Descrição de chapéu casamento

Saiba como os mais requisitados profissionais de casamento estão se virando na pandemia

Empresários criam novos produtos e serviços, mas não conseguem recuperar faturamento

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Denise Meira do Amaral
São Paulo

Com o agravamento da pandemia, casamentos que já haviam sido remarcados com a chegada da Covid foram reduzidos a pequenas cerimônias ou postergados mais uma vez.

Para manter seus negócios, profissionais experientes do setor criaram novos produtos e serviços —mas, mesmo assim, ainda estão longe de conseguir retomar o faturamento. A seguir, leia os depoimentos do estilista Sandro Barros, da maquiadora Vanessa Rozan, do decorador Vic Meirelles e da organizadora de eventos Gabriela Camargo.

‘Tenho costureiras que estão comigo há 20 anos; não podia demitir todo mundo’

Sandro Barros, 44, estilista

Sempre fizemos de três a quatro vestidos por fim de semana. Este último ano foi completamente atípico.

Num primeiro momento, todos os casamentos foram adiados para o segundo semestre. A noiva de abril acabou postergando para julho, depois para outubro, depois para abril. E muitas festas já foram remarcadas para 2022.

Tento me reinventar o tempo todo, porque o meu mercado não tem a facilidade de ter o produto vendido online. Um vestido precisa ser provado, tem todo um ritual. Durante a pandemia, houve apenas cerimônias pequenas. Tive noivas que se casaram com sete convidados. Elas me pediram modelos mais simples, como um midi romântico para um almoço ou para o casamento civil.

Tenho no meu ateliê costureiras que estão comigo há 20 anos. Não podia sair demitindo essas pessoas. Antes da pandemia eu tinha 44 funcionários; consegui manter 40. Cortei custos e tentei vender outros produtos.

Fizemos uma coleção de máscaras de algodão e passamos a vendê-la por WhatsApp e pelo ecommerce do shopping Cidade Jardim. Somando todas as vendas, era como se tivesse vendido um único vestido de noiva.

Além de doar para hospitais, organizamos ações para apoiar o nosso mercado e criamos o movimento Eu Apoio a Moda Nacional. Neste período, desenvolvi uma coleção de vestidos pretos e clássicos, além de roupas para o dia, feitas com linho, como um kaftan para ficar em casa. Também vamos lançar uma coleção de pijamas estampados.

Como todo mundo passou a ficar muito tempo em casa, e eu adoro uma mesa bem arrumada, lancei a linha Sandro Barros Home, com jogos americanos, toalhas, louças e guardanapos. Criei também a Sandro Barros Concierge de Maison, para quem não tem tempo ou não gosta de cuidar da casa. Desenvolvo enxoval de cama, toalhas, velas, flores, cheiros: tudo personalizado. Como essa parte de casa ocupa muito espaço, vamos nos mudar para um imóvel maior no Jardim América, em São Paulo.

No pós-pandemia, as pessoas vão valorizar mais o simples e estar com as pessoas de que gostam. Você só consegue fazer um casamento com afeto em uma cerimônia menor. Essas festas muito grandes viram uma coisa meio corporativa.

Vanessa Rozan sentada em frente a uma câmera, fazendo uma gravação
A maquiadora Vanessa Rozan - Breno da Matta/Divulgação

‘Fechamos nosso espaço físico e o atual faturamento não chega a 10% do anterior’

Vanessa Rozan, 40, sócia do Liceu de Maquiagem

As noivas que iriam se casar em abril, em um casamento pequeno, já passaram para novembro. A gente está entendendo que é preciso se reorganizar o tempo todo, a cada mês, a cada dia.Temos noivas já agendadas. A diferença agora são os contratos, que incluem uma cláusula de cancelamento ou de reagendamento sem multa. Estamos sob circunstâncias muito instáveis.

Tenho uma equipe de três maquiadoras que são professoras da nossa escola de maquiagem. Algumas delas fizeram noivas entre setembro e novembro.Para nos mantermos durante a pandemia, criamos no Liceu pacotes online com preços bastante atrativos, em torno de R$ 25 por aula. Temos recebido muita gente de outros estados e até de outros países, como Espanha e Portugal.Tivemos muita interação pelo Zoom e nos grupos de WhatsApp do curso, com trocas de vídeos e de dúvidas. Deu muito certo, é algo que devemos repetir.

Sempre fomos muito do presencial, e fazer essa mudança nos exigiu bastante estudo. De março até agosto de 2020, mantivemos fechado o nosso espaço físico, que fica no bairro de Higienópolis, em São Paulo.A partir de setembro, quando foi aprovada a volta presencial dos cursos com ocupação reduzida, formamos uma turma pequena de manhã e outra à noite. Mas, em dezembro, entregamos nosso ponto físico e agora só temos a loja online. Achei que seria uma tristeza, mas foi um alívio não ter de pensar mais nesses custos fixos.

O que eu imagino é que, mais para a frente, acharemos um novo espaço menor ou talvez podemos até pensar em algo itinerante.Acredito que não temos agora nem 10% do que tínhamos de faturamento antes da pandemia. Tenho outros contratos que já existiam antes de produção de conteúdo e parcerias com marcas.

No fim do ano passado, montei um canal no YouTube, com tutoriais de maquiagem. Decidi tirar esse projeto da gaveta e apostar nele.Todo mundo que não se casou em 2020 e 2021, vai se casar em 2022. As pessoas não vão deixar de se casar, como não deixam de se separar.O que eu percebi nesses 20 anos maquiando noivas é que o casamento faz parte do universo lúdico. As noivas não vão deixar de sonhar com esse dia. Ele só está sendo postergado.

