Descrição de chapéu Sabesp

Audiência pública de privatização da Sabesp termina em bate-boca e protestos; assista

Governo afastou comparações com Enel; oposição duvidou de redução da tarifa

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São Paulo

A audiência pública que discutiu a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) na Assembleia Legislativa terminou em bate-boca nesta quinta-feira (16) entre manifestantes contrários e favoráveis à desestatização da empresa.

Centrais sindicais e movimentos sociais como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o Sindicato dos Metroviários, a Apeoesp (sindicato dos professores do estado), entre outros, se manifestaram contra a privatização na frente da Alesp com carro de som, e a Polícia Militar bloqueou uma das vias que dão acesso à Casa.

Pela direita, grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre) defenderam o projeto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para evitar atritos, os grupos entraram no prédio por acessos em diferentes ruas.

Manifestantes protestam a favor e contra privatização da Sabesp em audiência pública na Assembleia Legislativa de SP
Manifestantes protestam a favor e contra privatização da Sabesp em audiência pública na Assembleia Legislativa de SP - Thiago Amâncio/Folhapress

Dentro da Alesp, 132 pulseiras de acesso foram distribuídas para cada lado do debate. Com faixas a favor e contrárias à privatização, os manifestantes aplaudiam e vaiavam conforme o debatedor.

O presidente da Alesp, André do Prado (PL), ameaçou encerrar a audiência pública uma série de vezes caso o público não fizesse silêncio. A Polícia Militar precisou retirar alguns manifestantes do plenário.

Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, defendeu o projeto do governo.

Segundo ela, com redução da participação estatal de 50,3% para algo entre 15% e 30%, mas mantendo uma cota de "golden share" que permite vetos nas decisões do comando da empresa, a Sabesp poderá atrair investimentos para antecipar a universalização do saneamento e reduzir a tarifa paga pela população.

De acordo com Resende, sob o controle do estado a empresa tem capacidade de endividamento com lucro de R$ 31,2 bilhões. Capitalizando as ações do governo, o valor sobe para R$ 66 bilhões.

O argumento de reduzir a tarifa é um dos mais contestados entre os opositores da medida.

Amauri Pollachi, diretor na Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp e ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, apontou que o valor cobrado em São Paulo é mais baixo que o de outras cidades onde o serviço é privatizado no país: 56% a menos que no Rio e 87,4% que em Campo Grande.

A oposição ressalta que a empresa é superavitária e uma das maiores companhias de saneamento do mundo, de modo que não haveria motivos para vendê-la —em 2022, a Sabesp registrou lucro líquido de R$ 3,12 bilhões.

Em resposta, o líder do governo, Jorge Wilson (Republicanos), afirmou que sabe "que a Sabesp é uma empresa positiva, porém ela pode melhorar e muito".

A posição do governo é que as agências reguladoras vão continuar agindo sobre a empresa para garantir a qualidade do serviço prestado —argumento rechaçado pelos opositores, que afirmaram que as agências são capturadas pelas empresas que deveriam fiscalizar.

Em meio às comparações com o serviço prestado pela Enel, empresa privada que distribui energia na cidade de São Paulo e deixou mais de 2 milhões às escuras há 10 dias, Resende procurou se distanciar do modelo.

A secretária afirmou que a infraestrutura é subterrânea, não aérea, portanto menos exposta; que o impacto de interrupções é reduzido, já que há armazenamento em caixas d’água, o que não acontece no setor de energia (já que baterias são menos comuns) e que a regulação e fiscalização do saneamento é estadual, enquanto a da energia é federal.

A comparação, no entanto, foi reforçada em uma série de argumentos da oposição do projeto. "A Enel de hoje é a Sabesp de amanhã", disse Débora Lima, coordenadora do MTST, que discursou na audiência.

Outros momentos esquentaram o público, como quando o deputado Guto Zacarias (União Brasil), vice-líder do governo e membro do MBL, afirmou que a empresa faz um "trabalho porco".

Entre o público que discursou esteve ainda o ex-presidente da companhia de saneamento Gesner Oliveira, que defendeu a privatização da companhia. Já a presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, fez comparações com o alto índice de falhas das linhas privatizadas da CPTM, 8-Diamante e 9-Esmeralda.

A audiência pública ocorreu enquanto a Assembleia encaminha o projeto de privatização da empresa, agora no chamado "congresso de comissões", expediente usado pelos parlamentares para acelerar a tramitação de pautas prioritárias.

O tema deveria deveria passar separadamente em diferentes comissões, como a de Constituição, Justiça e Redação e a de Finanças, Orçamento e Planejamento, entre outras. O congresso de comissões, por sua vez, reúne os diferentes grupos para aprovar a proposta de uma vez só.

O grupo começou a se reunir na quinta-feira passada (9), mas, diante da possibilidade de aprovação, a oposição tentou arrastar ao máximo os trâmites, ao menos até que ocorresse a audiência pública.

O PT preparou um relatório para ser lido na audiência com 1.174 páginas, com longos trechos copiados da internet que explicam os estados da água, citando lendas chinesas e resgatando até a história da Mesopotâmia.

Em tom lento e pausado, a legenda arrastou a leitura por diferentes sessões, até chegar a um acordo na terça (14) com a situação e interromper a leitura do relatório —segundo os parlamentares, depois de atingir o objetivo de atrasar a votação até que ocorresse a audiência pública.

Agora, o projeto deve voltar a ser discutido no congresso de comissões na próxima terça (21) e ser discutido por duas sessões. Na semana seguinte, vai para o plenário, onde deve receber emendas e voltar ao congresso de comissões.

Pelo cronograma acertado entre os parlamentares, deve voltar ao plenário para ser votado por todos os parlamentares em 5 de dezembro.

Segundo a coluna Painel, os deputados governistas esperam votá-lo em 12 de dezembro. São necessários 48 votos dos 94 deputados para aprovar a privatização, que é feita por projeto de lei ordinária —a oposição judicializa o tema para tentar forçar o governo a mandar uma PEC, que exige três quintos dos votos.

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