Magnata do petróleo quer afastar má fama e atrair jovens de volta para o setor

Harold Hamm e uma série de empresas tentam driblar visão negativa das novas gerações para evitar déficit de profissionais

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Jamie Smyth Ian Johnston
Nova York e Londres | Financial Times

Harold Hamm, magnata do xisto dos EUA, lidera tentativas de atrair jovens cada vez mais céticos para a indústria de petróleo e gás enquanto preocupações com o clima e perspectivas de longo prazo afetam a atratividade do setor para profissionais qualificados.

"Vamos usar petróleo nos próximos 50 anos e gás natural de 'queima limpa' provavelmente nos próximos 100 ou 150 anos. Queremos ter a próxima geração de inovadores", disse o empresário, que recentemente doou US$ 50 milhões (R$ 243 milhões) para estabelecer o Hamm Institute for American Energy na Universidade Estadual de Oklahoma.

O pioneiro de 78 anos liderou uma revolução do xisto que durou duas décadas e transformou os Estados Unidos no maior produtor de petróleo e gás do mundo.

Harold Hamm,da Continental Resources, magnata do xisto dos EUA - Continental Resources via Reuters

Mas agora que o mundo chegou a um acordo para "transição dos combustíveis fósseis" na conferência climática COP28 da ONU em dezembro, ele e outros líderes do setor voltaram sua atenção para lidar com a queda no número de candidatos para o curso de engenharia de petróleo e outros relacionados nos EUA e na Europa.

O Instituto Hamm é uma das várias iniciativas que visam afastar percepções negativas do setor.

Em 2022, a ExxonMobil doou US$ 16,4 milhões para universidades em todo o mundo, e a Chevron ajudou a estabelecer um programa de empregos nos EUA chamado SkillsReady para preparar e atrair trabalhadores para os setores de petróleo e gás.

Os gigantes do petróleo Shell e BP oferecem bolsas de estudo e programas de ensino para atrair mais jovens para o setor.

A Shell também liderou esforços em plataformas populares entre os jovens, como TikTok e Twitch, para promover seus produtos.

Mas essas empresas enfrentam um desafio formidável.

O número de matrículas em cursos de engenharia de petróleo, a maior parte nos EUA, caiu de 7.046 em 2019 para 3.911 no ano passado, de acordo com um estudo de Lloyd Heinze, professor emérito da Texas Tech University.

Algumas faculdades nos EUA e na Europa retiraram cursos focados em petróleo e gás de seus currículos, enquanto outras estão reestruturando grades para incluir energia verde.

Preocupações públicas cada vez maiores sobre as mudanças climáticas estão causando uma reação contra as indústrias de petróleo e gás em alguns campi, especialmente na Europa.

Em novembro, a Universidade de Swansea se tornou a sétima do Reino Unido a proibir empresas de combustíveis fósseis de anunciar para estudantes em feiras de carreira.

A adesão mundial à Society of Petroleum Engineers, um grupo do setor, caiu de 168.125 em 2015 para 119.120 em 2022, enquanto a idade média dos membros profissionais aumentou de 45 para 48 anos no mesmo período.

"[Os estudantes] têm sido informados há muito tempo que o petróleo e o gás estão desaparecendo e estão preocupados com a possibilidade de terem carreiras no longo prazo", disse Jennifer Miskimins, coordenadora do curso de engenharia de petróleo na Colorado School of Mines.

Ela disse que a escassez de mão de obra qualificada já está tendo um impacto e algumas empresas disseram à faculdade que não estavam atingindo as "metas de contratação".

As preocupações com a escassez de habilidades ocorrem em meio à produção recorde e a um boom de fusões e aquisições nos EUA, onde as empresas preveem uma demanda robusta por combustíveis fósseis por décadas.

Alguns especialistas preveem que as empresas precisarão reformular os modelos de recrutamento se quiserem continuar a extrair petróleo e buscar novas oportunidades, como a captura e armazenamento de carbono.

