Senadores dos EUA cobram CEO da Boeing por crise de segurança na empresa

Dave Calhoun admitiu culpa por falha em voo da Alaska Airlines

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David Shepardson Allison Lampert
Washington e Montreal | Reuters

Senadores dos EUA atacaram o CEO da Boeing nesta terça-feira (18) por causa do histórico de segurança da fabricante de aviões, ofuscando seu pedido de desculpas às famílias que perderam parentes em acidentes com o 737 Max e o admitiu a culpa por uma emergência durante um voo em janeiro.

Em uma audiência perante uma comissão do Senado dos Estados Unidos, Dave Calhoun enfrentou perguntas repetidas sobre o quanto ele recebe, a cultura de segurança da Boeing e por que ele não renuncia imediatamente em vez de se aposentar até o final do ano.

"Estou orgulhoso de todas as ações que tomamos", disse Calhoun em resposta ao republicano Josh Hawley, que perguntou: "Por que você não renunciou?". O senador acusou Calhoun de "explorar" a Boeing enquanto recebia um salário de vários milhões de dólares.

O CEO da Boeing, Dave Calhoun, durante audiência no Senado dos EUA; ao fundo, mulher segura cartaz com fotos dos mortos no acidente do voo 302 Ethiopian Airlines - Kevin Lamarque/Reuters

A compensação total de Calhoun em 2023 subiu para US$ 32,8 milhões (R$ 178,5 milhões), um aumento de 45% em relação aos US$ 22,6 milhões que ele recebeu no ano anterior.

A audiência marcou a primeira vez que Calhoun enfrentou perguntas dos legisladores e colocou os holofotes na reputação deteriorada da Boeing. O CEO que disse em março que planeja se afastar até o final do ano em meio a uma reestruturação da gestão da Boeing.

O senador Richard Blumenthal, que preside o subcomitê, chamou a audiência de um "momento de acerto de contas" para a Boeing e disse na audiência que havia evidências esmagadoras de que o Departamento de Justiça dos EUA deveria buscar processar a Boeing.

"Como ex-procurador federal e procurador-geral do estado, acho que as evidências são quase esmagadoras para justificar essa acusação", disse Blumenthal.

Os promotores têm até 7 de julho para informar a um juiz federal no Texas sobre seus planos. O Departamento de Justiça concluiu em maio que a Boeing falhou em "projetar, implementar e fazer cumprir um programa de conformidade e ética" como parte de um acordo de suspensão condicional de processo após os acidentes fatais.

Calhoun assumiu a responsabilidade pelos incidentes que colocaram a Boeing em crise nos últimos cinco anos, reconhecendo que o incidente do plugue da porta da Alaska Airlines em 5 de janeiro foi resultado de um defeito de fabricação.

A Boeing também assumiu a responsabilidade pelo desenvolvimento de um sistema de software ligado aos acidentes fatais de 2018 e 2019 na Indonésia e Etiópia, que mataram um total de 346 pessoas.

"Estou aqui no espírito de transparência para assumir a responsabilidade", disse Calhoun aos repórteres antes de entrar na sala da audiência.

No início, Calhoun se voltou para as famílias das vítimas dos acidentes. "Peço desculpas pelo sofrimento que causamos", acrescentando que a empresa está "totalmente comprometida" em lidar com as preocupações com a segurança e chamando as perdas das famílias de "dilacerantes".

O engenheiro-chefe da Boeing, Howard McKenzie, minimizou as preocupações com a segurança sobre centenas de fixadores apertados incorretamente em alguns dos jatos 787 da fabricante. A descoberta foi noticiada pela Reuters na semana passada.

McKenzie confirmou que os fixadores foram apertados do lado errado, mas disse que uma análise inicial feita pela Boeing indicou que estavam seguros.

Na semana passada, a Boeing informou ao Departamento de Justiça dos EUA que não violou o acordo de suspensão condicional de processo que protegia a empresa de uma acusação criminal decorrente dos acidentes.

"A Boeing precisa parar de pensar na próxima conferência de resultados e começar a pensar na próxima geração", disse Blumenthal.

Blumenthal disse nesta terça-feira que Sam Mohawk, um inspetor de qualidade da Boeing na fábrica de Renton, Washington, disse recentemente ao painel que testemunhou um desrespeito sistemático por peças potencialmente defeituosas ou sem a documentação necessária.

Em um relatório divulgado pelo comitê antes da audiência, Mohawk disse que seu trabalho lidando com peças não conformes se tornou significativamente mais "complexo e exigente" após a retomada da produção do Max em 2020, após os dois acidentes fatais envolvendo o modelo.

O relatório disse que Mohawk apresentou uma reclamação relacionada em junho à Osha (Administração de Segurança e Saúde Ocupacional).

A Boeing disse em comunicado que está analisando as alegações que ouviu na segunda-feira. "Continuamos a incentivar os funcionários a relatar todas as preocupações, porque nossa prioridade é garantir a segurança de nossos aviões e dos passageiros", disse.

A Boeing também disse que aumentou o tamanho de sua equipe de qualidade e "aumentou significativamente o número de inspeções por avião desde 2019".

Desde o incidente de 5 de janeiro com um plugue de porta em um jato 737 Max 9 em plano voo, a fiscalização da fabricante de aviões por reguladores e companhias aéreas tem se intensificado.

A NTSB (Junta Nacional de Segurança nos Transportes) disse faltavam quatro parafusos-chave no avião da Alaska Airlines.

O Departamento de Justiça abriu uma investigação criminal sobre o incidente e, em 30 de maio, a Boeing entregou um plano de melhoria de qualidade para a FAA depois que a agência deu à empresa 90 dias para desenvolver um esforço abrangente para lidar com "questões sistêmicas de controle de qualidade". A FAA proibiu a empresa de expandir a produção do Max.

As ações da Boeing fecharam em queda de 1,9%, cotadas a US$ 174,99 nesta terça.

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