço de venda das ações da Sabesp, ou das discussões tarifárias."

O Bandeirantes diz que a definição do preço de venda e a quantidade de ações oferecida é de responsabilidade do governador, após avaliação do conselho de desestatização, e que só poderá ser divulgada no momento de abertura da oferta pública. Por fim, o governo diz que as definições de redução da tarifa "estão sendo feitas neste momento".

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