Preços altos do petróleo, como os de 2022, quando o petróleo bruto atingiu mais de US$ 130 por barril, geralmente levam a um aumento na matrícula de cursos de engenharia de petróleo nos EUA, de acordo com Heinze, que pesquisa as matrículas de engenharia de petróleo em faculdades dos EUA.

Mas houve um "desacoplamento" entre os preços do petróleo e a matrícula no ano passado, disse.

"Até os últimos cinco anos, o número de matrículas acompanhou os preços do petróleo. Agora, [com] as mudanças climáticas, o que está acontecendo com os combustíveis fósseis, isso se tornou uma influência cada vez maior."

Profissionais qualificados, como soldadores, trabalhadores de plataformas e operadores de equipamentos pesados, que são essenciais para manter a produção de petróleo e gás, também estão em falta.

Mike Rowe, que dirige uma fundação de educação profissional, disse que, por décadas, a sociedade tem constantemente desvalorizado a educação em nível não universitário.

"Você tem uma geração inteira de jovens que não acredita que é possível ganhar um salário de seis dígitos trabalhando com as mãos, mas isso não é verdade. Minha fundação treinou talvez 700 soldadores e a maioria deles ganha seis dígitos."

A escassez de mão de obra qualificada no setor é um problema global. No Reino Unido, onde o primeiro-ministro Rishi Sunak anunciou recentemente que as rodadas de licenciamento para explorar reservas de petróleo em declínio no Mar do Norte se tornariam anuais, há preocupações com a escassez de profissionais das áreas de perfuração, geociência e também para soldadores.

"Você não ficará sem petróleo, ficará sem pessoas para operar os ativos e produzir petróleo", disse Ken Pereira, diretor administrativo da Hibiscus Petroleum, uma produtora de petróleo e gás da Malásia que recentemente obteve uma licença no Mar do Norte.

O impacto do envelhecimento da força de trabalho e da falta de novos trabalhadores afetaria a indústria em cerca de uma década, disse ele, citando uma percepção de falta de segurança no emprego e preocupações ambientais crescentes.

Menos novatos também retardariam o desenvolvimento de tecnologias como captura e armazenamento de carbono, que requerem funcionários com habilidades semelhantes, de acordo com Katy Heidenreich, diretora de cadeia de suprimentos e pessoas da Offshore Energies UK, órgão comercial britânico.

"Há um número cada vez menor de universidades que oferecem esses cursos e essa é uma área de preocupação real."

Isso inclui o Imperial College London, que ministra cursos relacionados ao petróleo desde a década de 1910.

Para Martin Blunt, professor do departamento de ciências da terra e engenharia do Imperial College, e que liderou a mudança da universidade da engenharia de petróleo para um novo curso de mestrado combinando geoenergia com aprendizado de máquina e ciência de dados, a situação é mais complexa do que uma reação verde liderada pelos jovens aos combustíveis fósseis.

Houve um "colapso nas matrículas" após a Covid-19, mas também houve uma "tendência permanente de muito poucos empregos", disse.

Heidenreich acredita que o setor, que normalmente contrata e demite em períodos de boom e recessão, precisa de mais "planejamento de longo prazo".

"A indústria do petróleo precisa parar de reclamar sobre isso e precisa mostrar que está oferecendo o tipo de interesse e recompensas financeiras que você vê na indústria de alta tecnologia", acrescentou Blunt, professor do Imperial College.

Embora a Society of Petroleum Engineers espere que sua associação aumento mesmo com a entrada de estudantes nos cursos relacionados em níveis historicamente baixos, ela afirma que mais precisa ser feito para atrair jovens em um mercado muito competitivo.

"Nosso setor é tão atraente quanto a ciência da computação, alta tecnologia ou aeroespacial? Fazemos muitas coisas legais, mas tornar isso público é [importante]", disse Terrence Palisch, presidente da sociedade.

Hamm, que organizou uma conferência inaugural no novo campus do Hamm Institute em setembro, disse que houve uma mudança no debate sobre combustíveis fósseis no último ano que ele acredita que atrairá mais estudantes para o setor: o foco renovado na segurança energética após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Não poderia ajudar quando todos estavam defendendo a eliminação dos combustíveis fósseis e tudo isso, mas isso foi um período breve."

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