Festas virtuais têm desafio de dança, caça a objetos e oficina de tie-dye

Sem eventos presenciais, setor cria novos formatos online e mira também o mercado corporativo

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São Paulo

Quando os aniversários começaram a ser comemorados em videochamadas coletivas por causa da pandemia, as empresas de recreação infantil correram para se adaptar à nova realidade.

Criada há 15 anos em São Paulo, a Balada Animada só fazia festas presenciais. Mas, a partir de março de 2020, todos os eventos foram cancelados.

“Eu já pensava em fazer algo online para atender pedidos de outros estados e, quando veio a pandemia, coloquei a ideia em prática”, diz Rodrigo Braga, 40, proprietário.

Em um mês, ele formatou o novo serviço. A vantagem foi já ter um estúdio montado na sede da empresa, até então usado para treinamento.

Foram desenvolvidas recreações específicas para o mundo virtual, como o desafio do TikTok, em que as crianças criam vídeos para o aplicativo de acordo com o tema escolhido pelo aniversariante.

Estúdio da Balada Animada durante realização de aniversário virtual
Estúdio da Balada Animada durante realização de aniversário virtual - Jardiel Carvalho/Folhapress

São oferecidos dois produtos: um de 30 minutos, que inclui brincadeiras, homenagem ao aniversariante e parabéns (R$ 279); e outro com mais opções musicais e de entretenimento, com duração de 60 minutos (R$ 499).

Realizados no Google Meet, os eventos podem ter até cem participantes. A empresa já fez 600 festas online, uma média de 50 por mês. “Mas o número de pedidos varia muito, conforme o abre e fecha dos serviços”, afirma o empresário.

A companhia não conseguiu manter toda a equipe —antes eram 45 pessoas, entre funcionários e colaboradores, hoje são 18. “Mas, no setor de eventos, um dos mais atingidos pela crise, só o fato de não termos fechado já é um sucesso”, diz.

No início da pandemia, a recreadora Taís Cury, 36, não sabia se conseguiria migrar para o digital. “Minha proposta de recreação sempre foi tirar a criança da frente do computador, da tela. Não conseguia nem imaginar fazer online”, diz ela, que há 20 anos fundou a empresa Anjos da Guarda.

Mas Tatá Batata, como é conhecida nas festinhas, resolveu experimentar o novo modelo de trabalho depois de ver a ideia circular em grupos de recreadores no WhatsApp. Juntou crianças de idades variadas e, por três semanas, testou atividades e cenários.

Nas festas a distância, entram jogos de adivinhação, caça a objetos pela casa e vídeo com a retrospectiva de vida do aniversariante.

Se o preço da festa presencial era calculado pelo número de crianças, no modelo online é pelo de janelas no Zoom. O pacote para 20 participantes custa R$ 420, com duração de 90 minutos.

Tatá gastou R$ 1.200 para se adaptar: investiu em tecnologia, comprou câmeras e luz para o estúdio improvisado. O investimento já se pagou, e ela pretende continuar a oferecer o serviço mesmo depois do fim da pandemia para clientes de outras cidades.

Moradora de Bauru (SP), Aline Rocamora, 36, contratou a Anjos da Guarda para o aniversário de nove anos de seu filho, César, neste mês.

“Pesquisei muito, mas, mesmo assim, fiquei em dúvida se iria dar certo”, diz Aline.A comemoração, com 15 participantes, saiu melhor do que o esperado. “As crianças se empolgaram e até os adultos se divertiram.”

Durante a pandemia, a arte-educadora Samara Martins, 35, dona da Brincalalá, cogitou suspender o seu serviço de recreação. “Parecia impossível fazer meu trabalho. Resolvi: ‘Vou ter meu bebê e, quando der, volto’’.

Mas, já em abril de 2020, ela recebeu um pedido para fazer atividades recreativas online com filhos de funcionários de uma grande empresa e percebeu que poderia usar o formato em festas de aniversário.

Improvisou um estúdio na edícula de sua casa, comprou uma câmera e criou uma iluminação usando tubos de PVC e lâmpadas LED. Gastou cerca de R$ 1.000 nessas adaptações.

Desde maio do ano passado, Samara fez cerca de 50 festas. Um evento de 50 minutos, realizado pelo Zoom, custa R$ 350 e permite até cem participantes —cada reunião tem, em média, 20 crianças.

A Brincalalá oferece brincadeiras interativas, música, teatro de fantoches e oficinas adaptadas ao tema escolhido pelo aniversariante. Os convidados são incentivados a usar materiais encontrados em casa, como bacia, colher e massinha de farinha de trigo.

As festinhas virtuais são menos lucrativas do que as presenciais, mas o formato permitiu à Brincalalá expandir a sua atuação para o mercado corporativo. Com eventos para filhos de funcionários de grandes companhias, a empresa teve um faturamento de R$ 100 mil no último ano.

O outro plano de Samara, o de engravidar, também aconteceu. Sua filha nasceu em fevereiro, mas, mesmo em sua “licença-maternidade”, ela já fez duas festas online.

“Tivemos de nos reinventar e também reeducar nosso público”, diz Adriana Ferreira de Morais, 44, dona da Prendas Minhas. “No início, os pais pediam para fazer a festa, mas eles não sabiam bem o que queriam nem o que esperar.”

A empresa faz festas com recreação e parabéns (R$ 530, para dez crianças) e também com oficinas —por exemplo, de como fazer tie-dye em camisetes ou bolo no pote. Envia pelos Correios um kit aos convidados com todos os itens. Os preços variam de R$ 1.030 a R$ 2.010, dependendo do número de crianças e dos materiais utilizados.

Todos os eventos duram duas horas e incluem serviços de convite digital, contato com convidados e gravação da festa para o aniversariante.

Apesar de ter feito sucesso, o modelo virtual não foi suficiente para manter o faturamento, que caiu 50% no último ano. “O que ganhamos é para manter a empresa e pagar funcionários”, diz Adriana.

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