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Oferta menor e clima fazem preço do café robusta superar o do arábica

Seca e calor reduzem produção nas safras brasileira e vietnamita neste ano

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São Paulo

Em um cenário pouco usual, o preço do café robusta ultrapassa o do arábica, tradicionalmente o produto mais caro entre as duas bebidas. Nesta sexta-feira (30), a saca de café robusta foi negociada em R$ 1.484, R$ 36 acima do valor do arábica, comercializado a R$ 1.448, conforme pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

''O grande problema do momento é a oferta. Os estoques já estão apertados, em especial os do robusta, a safra brasileira não foi boa e as perspectivas para o Vietnã são péssimas", afirmou Renato Ribeiro, pesquisador de mercado do setor de café do Cepea.

Fotografia mostra uma plantação de café, com grãos avermelhados e verdes espalhados em toda a imagem.
Plantação de café robusta em Rondônia - Divulgação/Embrapa

Com uma produção prevista em 30 milhões de sacas de café robusta, os vietnamitas, devido ao calor, poderão ter uma safra reduzida em 10%, para 27 milhões, segundo o pesquisador.

Algumas estimativas de mercado, ainda mais pessimistas, estimam uma retração de até 20%, o que elevariam as perdas para seis milhões de sacas no país asiático.

Isso ocorre em um momento de cenário de oferta justa, o que ajudou o preço do robusta a superar o do arábica, afirma Ribeiro.

O momento atual é semelhante ao de 2016 e 2017, quando o preço do café canéfora (conilon e robusta) também superou o do arábica. "Para piorar, a oferta de arábica também não é abundante. O volume produzido foi limitado, devido ao forte calor que atrapalhou várias culturas no país, inclusive a do café", afirma o pesquisador.

Para Guilherme Morya, analista do Rabobank, o café já vem com pressão nos preços desde o ano passado. Quebra de safra no Vietnã, elevação de custos de frete, devido a questões geopolíticas, e clima afetaram várias áreas de produção.


A florada dos cafezais do Vietnã começaram a apresentar problemas ainda no primeiro semestre, devido ao clima quente, e isso deverá refletir na colheita a partir de novembro.

Uma nova quebra de produção complicaria ainda mais os estoques mundiais, segundo Morya. O ciclo 2024/25 apresentará o quarto déficit desse tipo de café entre oferta e demanda.

Para o analista do Rabobank, os preços atuais ainda não estão computando possíveis efeitos do clima seco das próximas semanas na florada dos cafezais brasileiros.

A saca de café conilon, negociada no patamar apurado pelo Cepea nesta sexta-feira, supera em 130% os valores de há um ano. A média de cinco anos dos preços do café robusta é de 90 centavos de dólar por libra-peso. Atualmente está em 180 centavos. O preço do robusta dá sustentação ao do arábica.

Nesse patamar, os preços deste ano beneficiam o produtor, que recebe valores altos e tem custos menores. Segundo o analista do Rabobank, a relação de troca é de 1,79 saca de café de 60 quilos por tonelada de fertilizante (mistura 20-05-20). No ano passado, eram necessárias 2,9 sacas.

Bom para os produtores, mas os consumidores vão pagar mais pelo produto nas prateleiras dos supermercados, afirma o pesquisador do Cepea.

Com o calor nesse período de florada não se sabe como a planta vai reagir, e o quadro preocupa porque o setor vem de uma safra estranha e caminha para uma menor, diz Ribeiro. "Não haverá alívio no curto prazo."

O conilon, que era o produto mais barato na formação do blend da bebida, agora passa a custar mais do que o arábica, o que elevará pressão no bolso do consumidor.

Oferta menor e eventuais problemas com as importações no próximo ano, com a entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia, fizeram as empresas da Europa elevarem as compras, aquecendo ainda mais os preços.

Segundo a European Coffee Federation, as empresas europeias iniciaram o ano com estoques de 6,9 milhões de sacas, mas já estão com 8,4 milhões.

Com a participação maior das empresas europeias no Brasil, o país acumula exportações de 28,1 milhões de sacas de café arábica e robusta, 46% a mais do que em igual período do passado. As exportações de conilon aumentaram 314%, somando 5,2 milhões de sacas nos sete primeiros meses deste ano.

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