Descrição de chapéu Sabesp

Oposição usa apagão em SP para fustigar privatização da Sabesp

Deputados da esquerda e bolsonaristas condenam Enel e traçam paralelo com privatização de saneamento

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São Paulo

O apagão em São Paulo que deixou 2,1 milhões de pessoas sem luz e provocou prejuízos em série serviu de munição para deputados estaduais contra a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), em pauta na Assembleia Legislativa.

A distribuição de eletricidade na região metropolitana é de responsabilidade desde 2018 da italiana Enel. Na sexta-feira (3), temporal com ventos de mais de 100 km/h afetou o fornecimento de energia.

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), por sua vez, tem buscado distanciar a crise do setor elétrico da tramitação da proposta de privatização da Sabesp.

Estação de tratamento de água da Sabesp no bairro Santo Amaro, em São Paulo
Estação de tratamento de água da Sabesp no bairro Santo Amaro, em São Paulo - Gabriel Cabral-26.jul.19/Folhapress

"Esse lamentável episódio deixa um alerta sobre o que pode acontecer com o serviço de água e esgoto de São Paulo se o [governador] Tarcísio [de Freitas (Republicanos)] levar à frente a loucura de vender a Sabesp", diz o deputado Emídio de Souza (PT).

Segundo ele, "o prejuízo que a Enel causou ao povo paulista é resultado da política privatista". "Estamos lutando, tomando medidas judiciais, apontando os atropelos desse processo e vamos seguir até barrar", afirma ele.

Emídio preparou um mandado de segurança, a ser apresentado ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) nesta quarta-feira (8), contra a privatização da Sabesp. O documento recebeu o apoio de 19 parlamentares do PT, PSOL e PCdoB.

Segundo o líder do partido na Alesp, Paulo Fiorilo, "as concessões realizadas no estado têm resultado muito ruim".

"Não é só a Enel, mas a ViaMobilidade [que gere as linhas 5 do Metrô e 8 e 9 da CPTM] na questão de transporte; a telefonia móvel, cuja cobertura não chega a todo o estado e ficam empurrando esse problema. No caso da Sabesp, a gente ainda pode corrigir isso", diz, citando o fato de que a empresa de energia "diminuiu o número de funcionários para aumentar o lucro".

Reportagem da Folha desta segunda-feira (6) mostrou que o número de funcionários caiu em 35% depois que a Enel assumiu a operação da energia elétrica em São Paulo, entre 2019 e 2022, mesmo período em que o lucro cresceu de R$ 777 milhões para R$ 1,4 bilhão.

Fiorilo afirma que reunião convocada por Tarcísio com empresas do setor elétrico na segunda "mostra que o governo sentiu o golpe".

O próprio governador criticou o contrato com a Enel e tentou afastá-lo da privatização da Sabesp na ocasião.

"A grande diferença é que a Sabesp vai continuar sendo a prestadora do serviço e o estado continua na Sabesp, com um contrato que vai ter muito claro quais são as obrigações contratuais. Não é um contrato aberto, não é um contrato frouxo. É um contrato muito descritivo em termos de servidões. Então, é um modelo absolutamente diferente desse modelo do setor elétrico", afirmou o governador.

Segundo a Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares de São Paulo), o apagão provocou prejuízos estimados na casa dos R$ 500 milhões no setor ao afetar quase 14 mil empresas de alimentação e turismo. A entidade representa 24 sindicatos patronais.

O paralelo entre privatização da Sabesp e qualidade do serviço prestada pela Enel não se restringiu à esquerda. Um grupo de economistas e advogados que integrou o governo Jair Bolsonaro (PL) deve procurar o STF (Supremo Tribunal Federal) contra a privatização da Sabesp, conforme informou coluna Mônica Bergamo.

Entre eles está o advogado Fabio Wajngarten, que comandou a Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro e defende que a empresa de saneamento é "um ativo estratégico do país".

"Em teoria, a privatização é maravilhosa. Bairros inteiros de São Paulo estão no escuro há mais de 30 horas", escreveu em rede social no fim de semana.

Em entrevista ao Painel, da Folha, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil) afirmou que "o ambiente [para a privatização] ficou ruim, piorou muito" após o apagão.

"É repercussão de um mau serviço depois de uma privatização", afirmou.

Relator do projeto de privatização da Sabesp na Alesp, o deputado Barros Munhoz (PSDB) defende a desestatização e afirma que a proposta para a companhia de saneamento é diferente do que ocorre com a Enel, que ele diz prestar "um serviço catastrófico em São Paulo."

"São coisas totalmente distintas. No caso da Sabesp, vamos criar um fundo de apoio ao saneamento básico e promover a universalização, porque os índices no Brasil são vergonhosos", afirma o deputado.

Munhoz diz também que o projeto deve ser aprovado na Casa até o começo do mês de dezembro.

O deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil), ativista do MBL (Movimento Brasil Livre) e também favorável à privatização da Sabesp, afirma que a oposição "usa o caso da Enel como espantalho".

Zacarias também critica a gestão da Enel, porque "manteve um monopólio privado". "O que eu defendo, principalmente em privatizações, é uma abertura comercial, que mais empresas possam entrar nesse mercado e criar competição", diz.

Em entrevista à Folha nesta segunda, o presidente da Enel, Nicola Cotugno, se defendeu das críticas e afirmou que a empresa não deve desculpas, porque o apagão ocorreu após vendaval que classificou como "absurdo".

"Não teve negligência nossa. Não é para nos desculparmos, não. Foi algo excepcional. Quando chega um furacão no Texas, o problema não é a empresa elétrica, é o furacão", disse.

"Aqui estamos acostumados com eventos menores. Mas, se olharmos de uma forma racional e não emocional, a gente está fazendo um trabalho incrível por um fenômeno pelo qual não tivemos controle", afirmou Cotugno.

Colaborou Thiago Bethônico

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