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Boeing perdeu centenas de peças defeituosas do 737 Max, diz agência

Denunciante alega que empresa escondeu componentes armazenados de forma inadequada de vistoria da FAA

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Allyson Versprille Julie Johnsson
Bloomberg

Um inspetor de qualidade da Boeing alega que a fabricante de aviões usou de forma inadequada e perdeu centenas de peças defeituosas, algumas das quais podem ter sido instaladas em aviões 737 Max novos.

A denúncia é a mais recente revelação de um informante que aponta para possível dolo da empresa.

As alegações foram detalhadas em uma queixa de 11 de junho do inspetor da Boeing Sam Mohawk à Osha (Administração de Segurança e Saúde Ocupacional), e foram tornadas públicas por um subcomitê do Senado dos EUA nesta terça-feira (18) em um memorando.

A Boeing disse que está analisando as alegações após receber o documento na segunda-feira (17).

Fábrica da Boeing em Renton, Washington, nos Estados Unidos - Lindsey Wasson/Reuters

Até o ano passado, a Boeing havia perdido até 400 peças defeituosas de aeronaves 737 Max e excluído registros de muitas delas de um sistema interno de catalogação, de acordo com a queixa.

As chamadas "peças não conformes" são componentes danificados ou inadequados que devem ser rastreados, descartados ou consertados, com registros meticulosos para garantir que não sejam usados no processo de fabricação de aeronaves.

Mohawk também alegou que a Boeing "escondeu intencionalmente" alguns componentes grandes armazenados de forma inadequada, como lemes e flaps, da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) antes de uma inspeção no local.

As alegações se somam a uma série de denúncias que acusam a empresa de cortar custos em seus processos de produção e controle de qualidade. Alguns denunciantes disseram que foram incentivados a ficar em silêncio ou sofreram retaliação por levantar preocupações.

"Continuamos a incentivar os funcionários a relatar todas as preocupações, pois nossa prioridade é garantir a segurança de nossos aviões e dos passageiros", disse a Boeing em um comunicado.

A queixa de Mohawk foi divulgada pelo Senate’s Permanent Subcommittee on Investigations [Subcomitê Permanente de Investigação do Senado dos EUA] no mesmo dia do depoimento do CEO da Boeing, Dave Calhoun, fornecendo novas linhas de investigação contra o líder da empresa.

O painel abriu uma investigação sobre a fabricante de aviões após um quase acidente em janeiro, quando uma seção da fuselagem se soltou de um 737 Max logo após a decolagem.

As ações da Boeing caíram 2,17% nesta terça-feira (18) em Nova York. A empresa perdeu cerca de um terço de seu valor neste ano.

Documentos e relatos de denunciantes coletados até agora "mostram um cenário preocupante de uma empresa que prioriza a velocidade de fabricação e a redução de custos em detrimento da qualidade e segurança das aeronaves", disseram membros do painel em um memorando.

A FAA disse em um comunicado na segunda-feira à noite que encorajou os funcionários da Boeing a apresentarem suas preocupações com a segurança e viu um aumento nas denúncias desde 5 de janeiro como resultado.

A agência divulgou na semana passada que recebeu mais de 11 vezes mais relatórios de denunciantes da Boeing nos primeiros cinco meses deste ano em comparação com todo o ano de 2023.

"A FAA incentiva fortemente qualquer pessoa com preocupações com a segurança a relatá-las", disse a agência. "Investigamos minuciosamente cada denúncia, incluindo alegações descobertas no trabalho do Senado."

As novas alegações aumentam a pressão que a Boeing enfrenta de Washington. A empresa está sob investigação de várias agências federais, incluindo o Departamento de Justiça.

Os promotores também estão considerando se acusam a Boeing de violar um acordo que permitiu à empresa evitar acusações após dois acidentes fatais do 737 Max em 2018 e 2019.

Mohawk alegou que dezenas de componentes do 737 estavam sendo armazenados de forma inadequada ao ar livre e que a Boeing ordenou que os funcionários movessem a maioria deles para outra localização após receber um aviso da FAA em junho de 2023 de que a agência faria uma inspeção no local.

Ele afirma que as peças foram eventualmente devolvidas à localização externa ou perdidas completamente.

De acordo com o memorando do subcomitê, as peças não conformes da Boeing devem ser marcadas com uma etiqueta vermelha ou tinta vermelha e mantidas em uma área segura da fábrica.

A demanda pelo monitoramento de peças feito por Mohawk saltou após a proibição mundial do 737 Max desencadeada pelos dois acidentes fatais.

Mohawk alegou que "o grande número de peças não conformes levou por fim seus superiores a direcioná-lo e a outros a eliminar ou 'cancelar' os registros que designam uma peça como não conforme", de acordo com o memorando.

As preocupações levantadas por Mohawk têm semelhanças com alegações feitas anteriormente pelo denunciante John Barnett (1962-2024) sobre a produção de uma das outras aeronaves principais da empresa, o 787 Dreamliner.

A polícia concluiu em maio que a morte de Barnett, que ocorreu em meio a uma investigação em curso sobre a fabricante de aviões, foi resultado de suicídio.

Mohawk alega que tentou elevar as preocupações por meio do programa interno de denúncias da Boeing chamado "Speak Up", mas que ele acabou sendo encaminhado aos mesmos gerentes dos quais ele havia reclamado.

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