Hotéis pet friendly têm aumento na procura durante a pandemia

Tutores não querem mais viajar sem os bichos depois da convivência intensa da quarentena

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Juliana Gonçalves
Londrina

Depois de uma convivência mais intensa com os animais de estimação durante a quarentena, muitos humanos não querem mais deixar seus companheiros em casa quando forem viajar ou comer em um restaurante.

Isso fortalece uma tendência que já vinha em alta: a dos estabelecimentos pet friendly, ou seja, amigáveis aos bichos.

"As pessoas estão mais conectadas a seus animais, e isso se reflete no consumo de serviços. Quem se preparar para receber pets ganhará clientela e fará parte de sua memória afetiva", diz Nelo Marraccini Neto, presidente-executivo do Instituto Pet Brasil.

Segundo pesquisa do site de reservas Hoteis.com do fim de 2020, 82% dos brasileiros entrevistados pretendem viajar com seus animais após a pandemia. O estudo ouviu 8.100 pessoas de 15 países.

Em todo o mundo, as buscas no Google por hospedagem pet friendly cresceram 300% para viagens de março a setembro do ano passado.

Ciente dessa tendência, Pedro Döhnert, gerente-geral do hotel Doral Guarujá, no litoral de São Paulo, investiu em adaptações para receber os pets ao reabrir em dezembro o estabelecimento, que passou por mudança de direção.

Após um mês, ele percebeu a necessidade aprimorar o atendimento e contratou uma consultoria, a Universidade Pet Friendly, da jornalista Cris Berger. O serviço funciona por assinatura, com o valor de R$ 49,90 por mês.

O pacote inclui a elaboração de regras, manual de comportamento e termo de responsabilidade, além de acesso a livros digitais e divulgação.

"Foi preciso adaptar alguns detalhes. Por exemplo, instalar redes de proteção e portões e sinalizar as áreas destinadas aos pets", diz o gerente.

Três suítes do térreo foram modificadas: os boxes foram removidos para facilitar a circulação. Os quartos passaram a ter tapete higiênico, comedouro, bebedouro e petiscos de boas-vindas. São aceitos dois pets por apartamento, a uma taxa de R$ 150 cada um.

Com as restrições da fase emergencial no estado, o hotel está funcionando com ocupação inferior a 50% e áreas comuns fechadas, com refeições servidas nos quartos.

Mas a expectativa de receber, no retorno integral das atividades, mais hóspedes com seus bichos continua alta, afirma Pedro Döhnert. "A procura é crescente. Foi de fato uma ampliação de mercado. O investimento valeu a pena."

Cachorro da blogueira Iza Mariana Moreira Cerutti no hotel Doral Guarujá
Cachorro da blogueira Iza Mariana Moreira Cerutti no hotel Doral Guarujá - Divulgação

Também no Guarujá, a Moa Pousada precisou rever as regras do serviço pet friendly depois que o cachorro de um cliente atacou Hula, a cadela da proprietária, Elaine Lima.

Desde então, ela restringiu a admissão a animais sociáveis, uso obrigatório de guia e diária de R$ 50 por pet.

"É difícil quando o hóspede ignora as regras ou não diz a verdade. Mas hoje, com tudo esclarecido e documentado, se for preciso, tenho condições para recusar esse cliente", diz.

No Brotas Eco Hotel Fazenda, no interior de São Paulo, existe uma área "pet-free", para os hóspedes que não querem cruzar com os bichos. "Foi o meio termo que encontramos, junto com outras regras de convivência e muito preparo para a equipe", afirma a gerente, Marília Rabello.

Fundado há 40 anos, o hotel inaugurou em 2018 o Dog Park, espaço de 1.000 m² destinado a cães. O estabelecimento conta com seis canis individuais —também é permitido aos cachorros ficar no quarto.

Há uma piscina de água mineral onde os cães podem nadar, além de quiosques para refeições com os pets. Monitores também fazem uma "cãominhada", com passeio até o lago.

O hotel é parceiro da agência Território Selvagem Canoar, que oferece rafting canino no rio Jacaré Pepira. O passeio tem trajeto de 4,5 km, no trecho mais calmo do rio, com os cães usando guia e salva-vidas. É cobrado R$ 89 por participante (humano ou canino), mas as atividades estão suspensas, como exige o decreto estadual em vigor.

No hotel, o valor da diária pet varia conforme o porte do animal (R$ 70, R$ 90 ou R$ 120). "O número de clientes aumentou muito desde o Dog Park. E os próprios animais são fregueses a mais", diz a gerente.

Mulher faz treinamento com cachorro
Dog Park, espaço para cães do hotel Brotas Eco Hotel Fazenda - Tadeu Fessel/Divulgação

Além de ampliar o público, o conceito pet friendly fideliza a clientela. É o que percebe a chef Shanti Nilaya, dona do Condessa Bistrô, em São Paulo. Há cinco anos, o restaurante recebe clientes com cães em sua área externa —neste momento, o funcionamento está restrito ao delivery.

Numa visita à capital paulista em 2019, a designer carioca Marcia Scaf conheceu o Condessa acompanhada de Berenice, sua pug. Desde então, ela faz questão de voltar quando está em São Paulo. "A Berenice ficou super-relaxada. Gostamos tanto que virou o passeio da família", conta.

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