As altas das taxas de juros e da inflação inspiram cuidado para o empreendedor que quer criar um negócio do zero. A afirmação é de José Carlos Semenzato, 54, fundador da SMZTO, maior holding de franquias do Brasil, que reúne marcas como Oakberry, L’Eentrecôte de Paris, Espaço Laser, Odonto Company e Oral Sin.
Para ele, o franchising é um conforto para quem quer empreender. "Essa é uma certeza absoluta de quem trilhou por 30 anos essa trajetória e que opera mais de 4.000 franquias hoje", afirma ele.
O executivo conta que, para chegar onde chegou, vindo da periferia de Lins (interior de São Paulo), teve de ser o melhor em tudo que fez. Ainda assim, afirma que hoje existem oportunidades para todos, e elas passam por capacitação e estudos.
Quais os seus conselhos para o empresário que está começando? Os empreendedores que querem criar um negócio novo devem observar alguns pontos.
Primeiro, é preciso ter clareza absoluta sobre o capital a ser investido, e incluo aqui o capital de giro, que pode oscilar bastante na criação de uma empresa, uma vez que nem todas as variáveis do negócio são conhecidas.
Além disso, é preciso pesquisar sobre a aderência do produto ou serviço no local que ele vai ser instalado, mesmo que seja online, e a cadeia de fornecimento envolvida.
Depois, planejar o lançamento. Criação da marca, campanha de marketing e definição dos canais de venda.
Com tudo organizado, o próximo passo é buscar uma seleção de profissionais bem qualificados e motivados para a inauguração.
Quem cria um novo negócio precisa passar por toda a fase de validação da marca e experimentação, que envolvem um risco bem maior.
Qual a importância da inovação na criação de um negócio? A inovação será sempre o diferencial competitivo de toda marca. Apesar disso, o empreendedor deve sempre checar se ela está validada junto ao consumidor, se ela interferiu nos preços nos últimos anos e, por último, se ela se encaixa ou não na cultura de consumo vigente.
Alem da inovação, o empreendedor precisa estar atento às mudanças de comportamento do consumidor. Estar conectado com o cliente é fundamental para fazer as alterações necessárias dos produtos ou serviços oferecidos de forma rápida e assim manter o cliente satisfeito com a marca.
Em um cenário de incertezas políticas e econômicas, qual a recomendação para quem está começando? O mercado hoje tem uma taxa de juros alta e, no cenário macroeconômico mundial, existem atores trabalhando para o crescimento da inflação. Por isso, esse é um momento que inspira, sim, muito cuidado para o empreendedor que quer criar um negócio do zero.
Em contraposição a esse cenário, o franchising traz um conforto, porque, ao adquirir uma franquia, o empreendedor passa então a contar com um modelo já testado pelo mercado, com uma marca forte e com marketing. Isso faz com que parte dos riscos sejam mitigados.
Mas, ainda com as vantagens de empreender pelo franchising, eu tenho que reafirmar que é necessária uma dose de cuidado nesse momento.
Eu, no lugar de qualquer empreendedor, não colocaria o cenário político em pauta na decisão de empreender ou não. Minha crença é que os negócios vão continuar no mesmo ritmo, tendo suas variáveis difíceis e suas vantagens competitivas. Esse é um fator que vai ter pouca relevância no sucesso ou no fracasso do empreendedor neste ano.
Começar com uma franquia então é uma forma de empreender com mais segurança? Empreender não é criar algo novo do zero. É possível empreender comprando uma franquia e criando um grupo multissetorial com um portfólio enorme para, em cinco ou dez anos, se tornar relevante como empreendedor multimarcas de franchising. Com isso é possível mitigar o risco.
Eu não sou contra [criar algo novo do zero] e não quero dizer que não dá para se aventurar. Ainda tem lugar, mas é muito caro. Por isso é preciso saber que a dor pode ser grande nesse caminho. Sou a favor da inovação, mas ela precisa ter limites. Não teremos invenção para todos e certamente a maioria vai morrer com esse sonho.
Por isso eu digo que investir em uma franquia é uma alternativa importante no contexto de maturidade do Brasil. Essa é uma certeza absoluta de quem trilhou por 30 anos essa trajetória e que opera cerca de 4.000 mil franquias.
O empreendedor precisa estar atento às mudanças de comportamento do consumidor. Estar conectado com o cliente é fundamental para fazer alterações de forma rápida e assim manter o consumidor satisfeito com a marca
O que deve ser colocado na conta quando se decide empreender assim? Ao adquirir uma franquia, é preciso levar em conta a reputação da franqueadora. Jamais compre uma franquia sem falar com um número importante de franqueados da marca, que irão dizer que aquele negócio é bom o suficiente para você firmar a aquisição.
Outro ponto é a certeza de ter o capital suficiente para montar o negócio. É possível financiar uma parte, desde que isso não crie uma prestação maior que a lucratividade da empresa. É preciso ter esse planejamento, e nisso um franqueador pode te ajudar.
Gostar realmente da atividade é outro ponto importante.
Qual a importância da capacitação para quem se propõe a empreender? Hoje a minha grande recomendação para o jovem são os estudos. Eu fiz, aos 14 anos, um curso livre de programação e computação. Hoje há vários que eu poderia citar, como os do Senac, do Instituto Embelleze [área de estética] ou do Instituto Gourmet [gastronomia].
O jovem, às vezes, acreditando que não vai conseguir fazer uma boa faculdade, abandona os estudos, mas não deveria. É preciso fazer um curso técnico, conseguir o primeiro emprego, e depois, fazer a faculdade. Existem escolas técnicas muito boas e relevantes.
Capacitem-se. Vocês só vão se tornar melhores e diferentes no ambiente de trabalho se realmente investirem em capacitação. A educação move, a educação transforma.
Qual o conselho para quem está pensando em expansão, seja por meio do franchising ou com novos projetos? O Brasil sempre foi um celeiro de oportunidades, em especial no setor de franchising. Temos projetos maravilhosos disponíveis, e em hipótese alguma falo estritamente da SMZTO, porque existem outras marcas incríveis no país para empreender.
Mas antes de pensar em crescer e expandir o negócio, eu acho muito importante avaliar se ele está preparado para crescer e expandir. Planejamento e análise prévia podem ajudar a evitar erros gravíssimos, que às vezes geram dívidas.
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