Saiba como empreendedores lucram com serviço para pets diferentões

Porquinho-da-índia, arara-azul e corvo estão na lista de bichos atendidos por hotel e clínica veterinária

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São Paulo

A reboque da alta no mercado de pets, o nicho dos animais domésticos não convencionais cresce e começa a ser ocupado por novos empreendedores, voltados ao atendimento de porquinhos-da-índia, araras-azuis, cobras e outras espécies.

Esses empresários oferecem de cuidados veterinários a serviços de estética e alimentação, passando pelo enriquecimento ambiental (reprodução do habitat natural). Segundo dados do IPB (Instituto Pet Brasil), o país tem 66,2 milhões de bichos silvestres e exóticos domesticados.

"O mercado existe e vem aumentando desde a pandemia", afirma a veterinária Erica Couto, 41, dona há 12 anos da Clínica Tukan, exclusiva no atendimento de pets não convencionais localizada em Campininha (zona sul de São Paulo).

Porquinho-da-índia Peteca em atendimento na clínica Tukan, em SP
Porquinho-da-índia Peteca em atendimento na clínica Tukan, em SP - Lucas Seixas/Folhapress

Segundo ela, a maioria dos novos tutores ainda carece de informações adequadas sobre cuidados. "O que vem acontecendo com frequência é o responsável dos animais nos procurar só quando os bichinhos ficam doentes."

Erica diz ter identificado um tipo particular de cliente: tutores de primeira viagem e emocionados em ter, segundo ela, um "fofopet diferentão".

Ela conta que essas pessoas buscam o pet com o objetivo de alimentar perfis nas redes sociais e acabam levando as espécies da moda, sem as devidas orientações de como cuidar dos animais.

"Por isso, hoje, focamos em resolução clínica. O que isso significa? Manter o paciente vivo, oferecendo saúde preventiva aos animais.", afirma a veterinária, que cobra de R$ 250 a R$ 310 por consulta.

É a falta de locais dedicados a esses cuidados que garante clientes fiéis a esses novos empreendedores. Segundo Sandra Fiorentini, consultora de negócios do Sebrae de São Paulo, os tutores estão preocupados em deixar os animais em boas condições, independentemente da proximidade e do custo dos serviços.

"Os responsáveis por pets não convencionais não se importam de atravessar a cidade para deixar o animal. Eles querem conforto. Isso mostra que há uma demanda reprimida", diz Fiorentini, que já prestou consultoria para empreendedores do ramo.

Localizado em São Caetano do Sul (Grande ABC), o hotel Letty Sitter recebe araras-azuis, cacatuas, chinchilas e até corvo —deixado por um canadense. Fundado pela auxiliar de veterinária Letícia de Andrade, 26, o espaço de 150 metros quadrados é exclusivo para esse tipo de bicho.

O preço das diárias varia de acordo com a espécie, podendo custar de R$ 25, para um ratinho, a R$350, para uma minicabra.

"A demanda vem crescendo muito. E de maneira orgânica. Quando comecei, não tinha concorrentes", afirma Letícia, que incentiva a interação entre diferentes espécies.

Os animais dão entrada sobretudo às vésperas de feriado e férias dos responsáveis. Sob a supervisão da dona, papagaios e coelhos são estimulados a forragear o alimento, ou seja, investigar o meio a fim de encontrar comida, como no habitat silvestre.

"A gente recria isso para manifestar o comportamento natural e gastar o cognitivo deles. Eles até preferem usar a cabecinha."

Desde a chegada dos primeiros hóspedes, em setembro de 2022, o Letty Sitter já mudou de endereço e ganhou um espaço exclusivo para porquinhos-da-índia, com quatro metros quadrados. Ela afirma ter investido R$ 8.000 na estrutura.

Além disso, outros R$ 20 mil foram gastos em especialização com os cuidados terapêuticos das espécies atendidas.

"Preciso ter afinidade com eles, entender de linguagem corporal e personalidade. Se não conheço primatas, corro riscos ao pegar um macaco-prego, por exemplo."

Segundo Sandra, do Sebrae, adequar a estrutura física dos locais é um fator decisivo nesse nicho, pois garante o conforto buscado pelos tutores. Além disso, afirma, os empreendedores precisam mostrar o aspecto humano do negócio.

"Mesmo com todos os equipamentos, quem cuida? As pessoas querem ver que o animal está sendo bem tratado."

Esses negócios dependem de indicações e das redes sociais para atrair clientes.

Thiago Carvalho Lima, 32, dono da Terrários Brasil Exótico, diz receber boa parte das encomendas por meio de outros terrários e de seus perfis digitais.

Situada no bairro do Butantã (zona oeste de SP), a loja vende terrários simples, que custam R$ 1.900, até exemplares de R$ 30 mil. "A gente já transformou a sacada de uma casa em terrário. Quem estava na rua podia ver os animais. Ficou incrível". Lima projeta faturar R$ 100 mil líquidos nos próximos três anos.

Com 100 mil seguidores no perfil do hotel no Instagram, Letícia diz que 99% das demandas começam por lá.

"Rede social é tudo, meu portfólio e currículo", diz ela, lembrando que o momento de virada como empreendedora foi na plataforma.

"O responsável pela virada de chave do meu negócio foi o vídeo do ganso Claudinho, meu xodó." A publicação teve 3,7 milhões de visualizações.

"Ele estava se secando depois de tomar banho de piscina e, quando fui tirar uma formiguinha da pata para não incomodar, ele me abraçou. Ele mudou minha vida. Se não fosse ele, nem abriria o hotel."

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