Descrição de chapéu Financial Times

Volkswagen considera fechamento de fábricas na Alemanha pela primeira vez

Corte de empregos também é avaliado no país após programa de redução de custos lançado em 2023 não atingir expectativas

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Patricia Nilsson Kana Inagaki
Frankfurt e Londres | Financial Times

A Volkswagen está considerando fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em seus 87 anos de história, enquanto o CEO, Oliver Blume, alertou que a indústria automotiva europeia está em uma "situação muito séria".

A medida vem após um programa de redução de custos lançado em 2023 ter ficado vários bilhões de euros abaixo do esperado, já que a empresa só conseguiu reduzir custos gerais oferecendo aposentadoria antecipada e pacotes de demissão voluntária aos funcionários devido a acordos com seu forte conselho de trabalhadores.

A imagem mostra a fachada de uma fábrica da Volkswagen, com o logotipo da empresa em destaque. Em primeiro plano, há uma linha de carros estacionados em um transporte, enquanto ao fundo se vê a estrutura da fábrica e alguns postes de iluminação. A vegetação em primeiro plano está desfocada.
Fachada de fábrica da Volkswagen em Zwickau, no leste da Alemanha - Ronny Hartmann - 25.fev.2020/AFP

"O ambiente econômico ficou ainda mais difícil, e novos concorrentes estão entrando no mercado europeu. Nesse ambiente, nós, como empresa, devemos agora agir de forma decisiva", disse Blume.

A empresa disse que planejava voltar atrás em sua promessa de não cortar empregos na Alemanha até 2029, em uma medida que a colocaria em rota de colisão com o conselho de trabalhadores.

A demanda menor do que o esperado por veículos elétricos na Europa atingiu os fabricantes de automóveis da região, incluindo a Volkswagen, que também está lutando com uma participação de mercado em queda na China, seu mercado mais lucrativo.

A marca principal da empresa anunciou em junho passado que queria cortar 10 bilhões de euros (cerca de R$ 62,1 BI) em custos até 2026, estabelecendo uma meta para que as margens operacionais atingissem 6,5% até o mesmo ano. No primeiro semestre de 2024, esse indicador caiu para 2,3%.

Nesta segunda-feira (2), a VW disse que a "reestruturação baseada apenas em desenvolvimentos demográficos" —o que significa a não substituição de trabalhadores aposentados— foi "insuficiente para alcançar os ajustes estruturais urgentemente necessários para maior competitividade a curto prazo".

A VW emprega cerca de 300 mil pessoas na Alemanha —pouco menos da metade do total global. Manter empregos é uma prioridade máxima para o estado alemão da Baixa Saxônia, que possui 20% da empresa, e frequentemente se alinha com o conselho de trabalhadores, que detém metade dos assentos no conselho de supervisão da VW.

O primeiro-ministro da Baixa Saxônia, Stephan Weil, disse nesta segunda que era "indiscutível que a VW precisa agir", mas acrescentou que o fechamento de fábricas era apenas uma das opções disponíveis.

"Esperamos que o fechamento de fábricas simplesmente não aconteça", enfatizou, acrescentando que o estado "prestará atenção especial a isso".

Daniela Cavallo, presidente do conselho de trabalhadores da VW —que, segundo as regras alemãs, representa os interesses dos trabalhadores no nível do conselho de supervisão— emitiu nesta segunda uma nota aos funcionários, alertando que a administração estava considerando fechar fábricas alemãs, já que a marca principal da VW corria o risco de entrar no vermelho.

"Como resultado, o conselho executivo está agora questionando as fábricas alemãs, os acordos salariais coletivos internos da VW e o programa de segurança de emprego que vai até o final de 2029", disse Cavallo, cujo confronto com o ex-CEO da VW, Herbert Diess, contribuiu para sua demissão em 2022.

A VW disse que sua situação financeira "extremamente tensa" significava que "mesmo o fechamento de fábricas de produção de veículos e componentes não pode mais ser descartado", acrescentando que começaria negociações com os representantes dos trabalhadores.

Cavallo, no entanto, indicou que os planos enfrentariam forte resistência. "Comigo, não haverá fechamento de fábricas da VW", ela disse aos funcionários.

A batalha iminente sobre a reestruturação do maior fabricante de automóveis da Europa ocorre enquanto a empresa enfrenta menor demanda tanto domesticamente quanto na China, além de novos concorrentes entrando no mercado europeu.

Vários fabricantes chineses de veículos elétricos, como a BYD, planejam entrar na Europa, enquanto a VW e outras marcas tradicionais correm para desenvolver veículos elétricos mais baratos.

Analistas há muito tempo instam a Volkswagen a realizar cortes de empregos para que as reduções de custos funcionem em um momento em que são necessários grandes investimentos para fazer a transição para os elétricos.

"Está ocorrendo uma grande mudança cultural na Volkswagen", disse Matthias Schmidt, analista automotivo independente. "Acho que os sindicatos provavelmente estão vendo a realidade e provavelmente serão mais compreensivos desta vez."

Apesar da oposição sinalizada por Cavallo, Daniel Schwarz, analista automotivo da Stifel, também notou a mudança na linguagem dela, que reconheceu a escala dos problemas enfrentados pelas marcas da Volkswagen e evitou críticas diretas a Blume. "A reação dos sindicatos tem sido bastante encorajadora", acrescentou.

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