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Boeing enfrenta série de falhas e deve diminuir produção de modelo de avião que perdeu janela durante voo

Empresa enfrenta nova falha cinco anos após dois acidentes que mataram mais de 300 pessoas

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Julie Johnson
Bloomberg

Furos errados, parafusos soltos em equipamentos e agora uma janela que se soltou durante o voo em uma aeronave nova, deixando passageiros aterrorizados expostos a um buraco aberto na cabine a 16.000 pés (4.900 metros).

Em alguns meses, a Boeing sofreu uma série de falhas de qualidade que ameaçam minar a confiança na capacidade de fabricação do maior exportador dos EUA —especialmente sua aeronave 737 Max, um dos principais modelos da companhia.

O incidente mais recente ocorreu na noite da última sexta-feira (5), quando um painel em forma de porta se soltou enquanto um Boeing 737 Max 9 da Alaska Airlines decolava em Portland (EUA). As autoridades reagiram rapidamente, suspendendo 171 variantes em menos de 24 horas, incluindo toda a frota de 737 Max 9 nos EUA.

Porta cai durante voo da Alaska Air e gera suspensão de trajetos com o modelo Boeing 737 Max 9
Janela cai durante voo da Alaska Airlines e gera suspensão de trajetos com o modelo Boeing 737 Max 9 - Instagram/@strawberrvy/via Reuters

Embora ninguém tenha ficado gravemente ferido, as autoridades disseram que a sorte desempenhou um grande papel para que o evento não se tornasse uma tragédia.

As ações da Boeing caíram 7,9% nas negociações pré-mercado nos EUA nesta segunda-feira (8), enquanto os investidores avaliavam impactos na produção e perspectivas de longo prazo da fabricante de aviões. A fornecedora Spirit AeroSystems, que instalou o painel no avião quase novo, teve uma queda de 16% em seus papéis no mercado financeiro.

Para o CEO da Boeing, Dave Calhoun, o episódio da Alaska Airlines é mais um golpe em seus esforços para estabilizar a empresa após meio século de turbulência e ocorre apenas alguns dias no início do ano que ele havia anunciado como crucial para uma reviravolta.

A Boeing ainda sente as repercussões de dois acidentes fatais do 737 Max há quase cinco anos, que abalaram a confiança na empresa. Em outubro de 2018, um modelo da aeronave comprado pela Lion Air caiu na Indonésia, sem causa aparente. Cinco meses depois, outro 737 Max, agora operado pela Ethiopian Airline, caiu na Etiópia. Os acidentes mataram 346 pessoas.

Agora, o relacionamento conturbado da Boeing com a Spirit, seu maior fornecedor, está sujeito a uma nova análise.

À medida que a crise de confiança se aprofundou durante o fim de semana, Calhoun cancelou o encontro anual de liderança sênior da Boeing, que deveria começar nesta segunda-feira. O CEO também convocou os funcionários para uma reunião geral a ser transmitida pela web na fábrica de 737 da Boeing na terça-feira (9), na qual ele e outros executivos abordarão a quase tragédia em Portland e reforçarão o compromisso da Boeing com a segurança, qualidade, integridade e transparência.

"Situações como essa são um lembrete de que devemos continuar focados em melhorar a cada dia", disse Calhoun aos funcionários em uma mensagem para toda a empresa nesse domingo (7).

As investigações estão em andamento para descobrir o que deu errado com o Max 9 da Alaska, que estava em funcionamento há menos de dois meses. A fabricante de aviões também está preparando uma mensagem para múltiplos clientes, estabelecendo as inspeções que serão necessárias antes que grande parte da frota do Max 9 possa retomar os voos.

Companhias aéreas que mais compraram o Boeing 737 Max 9

Empresa Número de aviões
United Airlines 79
Alaska Airlines 65
Copa Airlines 29
Outras companhias 26
Aeroméxico 19

Fonte: FlightRadar 24 e companhias aéreas

"Espero que eles cheguem rapidamente às causas e vejam se foi realmente um caso isolado", afirmou Richard Healing, ex-integrante do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes nos EUA (NTSB, da sigla em inglês), que agora dirige a empresa de consultoria Air Safety Engineering. "Se foi apenas aquele avião, pode ter havido um trabalho malfeito quando eles fecharam aquela porta. Eu estaria olhando para tudo o que você possa imaginar."

Investigações sobre o acidente

A NTSB, que chegou em Portland em poucas horas, examinará o processo de fabricação da Boeing para o Max 9 enquanto investiga o que pode ter levado à soltura da janela. A atenção ficará para os componentes ao redor da abertura da janela, incluindo dobradiças e fixações de parada, bem como a pressurização, disse Jennifer Homendy, presidente da agência de segurança, em uma coletiva de imprensa no sábado (6).

Uma ex-subsidiária da Boeing, com sede em Wichita, constrói cerca de 70% da estrutura do 737, segundo o site da Spirit. As fuselagens de alumínio verde são enviadas de trem para a fábrica da Boeing em Renton, onde as asas, caudas e interiores são instalados. A etapa inclui diferentes configurações de cabine, dependendo da densidade de assentos.

Na versão maior do Max 9, os clientes podem optar por saídas de emergência adicionais para que as cabines possam acomodar mais assentos. A Alaska Airlines e a United Airlines optaram por cobrir a abertura em forma de porta com uma tampa que é indistinguível do interior do avião.

