Taiwan recusa oferta de ajuda da China após terremoto

Presidente eleito, por outro lado, indica aceitar assistência do Japão, ressaltando 'fortes laços'

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Pequim

O governo de Taiwan recusou a oferta de ajuda feita pelo regime da China após o terremoto que atingiu a ilha na última quarta-feira (3), deixando pelo menos dez mortos e mais de mil feridos.

Via agência estatal Xinhua, o Escritório de Assuntos de Taiwan, órgão de Pequim voltado às relações com a ilha, havia expressado "sinceras condolências aos compatriotas afetados pela catástrofe" e o "desejo de prestar ajuda".

Por meio da agência estatal CNA, o Conselho de Assuntos Continentais, órgão de Taipé para as relações com Pequim, respondeu: "Nós agradecemos muito a preocupação, mas não há necessidade de o lado continental nos ajudar no socorro."

Equipe de resgate busca pessoa desaparecida em montanha em Hualien, no leste de Taiwan, local mais atingido pelo terremoto
Equipe de resgate busca pessoa desaparecida em montanha em Hualien, no leste de Taiwan, local mais atingido pelo terremoto - Serviços de Emergência do Condado de Pingtung - 4.abr.2024/AFP

A China reivindica Taiwan como parte inalienável de seu território e também o direito de falar em seu nome no cenário internacional, para a fúria de Taipé, uma vez que a República Popular da China nunca governou a ilha e não tem voz na escolha de seus líderes.

Posteriormente, citando o representante chinês na ONU, Geng Shuang, que teria agradecido à comunidade internacional pela preocupação com a "Taiwan da China", a diplomacia de Taipé disse à agência de notícias Reuters que "condena o uso desavergonhado do terremoto pela China para conduzir operações cognitivas", de suposta guerra psicológica.

Em contraste, o presidente eleito de Taiwan e atual vice-presidente, Lai Ching-te, agradeceu em mídia social à mensagem do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida.

"Ao povo de Taiwan, estou profundamente triste e gostaria de expressar minhas mais sinceras condolências", escreveu Kishida em japonês, no X, lembrando "o apoio caloroso" que o Japão recebeu dos "queridos amigos taiwaneses" após dois terremotos no Japão.

Lai Ching-te respondeu, também em japonês, dizendo que as palavras de Kishida "aquecem os corações" dos taiwaneses e simbolizam os fortes laços entre os dois países. "Vamos continuar nos ajudando e dando as mãos para superar os obstáculos", afirmou.

Taiwan foi colônia do Japão por 50 anos, até 1945, e este voltou a se aproximar da ilha, inclusive militarmente, com o governo do Partido Democrático Progressista (PDP), de Lai e da atual presidente, Tsai Ing-wen. Eleito em janeiro, Lai toma posse no próximo dia 20 de maio.

Após o terremoto, Lai esteve em Hualien, a cidade mais atingida, na costa leste da ilha, acompanhando as ações de assistência. O local fica a 120 km em linha reta a sudeste de Taipé e concentra todas as mortes registradas em decorrência do tremor. Hualien vota historicamente no principal partido de oposição, Kuomintang, e a resposta do governo do PDP ao terremoto é vista como um teste para Lai.

O terremoto de magnitude 7,2, segundo a Agência Meteorológica de Taiwan (7,4 segundo órgão semelhante dos Estados Unidos, e 7,5, de acordo com o do Japão) foi o mais forte em 25 anos na ilha. O tremor com epicentro no leste do território insular chegou a gerar alertas de tsunami no Japão, nas Filipinas e na China continental.

Na quarta-feira, um helicóptero resgatou seis pessoas ilhadas em um penhasco na região de uma pedreira. A área é próxima do epicentro do sismo, que ocorreu também em Hualien.

As equipes de resgate ainda procuram cerca de 660 pessoas desaparecidas, que podem estar presas em túneis e áreas cujos acessos foram cortados por deslizamentos e pela destruição de estradas. O Ministério da Agricultura taiwanês pediu às pessoas que se afastassem das montanhas devido ao risco de deslizamentos e do acúmulo de água por trás de detritos instáveis.

Um vídeo também mostrou enfermeiras em uma maternidade de Taiwan protegendo recém-nascidos durante o terremoto. Nas imagens, as profissionais, assim que percebem os tremores, rapidamente agrupam os berços juntos no centro da sala, cobrindo-os com seus corpos para evitar que caíssem.

Apesar dos vários danos causados, o terremoto desta quarta fica muito longe de se equiparar, em quantidade de vítimas, ao de 25 anos atrás. Em setembro de 1999, um abalo de magnitude 7,6 matou quase 2.400 pessoas e fez Taiwan rever suas regras de segurança de construções para terremotos. Para especialistas, esse rigor contribuiu para reduzir o número de mortes agora.

Com Reuters

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