Descrição de chapéu Folhainvest

Dólar tem novo salto e supera os R$ 5,26 com temores sobre meta fiscal e Fed

Mudança de meta no Brasil e perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos pesam no câmbio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcelo Azevedo Luana Franzão
São Paulo

O dólar registrou sua quinta sessão consecutiva de alta e saltou 1,65% nesta terça-feira (16), terminando a sessão cotado a R$ 5,268, ainda operando em seu maior valor desde março de 2023.

A divisa segue beneficiada por temores do mercado sobre a trajetória fiscal do Brasil, o adiamento das apostas de cortes de juros nos EUA e o aumento das tensões no Oriente Médio. Na máxima do dia, o dólar bateu os R$ 5,287.

O cenário também foi negativo para a Bolsa brasileira, que terminou o dia em baixa de 0,75%, aos 124.388 pontos, pressionada principalmente por recuo da Vale, a empresa de maior peso no Ibovespa, acompanhando a fragilidade do minério de ferro no exterior.

Mais cedo, a Petrobras chegou a operar em queda, mas virou para alta conforme os preços do petróleo Brent se recuperaram.

Operador observa tela com flutuações do mercado financeiro na B3
Operador observa tela com flutuações do mercado financeiro na B3 - Amanda Perobelli/Reuters

Investidores também repercutiram nesta terça um pronunciamento do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, que afirmou que os últimos dados mostram uma inflação mais forte que o esperado nos Estados Unidos. Segundo ele, o Fed provavelmente precisará de mais tempo para ter confiança de que a inflação está caminhando para a meta de 2%.

"Os dados recentes claramente não nos deram maior confiança e, em vez disso, indicam que provavelmente levará mais tempo do que o esperado para alcançar essa confiança", disse Powell durante um evento realizado no The Wilson Center, em Washington.

Quanto menos o Fed cortar os juros diante de uma economia resiliente, melhor para o dólar, que se torna mais atraente para investidores estrangeiros quando os rendimentos oferecidos pelo mercado norte-americano ficam mais altos.

A escalada das tensões no Oriente Médio colabora para o ambiente de aversão ao risco, com investidores recorrendo a títulos de maior percepção de segurança. O cenário pressiona a curva de juros americana, e os títulos com vencimento em dez anos apresentam alta: os chamados "treasuries" iam de 4,60% para 4,66% no fim da tarde.

Nos Estados Unidos, os principais índices operaram próximos da estabilidade durante quase toda a sessão. Ao fim do dia, o S&P 500 e o Nasdaq caíram 0,21% e 0,12%, respectivamente, e o Dow Jones subiu 0,17%.

No cenário doméstico, as discussões sobre o arcabouço fiscal permanecem no radar, após o governo ter diminuído a meta de resultado primário em 2025 para zero.

A meta anterior, de superávit de 0,5%, era vista com ceticismo pelo mercado. A mudança do objetivo, no entanto, diminuiu a confiança de investidores na nova regra fiscal, como aponta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

"Isso mostra que o desenho do projeto fiscal central do governo foi feito com metas que ele próprio já está sabendo que não vai bater. Tira um pouco da credibilidade, porque eles precisam mudar a meta para não sofrer as sanções que o próprio desenho do projeto do arcabouço fiscal estaria impondo", afirma a economista.

"Do ponto de vista prático, [a mudança da meta fiscal] para o mercado é ruim. O mercado vê uma falta de confiança do governo na sua própria capacidade de gestão fiscal", disse Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. Ele lembra, no entanto, que boa parte dos investidores não considerava as metas anteriores realistas.

Nesta manhã, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que economistas aumentaram sua previsão para a Selic pela primeira desde o fim de 2023. Agora, a previsão para a taxa no fim do ano é de 9,13%, ante 9% em boletins anteriores.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.