Gabriela Martinez Camargo, 45 anos, sócia da assessoria de casamentos Festività
Gabriela Martinez Camargo, 45 anos, sócia da assessoria de casamentos Festività - Paulo Barbuto/Divulgação

‘Nosso setor é um dos que mais sofrem, e o governo não tem um programa para nós’

Gabriela Camargo, 45, sócia da assessoria Festività

Atuamos no mercado de festas, mas nosso foco principal é o de casamentos. A gente cuida de todo o planejamento da cerimônia. No último ano sofremos muito. Adiamos todos os eventos do ano passado para este ano e fizemos pequenas comemorações. Foram umas três ou quatro só. A maioria era de cunho religioso, com uma refeição para a família e padrinhos.

Isso não cobre a nossa estrutura. No primeiro momento, aderimos à redução de jornada, mas ainda vamos ficar um bom tempo parados.

Nosso segmento é um dos que mais estão sofrendo, e não temos programas do governo olhando para nós. Muitos fornecedores, como floristas e bufês, tiveram que deixar o mercado.

Como estamos há 18 anos no setor, quando tudo parou, começamos a receber ligações de copeiras, faxineiras e profissionais terceirizados dos eventos que estavam sem trabalho. Criamos uma campanha chamada Comer Amor Ação, que arrecadou mais de R$ 500 mil e ajudou 1.800 famílias por seis meses.
No fim do ano, encerramos a ação. Acreditávamos em uma retomada com a vacina, mas estamos vendo que isso vai demorar.

Agora passamos pelo nosso pior momento. Estamos desanimadas, nossos clientes estão desanimados. Apesar de tudo, eles não deixaram de planejar festas futuras.

Temos um volume de eventos agendados para o pós-pandemia relativamente bacana. Os clientes já começaram a pagar as parcelas.

Os casamentos que fizemos neste período foram nas casas dos noivos, com testagem de equipe e convidados.
A gente não teve histórico grande de cancelamentos, tivemos apenas adiamentos, mas precisamos adaptar os formatos. Festas que antes seriam para 500 pessoas vão virar para 70.

Acredito que, a partir do momento que tivermos uma perspectiva mais positiva, vamos ter uma onda de pessoas querendo celebrar por estarem vivas e com saúde. Mas, por causa da crise que vai persistir, os casais vão repensar os formatos. Uma tendência vai ser a diminuição do número de convidados e as cerimônias ao ar livre. Os noivos vão ponderar quem é importante estar lá.

Outra será a celebração durante o dia. O brasileiro sempre foi relutante em se casar no almoço ou pela manhã, mas isso está mudando e vai se tornar uma realidade.

Vic está sentando sobre uma mesa onde vários vasos de plantas; ele segura dois vasos, um com folhas e outro com flores
O florista e decorador Vic Meirelles em seu galpão, na zona oeste de São Paulo - Keiny Andrade/Folhapress

‘Sou um acumulador e, agora, percebi que isso poderia virar um bom negócio’

Vic Meirelles, 56, florista e decorador

Todos os casamentos para mais de cem pessoas foram postergados. Quem quis se casar durante esse período fez uma cerimônia para 10 ou 20 convidados.Como os eventos estão menores, percebi que estão mais caprichados. Estamos prestando mais atenção no guardanapo, nas louças, nos sousplats, nos arranjos de flores. Além disso, é preciso ter sempre máscara na entrada, álcool em gel nas mesas e, em alguns casos, testagem dos convidados.

Se antes da pandemia o casal gastava entre R$ 20 mil e R$ 30 mil com decoração, hoje o valor fica em torno dos R$ 2.000. Algumas noivas estão achando isso ótimo, porque gastam menos e fazem uma cerimônia mais íntima. Mas há aquelas que estão chateadas porque queriam uma festa maior.

O que tenho feito também são pequenas comemorações. Nesses dias, fiz um jantar para um casal. Ele pediu um jantar marroquino para a namorada. Levei tapetes, lanternas, almofadas e criei um pequeno oásis no apartamento dele. Acho que daqui para a frente vamos viver muito essas pequenas surpresas e celebrações.

Eu sempre fiz arranjos de flores, paisagismo e manutenção de jardim. Na pandemia, aumentei um pouco esse meu trabalho, porque meu faturamento caiu cerca de 80%. Estou há um ano sobrevivendo disso.
Infelizmente todo mundo que é decorador teve que se virar. Consegui não mandar nenhum dos meus nove funcionários fixos embora.Mas o freelancer que fazia um trabalho semanal comigo parou. Nos eventos maiores, a gente contratava em torno de 30, 40 funcionários.

Em julho, abri uma loja no meu galpão, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, chamada Vic Meirelles Store. Passei a vender produtos que eu vou descobrindo nas minhas andanças.Tenho tapetes, poltronas, cadeiras, lustres, abajures, almofadas. Também pus à venda parte do meu acervo. Adoro ir àquelas casas “família vende tudo” e depois revender as peças. Comprei no começo do ano um lindo tapete chinês e uma mesa vermelha dos anos 1970. Também garimpo peças em importadoras de louças.

Sempre fui um acumulador. Na pandemia, percebi que isso poderia virar um negócio. Sinto que temos mais um período difícil pela frente, mas, se Deus quiser, melhoramos no ano que vem.

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