Healing comentou que os investigadores provavelmente investigarão como as portas são fechadas e até questionarão por que existem se podem se abrir.

A janela é fixada por quatro parafusos e se abre para fora do topo, de acordo com Chris Brady, ex-presidente do Comitê de Segurança de Voo do Reino Unido.

"Algo deve ter dado errado com pelo menos um desses parafusos", afirmou em um vídeo postado no Youtube.

A Spirit tem enfrentado problemas de qualidade, alta rotatividade de funcionários, conflitos trabalhistas e estresse financeiro desde a pandemia de Covid-19 e a suspensão das operações do Max em 2019, que só foram retomadas em novembro de 2020. O novo CEO, Pat Shanahan, está realizando mudanças e fechou um novo acordo com a Boeing para colocar seu principal fornecedor em uma posição melhor.

Histórico problemático

O susto da Alaska Airlines levou os reguladores dos EUA a ordenarem inspeções de emergência em cerca de 171 modelos Max 9 da Boeing em todo o mundo. Embora a interrupção das viagens aéreas provavelmente seja de curta duração —as inspeções levam de quatro a oito horas por avião— as repercussões provavelmente ainda estarão ativas quando Calhoun apresentar seu plano deste ano aos investidores durante uma teleconferência de resultados em 31 de janeiro.

Boeing 737 Max 9 usado pela United Airlines
United Airlines é a companhia aérea que mais comprou o modelo 737 Max 9, com 79 aeronaves - Reuters

"Não é bom para ninguém, especialmente dado o histórico desta aeronave", avaliou Richard Aboulafia, diretor administrativo da consultoria de aviação AeroDynamic Advisory. "Em segundo plano, há uma grande necessidade de mudanças culturais que aproximem a alta administração corporativa do projeto e fabricação de aeronaves."

A Boeing disse que apoia a suspensão e que está em contato próximo com o regulador e com os clientes. Uma equipe técnica da fabricante de aviões está acompanhando a investigação. Por sua vez, Calhoun, que lidera a Boeing desde o início de 2020, havia alertado anteriormente que o caminho para um futuro melhor seria turbulento.

"Quando definimos nossos planos de recuperação, sabíamos que surgiriam problemas ao longo do caminho", disse o CEO em um memorando aos trabalhadores no final de outubro de 2023. "Este é um negócio complexo de longo prazo e a mudança duradoura leva tempo."

É prematuro para saber o que causou a falha no equipamento durante o voo da Alaska Airlines e se a Boeing ou a Spirit cometeram erros críticos. A Boeing tem a responsabilidade final de garantir que uma aeronave esteja em condições de voo. Cada avião na montagem final passa por testes de pressão para encontrar vazamentos e garantir que as portas e janelas estejam seladas. E, após as tragédias do Max, os inspetores da Administração Federal de Aviação dos EUA devem aprovar antes que os aviões sejam entregues aos clientes.

Produção deve diminuir

Uma das consequências do incidente da Alaska Airlines pode ser uma redução no ritmo de fabricação do 737 do que a Boeing havia planejado para o ano. A fabricante enfrenta uma pressão imensa para retomar sua produção aos níveis de 2019 (pré-pandemia) em um momento em que os clientes estão solicitando pelas aeronaves mais recentes e os investidores esperam um aumento na geração de caixa.

Antes do incidente de sexta-feira, os analistas previam que a Boeing entregaria cerca de 580 jatos da série 737 neste ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Isso representa um salto considerável em relação às 375 a 400 entregas que a empresa tinha como meta para 2023.

Um aumento nas entregas também impulsionaria a Boeing para seu primeiro lucro anual desde que Calhoun assumiu como CEO.

"Há o risco de ter que diminuir o ritmo", disse Aboulafia. "As consequências podem ser demoradas e uma queda nos recursos", analisou.

Enquanto a crise mais recente do Max se desenrolava, o chefe de aviões comerciais da Boeing, Stan Deal, e o vice-presidente sênior de vendas, Brad McMullen, lideraram equipes que mantiveram contato com os clientes para mantê-los informados sobre as atitudes após o acidente.

Horas antes da ação da FAA, a United Airlines, a maior operadora da variante Max 9, já havia começado a retirar os aviões de serviço sob a orientação da Boeing, começando com cinco Max 9 construídos em um período semelhante ao do avião da Alaska Airlines.

Isso está de acordo com a filosofia de gestão de Calhoun, e com a responsabilidade e recursos direcionados para as principais unidades de negócios da empresa. O CEO da Boeing não percorre as fábricas como Dennis Muilenburg, seu antecessor e que era um funcionário de longa data da Boeing e engenheiro de formação que foi forçado a sair após os dois acidentes ocorridos no fim da década passada.

Calhoun descreveu 2024 como um "ano de transição importante" para os funcionários quando apresentou Stephanie Pope como diretora de operações da empresa no mês passado. Orientar a problemática fabricante de aviões por esse período acaba de se tornar muito mais difícil para Calhoun e Pope, a favorita para sucedê-lo.

"Se a Boeing não estabilizar suas fábricas, vender aviões será um problema —se já não for", disse o analista da Bloomberg Intelligence, George Ferguson. "Você tem que ter zero defeitos o tempo todo. Esse é o negócio."

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