Descrição de chapéu China Estados Unidos

China e EUA se atacam, mas retomam diálogo econômico

Secretária do Tesouro cobra 'excesso de capacidade' chinesa; Pequim vê 'abuso do pretexto de segurança nacional'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Pequim

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, se reuniu na tarde de sexta (5), horário local, com o vice-primeiro-ministro da China, He Lifeng, em Guangzhou, no sul. Ele é o principal representante chinês para as relações econômicas entre os dois países.

Não foi divulgado o conteúdo da conversa, que prossegue no sábado. A secretária, em sua segunda visita desde que assumiu o cargo, parte em seguida para Pequim, onde deve ter reuniões com o primeiro-ministro Li Qiang, com o ministro das finanças, La Fo'an, e com o presidente do banco central, Pan Gongsheng.

Ela só deve apresentar um balanço dos encontros na segunda (8) à noite. Dependendo do andamento das negociações, poderá também ser recebida pelo líder Xi Jinping.

A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, fala durante um evento da Câmara Americana de Comércio na China - REUTERS

Pouco antes de se reunir com He, Yellen voltou a ressaltar que abordaria o "excesso de capacidade" de produção industrial da China em energia limpa, citando carros elétricos, painéis solares e baterias sendo exportados a preços baixos, como efeito de apoio governamental.

Procurou apresentar o tema como uma preocupação não só dos EUA, mas da União Europeia e de países como México e Índia. Falando a empresários de seu país em Guangzhou, acrescentou que trataria nos encontros de supostas "ações coercitivas contra empresas americanas".

Horas após o discurso de Yellen, a agência Xinhua divulgou "comentário", usualmente entendido como resposta semi-oficial do governo chinês, abordando uma passagem da secretária --em que ela disse ter vindo "promover uma relação econômica saudável, que proporcione condições equitativas para os trabalhadores e as empresas americanas".

A Xinhua questiona: "Não é Washington que deveria se livrar da prática de abusar do pretexto de segurança nacional para acotovelar as principais empresas chinesas de alta tecnologia e energia limpa?".

Acrescenta que "o modus operandi para Washington parece ser alinhar incansavelmente tudo a seus próprios interesses, enquanto desconsidera as preocupações dos outros". Porém, "dito isso, a viagem de seis dias de Yellen ainda é um bom sinal de que as duas maiores economias estão comprometidas em manter o ímpeto de comunicação e coordenação".

Em telefonema de mais de uma hora na terça (2) com o presidente Joe Biden, Xi já havia afirmado que, ao tomar "medidas para suprimir o comércio e o desenvolvimento tecnológico da China", os EUA "criam riscos" e "a China não vai ficar sentada observando".

Nos dias anteriores à visita, Yellen chegou a declarar que "não gostaria de descartar outras possíveis maneiras de proteger" a indústria americana de energia limpa, que vem recebendo incentivos do governo Biden, do excesso de capacidade chinesa.

A declaração foi entendida como uma referência a tarifas, como aquelas impostas e novamente prometidas pelo ex-presidente e candidato Donald Trump. Já em Guangzhou, mais contida, ela procurou apresentar a questão como de interesse da própria China.

"Eu gostaria de ressaltar que essa não é uma política anti-China, mas um esforço nosso para mitigar os riscos do deslocamento econômico global que resultaria, se a China não ajustar suas políticas", disse. "Como economista, penso que uma mudança na política seria realmente benéfica para a China."

Lembrou que a própria Conferência Central de Trabalho Econômico, evento anual presidido por Xi em dezembro passado, apontou excesso de capacidade como um problema, ainda que não tenha definido em quais áreas.

Segundo o texto final da conferência, divulgado então, "para reanimar ainda mais a economia, a China ainda precisa superar algumas dificuldades e desafios, incluindo excesso de capacidade em alguns setores".

Serviços financeiros ocidentais como Bloomberg e Economist Intelligence Unit avaliam que há excesso de capacidade chinesa em painéis solares e baterias, como mencionado por Yellen, mas não carros elétricos, cujos preços baixos se deveriam mais à "eficiência".

Nos dias que antecederam a chegada da secretária, jornais como Global Times e China Daily haviam publicado críticas às suas declarações, sobretudo quanto a carros elétricos. Um dos argumentos foi que "sua fatia de mercado nos EUA é de 0%". Na União Europeia, 8%, "e os carros europeus representam 20% do mercado chinês".

Em televisão e mídia social, após a chegada, o tom foi mais simpático a Yellen. Seu jantar no restaurante de uma cadeia tradicional de comida cantonesa ganhou atenção na rede CCTV e na plataforma Weibo, com elogios à habilidade em comer com pauzinhos e até aos pratos que escolheu.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.