FMI eleva projeção de crescimento do PIB do Brasil em 2024, mas ritmo global será maior

Fundo estima que economia brasileira crescerá 1,7% neste ano; no mundo, previsão é de expansão de 3,1%

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São Paulo

O FMI (Fundo Monetário Internacional) melhorou a previsão de crescimento da economia do Brasil para 1,7% neste ano, um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao número anunciado em outubro do ano passado.

O órgão também alterou a previsão de crescimento da economia global para cima em 0,2 ponto percentual, subindo de 2,9% para 3,1%. As informações constam no relatório "World Economic Outlook" (perspectiva econômica global), do FMI.

A entidade internacional citou a demanda doméstica e crescimento acima do esperado de parceiros comerciais como razões para o aumento na expectativa do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Movimentação na rua 25 de março, em São Paulo
Movimentação na rua 25 de março, em São Paulo; expectativa do FMI é que economia do Brasil cresça 1,7% neste ano - Danilo Verpa - 22.dez.2023 / Folhapress

O estudo mantém a estimativa do relatório anterior de que a economia do Brasil cresceu 3,1% em 2023 e de que terá uma expansão de 1,9% em 2025.

"(A revisão para cima em 2024) deve-se principalmente a efeitos de carregamento estatístico de uma demanda doméstica mais forte do que o esperado e crescimento acima do esperado em grandes parceiros comerciais em 2023", disse o FMI no relatório.

Pelo mesmo motivo, segundo a entidade, houve uma revisão para cima em 0,6 ponto percentual da estimativa para o México, cujo crescimento está agora previsto em 2,7% para este ano.

Depois de surpreender no primeiro semestre de 2023 e mostrar resiliência no terceiro trimestre, analistas avaliam que a economia brasileira teria terminado 2023 rondando a estagnação em meio aos efeitos dos juros elevados, ainda que tenha se favorecido de um mercado de trabalho aquecido e alívio na inflação.

Desde agosto, o Banco Central reduziu a Selic de 13,75% para o atual patamar de 11,75%, e a expectativa é de mais um corte de 0,5 ponto nesta quarta-feira (31), em sua primeira decisão do ano.

O IBGE divulgará em 1º de março os dados do PIB no quarto trimestre e do acumulado de 2023. A estimativa do FMI para 2023 está em linha com os números do governo e do BC, que veem expansão de 3% no período. Já em 2024, o Ministério da Fazenda é mais otimista que o fundo internacional e espera aumento de 2,2%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou depois da divulgação do relatório que o governo está confiante de que é possível ter um ano com resultados acima das estimativas atuais. Disse que os números de janeiro até aqui estão "bastante razoáveis".

"A gente não gosta de ficar animado demais, porque às vezes o último dia surpreende, às vezes é um mês só. Mas, assim, nós entramos no ano confiantes de que nós podemos ter um ano acima das expectativas, como aconteceu em 2023", afirmou.

O ministro também disse acreditar que haverá uma tendência de corte nas taxas de juros no exterior e que isso pode impactar o cenário no Brasil. Nesta quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) volta se reunir e decide sobre o futuro da taxa Selic, com a expectativa de um corte de 0,5 ponto percentual

"Eu penso que o Banco Central está com uma agenda relativamente contratada [...] Eu penso que as notícias para o meio do ano são boas", afirmou o ministro.

"Muita gente tinha expectativa da queda da taxa de juros já em março nos Estados Unidos. Por tudo que eu ouvi, inclusive nas viagens que eu fiz, não me parecia o cenário mais provável. Mas no primeiro semestre me parece realista, me parece otimista o cenário de início do ciclo de cortes das taxas no exterior. Se isso acontecer, vai ser muito bom para o Banco Central, porque aí o horizonte dele pode mudar relativamente para melhor", completou.

Assim como havia feito no dia anterior, Haddad atribuiu à decisão do governo Lula de honrar com o pagamento dos precatórios, cobrindo o que chamou de "calote" do governo anterior, o fato de que a dívida pública ter chegado a R$ 6,5 trilhões.

