CEO da Boeing vai deixar cargo no final de 2024 em meio à crise de qualidade

Dave Calhoun disse que foi dele a decisão de se afastar; fabricante de aviões passa por reestruturação de gestão

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David Shepardson Allison Lampert
Reuters

O presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun, deixará o cargo até o final do ano, em uma ampla mudança na gestão provocada pela crise de qualidade na fabricante de aviões, exacerbada após um pedaço da fuselagem de um jato 737 MAX se soltar em pleno voo em janeiro.

Além disso, o presidente do conselho de administração, Larry Kellner, e Stan Deal, presidente-executivo da Boeing Commercial Airplanes, também estão deixando a Boeing, enquanto o conselho da empresa tenta retomar controle das inúmeras questões que têm abalado a confiança na companhia ao longo de várias semanas.

O incidente de janeiro foi apenas o mais recente de uma série de crises que abalaram a confiança do setor na fabricante e prejudicaram sua capacidade de aumentar a produção.

O próprio Calhoun foi nomeado presidente-executivo após duas quedas de aviões da empresa em 2018 e 2019 que mataram quase 350 pessoas.

O CEO da Boeing, Dave Calhoun, fala com repórteres no congresso americano - AFP

Calhoun disse que ele tomou a decisão de se afastar. "Fui eu quem avisou que, no final deste ano, pretendia me aposentar", disse Calhoun à CNBC. Ele afirmou que quis permanecer até o fim do ano para lidar com questões de qualidade.

Imediatamente após o incidente de 5 de janeiro, quando um pedaço da fuselagem se soltou do avião em pleno voo, executivos de companhias aéreas expressaram apoio a Calhoun, mas esses sentimentos positivos diminuíram após novos atrasos na produção e à medida que órgãos reguladores detalhavam problemas de qualidade em um importante centro de fabricação da empresa nos arredores de Seattle.

Alguns investidores expressaram preocupação de que essa mudança não seria suficiente para resolver esses problemas.

"Há muito tempo achamos que os problemas da Boeing estão assentados em desafios culturais", disse Cameron Dawson, diretor de investimentos da NewEdge Wealth.

As ações da Boeing perderam cerca de um quarto de seu valor desde o incidente. Os papéis subiam 1,3% nesta segunda-feira (25), bem abaixo de ganhos maiores registrados mais cedo.

A empresa está enfrentando uma pesada fiscalização regulatória e as autoridades norte-americanas limitaram a produção da companhia enquanto tenta corrigir seus problemas.

A Boeing também está em negociações para comprar sua antiga subsidiária Spirit AeroSystems para tentar obter mais controle sobre a cadeia de suprimentos.

A diretora de operações, Stephanie Pope, foi designada para liderar a Boeing Commercial Airplanes, com efeito a partir de segunda-feira.

Steve Mollenkopf, ex-presidente-executivo da Qualcomm, foi apontado como novo presidente do conselho e está liderando a busca pelo próximo presidente-executivo. Uma fonte disse à Reuters que Mollenkopf se juntará a Kellner em reuniões programadas com CEOs de grandes companhias aéreas dos Estados Unidos e do exterior.

QUESTÕES SOBRE GESTÃO

Na semana passada, um grupo de presidentes de companhias aéreas norte-americanas solicitou reuniões com os diretores da Boeing sem Calhoun para expressar sua frustração com o incidente da Alaska Airlines e a gestão da empresa.

Analistas e investidores consideraram a mudança positiva para a Boeing, mas enfatizaram que muito depende do sucessor de Calhoun e da mudança da cultura da empresa a partir do topo.

Calhoun disse à CNBC que a Boeing resolverá seus problemas de qualidade. "Eles estão à altura do desafio", disse Calhoun. "Vamos acalmar a situação. Vamos antecipar os problemas."

A crise da Boeing tem frustrado as companhias aéreas, inclusive a brasileira Gol, que já estão enfrentando atrasos nas entregas tanto da empresa quanto da rival Airbus, e a fabricante de aviões está gastando mais dinheiro do que o esperado neste trimestre.

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