Dólar atinge maior valor em mais de um ano com dados dos EUA e mudança na meta fiscal

Moeda fecha sessão cotada a R$ 5,18 e segue beneficiada por juros americanos

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São Paulo

O dólar registrou alta de 1,19% e encerrou o dia cotado a R$ 5,182 nesta segunda-feira (15), seu maior valor desde março de 2023.

Preocupações sobre o aquecimento da economia americana permanecem como principal catalisador, mas a divisa acelerou ganhos e chegou a bater os R$ 5,214 na máxima da sessão após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter confirmado que o governo vai definir uma meta de resultado primário zero em 2025.

A aceleração, no entanto, também coincidiu com forte piora no humor externo, com os principais índices de Wall Street virando para o negativo.

A moeda chegou até a registrar leve queda no início do dia, num movimento visto como realização de lucros após o salto da semana passada, mas reverteu as perdas depois que dados mostraram alta bem mais intensa do que o esperado nas vendas no varejo dos Estados Unidos em março.

As vendas no varejo norte-americano aumentaram 0,7% no mês passado, ante projeção de 0,4% feita por economistas consultados pela Bloomberg.

Os novos números esfriaram ainda mais as apostas sobre cortes de juros nos EUA e causaram uma disparada dos rendimentos dos títulos do Tesouro americanos, refletida no salto do dólar. No fim da tarde, os papéis americanos com vencimento de dez anos iam de 4,52% para 4,60%.

"Quando você tem uma taxa de juros elevada em um país considerado extremamente seguro, a tendência é que cada vez mais capital vá para lá. Como uma economia aquecida, uma taxa de juros ainda muito alta, o fluxo de capital continua, fazendo com que haja uma apreciação da moeda, não só perante o real, mas perante os outros pares também", afirma Gabriel Meira, assessor de investimentos da Valor.

Notas de dólar em frente a gráfico de ações - Dado Ruvic - 8.fev.2021/Reuters

No Oriente Médio, centenas de drones e mísseis lançados de forma inédita pelo Irã de seu próprio território em direção a Israel aumentaram a disputa na região entre Tel Aviv e o autodenominado "Eixo da Resistência" —grupo de atores liderados por Teerã que se opõem ao Estado judeu, entre eles o Hamas na Faixa de Gaza.

Em momentos de conflito, investidores tendem a apostar em ativos de maior segurança, como é o caso do dólar, o que também beneficia a moeda americana.

A expectativa era que o conflito também causasse choques nos preços do petróleo, o que não ocorreu. O petróleo Brent, referência internacional, caiu 0,40%, para US$ 90,10 por barril. O West Texas Intermediate, referência dos EUA, recuava 0,30%, para US$ 85,41 por barril. Os mercados de ações também tiveram reações contidas.

No cenário interno, a Folha antecipou pela manhã que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai propor uma meta fiscal zero para 2025. O objetivo sinaliza uma flexibilização na trajetória fiscal do país, dado que o compromisso antes era entregar um superávit de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano que vem.

Na prática, o Executivo indica ainda a possibilidade de novo déficit no ano que vem, já que a meta conta com uma margem de tolerância de 0,25% do PIB para mais ou menos.

No início da tarde, o ministro da Fazenda confirmou o número em entrevista à GloboNews.

Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a mudança da meta fiscal é ruim e afeta a credibilidade do arcabouço fiscal.

"Outro ponto importante de ressaltar é que o governo não ataca as despesas, o que dificulta tanto o atingimento da meta anterior quanto o da meta atual", diz Sung.

Ele afirma, por outro lado, que a mudança dá mais realismo à dinâmica das contas públicas diante da frustração de alguns projetos de arrecadação do governo. "Vale lembrar que as receitas extraordinárias de 2024 não se repetiriam em 2025, o que também geraria dificuldades para o governo conseguir atingir a meta de 0,5 estipuladas anteriormente."

A estrategista de renda variável Monica Araujo, da InvestSmart XP, também considera negativa a mudança proposta pelo governo, mesmo com a avaliação de que a meta anterior também não teria sido cumprida.

"A meta sempre foi considerada muito agressiva, mas a oficialização da mudança em tão grande magnitude traz maior insegurança sobre o arcabouço, podendo impactar a percepção dos investidores sobre a trajetória da dívida pública brasileira, o que tende a influenciar a percepção de risco sobre os ativos brasileiros", diz Araujo.

Nesta segunda, o CDS (Credit Default Swap) do Brasil com prazo de cinco anos subiu quase 4,33%. O indicador é como um "seguro contra calote" e funciona como um termômetro da confiança de investidores: quando ele sobe, aponta que a percepção de risco está aumentando e vice-versa. No acumulado do ano, a alta é de quase 20%.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa começou o dia oscilando, mas engatou leve queda no início da tarde e acelerou as perdas após a entrevista de Haddad, pressionada pela alta dos juro futuros locais.

No fim do dia o principal índice da Bolsa teve queda de 0,48% e terminou o dia aos 125.333 pontos, em seu menor patamar do ano.

"A gente está observando um movimento estressado na curva de juros, principalmente os vértices mais longos, acompanhando um cenário global após os resultados de inflação [dos EUA], que realmente vieram acima das expectativas, mais uma escalada ali no conflito do Oriente Médio, que pode também gerar uma pressão inflacionária e atrasar ainda mais os cortes de juros", afirma Yan Vasconcellos, sócio da One Investimentos.

Com Reuters

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