Argentina puxa previsão da América Latina para baixo

Apesar das revisões positivas tanto para Brasil quanto para o México este ano, o cenário para a América Latina e Caribe piorou. A estimativa para o crescimento da região é de desaceleração de 2,5% em 2023 para 1,9% em 2024, com redução de 0,4 ponto percentual na conta para este ano. Em 2025, a economia da região deve se recuperar e ter expansão de 2,5%.

A Argentina foi quem teve a situação mais destacada. O país saiu de uma expectativa de expansão de 2,8% para uma contração de 2,8%, afetando o cenário para o crescimento na América Latina como um todo.

"A revisão para 2024 reflete contração na Argentina no contexto de ajustes significativos para restaurar a estabilidade macroeconômica", apontou o FMI.

Para 2025, no entanto, a instituição apresenta otimismo com as medidas econômicas do novo presidente, Javier Milei. Segundo o FMI, o país deve crescer 5% no ano que vem.

Já a perspectiva para as Economias de Mercados Emergentes e em Desenvolvimento, das quais o Brasil faz parte, melhorou em 0,1 ponto percentual para 2024, a 4,1%, mesma taxa de crescimento prevista para 2023.

"Pouso suave" no mundo

Em relação ao crescimento econômico global, o FMI elevou a projeção para este ano de 2,9%, no relatório de outubro do ano passado, para 3,1%. Para 2025, a expectativa do fundo é de um crescimento de 3,2%. A média histórica para o período 2000-2019 foi de 3,8%.

No relatório, o FMI apontou uma melhora das duas principais economias do mundo. Os Estados Unidos tiveram a previsão de 2,1% de crescimento (0,6 ponto percentual a mais do que o último relatório) e a China foi de 4,2% para 4,6% de expansão.

"Achamos que a economia global continua a demonstrar uma resiliência notável e estamos agora na descida final em direção a um 'pouso suave', com a inflação diminuindo de forma constante e o crescimento se mantendo", disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, que fez, porém, uma ressalva. "Mas a base da expansão continua mais lenta e pode haver turbulência à frente".

O FMI afirmou que a melhora das perspectivas foi sustentada por gastos públicos e privados mais fortes, apesar das condições monetárias restritivas, bem como pelo aumento da participação da força de trabalho, cadeias de abastecimento reparadas e preços mais baratos da energia e das matérias-primas.

O fundo projetou um crescimento do comércio global de 3,3% em 2024 e 3,6% em 2025, bem abaixo da média histórica de 4,9%, com os ganhos afetados por cerca de 3.000 restrições comerciais que foram impostas em 2023.

O FMI manteve a sua previsão de outubro de uma inflação global de 5,8% para 2024, mas reduziu a projeção para 2025 de 4,6% para 4,4%. "Excluindo a Argentina, que registrou um pico de alta de preços, a inflação global seria mais baixa", disse Gourinchas. Em dezembro, a inflação argentina atingiu 211% no acumulado dos últimos 12 meses, fazendo com o que o país se tornasse o país com o maior índice na América Latina.

As economias avançadas deverão registrar uma inflação média de 2,6%, uma queda de 0,4 ponto percentual em relação à previsão de outubro, com a inflação a caminho de atingir as metas dos bancos centrais de 2% em 2025. Em contraste, a inflação média seria de 8,1% nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento em 2024, antes de diminuir para 6% em 2025.

O FMI disse que os preços médios do petróleo cairão 2,3% em 2024, contra o declínio de 0,7% previsto em outubro, e que os preços deverão cair 4,8% em 2025.

De acordo com a autoridade monetária, os novos aumentos nos preços das commodities devido a choques geopolíticos, incluindo ataques contínuos ao transporte no Mar Vermelho, poderiam prolongar as condições monetárias restritivas. Gourinchas disse que o fundo está acompanhando os acontecimentos no Oriente Médio, mas o impacto econômico mais amplo permanece "relativamente limitado".

A zona do euro sofreu uma revisão para baixo e a expectativa agora é de crescimento de apenas 0,9% em 2024 e 1,7% em 2025, com a Alemanha, maior economia europeia, registrando expansão de apenas 0,5% em 2024, contra taxa de 0,9% prevista em outubro.

Com informações da Reuters

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