A realização da Copa do Mundo pela primeira vez no fim do ano traz, ao mesmo tempo, novas possibilidades e dificuldades para os donos de pequenos negócios. Disputado no Qatar, o torneio começa em 20 de novembro e acaba em 18 de dezembro, a uma semana do Natal.
"É algo novo para todos nós. Por um lado, abre oportunidades para eventos ao ar livre e impulsiona o setor de bares e restaurantes. Por outro, é um desafio, porque vai competir com os gastos tradicionais de fim de ano", diz Marco Vinholi, diretor-superintendente do Sebrae-SP.
Em pesquisa feita pela entidade, 72% dos pequenos negócios paulistas afirmaram que devem ser afetados pela Copa. Desses, 67% acreditam que o impacto será positivo, e 33%, negativo. O levantamento foi realizado entre 15 e 28 de setembro e ouviu 1.080 empresários.
Sobre preparação, 44% dos ouvidos disseram estar se programando para o Mundial, e 35% afirmaram não estar (a maioria alega falta de capital). Ainda, 21% responderam que o fariam "depois".
"Especialmente neste ano, a palavra-chave é planejamento. E, conforme vai chegando mais perto do evento, fica mais difícil se preparar", alerta Vinholi.
O empresário Pedro Castro, 35, CEO da SnowGo, empresa de delivery de gelo, se prepara desde junho para atender ao crescimento da demanda na Copa, ainda mais em época de clima quente. Entre as ações previstas estão o aluguel de dois carros e a contratação de uma empresa de motoboys.
Hoje, a SnowGo tem dois veículos próprios. A maior parte das entregas é feita por 200 motoristas parceiros, que atuam na cidade de São Paulo. Os principais clientes são bares, mas a companhia também presta serviço para pessoas físicas.
"Acredito que vamos ter um faturamento bem legal durante esse período", diz Castro. Ele afirma, no entanto, que a mudança de data do evento não foi assim tão vantajosa para a empresa. "Dezembro já é um mês muito bom. Então, se os jogos fossem em julho, seria perfeito."
Castro também oferecerá camisetas como brindes aos clientes que comprarem um determinado número de sacos de gelo. Ele pesquisou opções que coubessem em seu orçamento.
Neste momento de dificuldade econômica, é muito importante que o empreendedor tenha cautela ao se preparar para o evento, afirma o consultor Haroldo Matsumoto, diretor da Prosphera Educação Corporativa.
"Ele tem que aproveitar para alavancar as vendas e, ao mesmo tempo, precisa dosar muito a mão. Não pode deixar a Copa passar em branco, mas também não deve exagerar no investimento."
Com grande expectativa para a data, os sócios da lanchonete Trem Doido, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, começaram o planejamento em junho. "Pensamos em ações simples, mas que visam chamar a atenção dos clientes", diz Diogo Rios, 38, à frente do negócio junto com Thiago Gomes, 37.
Uma pequena arquibancada será montada numa área dentro do restaurante durante o horário dos jogos. A estrutura com três níveis ficará voltada para um televisor. A loja é especializada em hambúrgueres e lanches feitos com pão de queijo.
O objetivo é atrair principalmente os funcionários de empresas da região para assistir às partidas no estabelecimento. "Esperamos ter uma demanda ainda maior por causa do calor e da época de fim do ano, quando as pessoas já estão em clima de confraternização", afirma Rios.
A Trem Doido também terá seis lanches que vão representar países participantes da Copa —Brasil, Argentina, México, Estados Unidos, Alemanha e Espanha. Toda semana, os seguidores do restaurante nas redes sociais poderão votar no seu sanduíche favorito em uma disputa entre dois países. A receita vencedora poderá ser comprada com desconto nos dias seguintes à votação.
Rios conta que a ideia inicial era preparar mais de dez lanches, mas, em razão dos custos, foi preciso reduzir as opções. Dos 6 sanduíches, apenas 2 foram criados especificamente para a data: o da Alemanha, feito com joelho de porco, e o da Espanha, com jamón (presunto). Os outros quatro já fazem parte do cardápio, como o choripán (Argentina) e lanche de pernil (Brasil).
"É um momento de trazer mais pessoas para a loja. A gente precisa aproveitá-lo, mas prestando muita atenção no custo, olhando centavo por centavo", diz.
Na opinião de Kelly Carvalho, assessora econômica da FecomercioSP, boa parte dos empresários vai ter mais desafios do que oportunidades com a realização da Copa no fim do ano. Ela lembra que a Black Friday cai no dia 25 de novembro, um dia depois da estreia do Brasil na competição. "Isso pode provocar alteração no funcionamento das lojas e desviar a atenção do consumidor."
Por isso, a especialista sugere que os empreendedores anunciem suas promoções com mais antecedência, fazendo, por exemplo, um "esquenta Black Friday". "A Copa também vai acontecer muito perto do Natal. É um cenário diferente, pelo qual o varejo nunca passou antes. É importante já começar a trabalhar estratégias para recuperar pelo menos uma parte das vendas", afirma ela.
Como aproveitar a data e faturar mais
Fique de olho no calendário
Verifique os dias e horários dos jogos do Brasil e de outras seleções importantes, como França e Argentina. Avalie se será necessário fazer alguma alteração no expediente. Na fase de grupos, as partidas serão às 7h, 10h, 12h, 13h e 16h. Os jogos de mata-mata serão às 12h e às 16h. Além disso, é fundamental mapear outras datas que não têm relação com o evento. Por exemplo, a Black Friday cairá em 25 de novembro, um dia depois da estreia do Brasil contra a Sérvia (16h)
Prepare-se para todos os cenários
Se o Brasil chegar ao fim da competição, as vendas relacionadas à Copa seguirão aquecidas. Mas, se a seleção for eliminada, o interesse pelo torneio deve cair. Por isso, o ideal é não ter um estoque tão alto. Negocie com os fornecedores, para que eles possam atender rapidamente, caso haja aumento da demanda, ou que parem de mandar mercadoria, se houver queda
Saiba como atrair seu público
É fundamental entender quem é sua clientela e saber se ela está animada com o evento. É possível até focar quem não gosta de futebol e quer fugir do clima de Copa. Se o público estiver de fato interessado no torneio, pode ser uma boa lançar novos produtos ou serviços. Avalie se vale a pena fazer uma decoração especial na sua loja. Também é importante engajar os clientes nas redes sociais
Fontes: Haroldo Matsumoto, diretor da Prosphera Educação Corporativa, e Marco Vinholi, diretor-superintendente do Sebrae-SP
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