Descrição de chapéu miss brasil Miss Universo

Vestidos de miss se tornam vitrine para estilistas brasileiros

Modelos mais luxuosos têm materiais nobres e podem custar até R$ 45 mil

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São Paulo

Julia Gama, Miss Universo Brasil 2020, havia acabado de vencer o concurso e precisava definir como se apresentaria na competição internacional. Ela visitou o ateliê da estilista Daniela Setogutti, 43, em Novo Hamburgo (RS), onde apresentou suas ideias.

Na ocasião, a miss revelou querer um vestido que misturasse tons de azul e roxo, inspirado no universo. Daniela anotou as informações e começou a trabalhar no projeto da roupa, denominada Galáxia.

Foi com esse vestido que Julia chegou à final do Miss Universo, ficando na segunda colocação. A estilista conta essa história com orgulho e fala também de muitos outros trabalhos que já fez ao lado de misses.

Daniela está sentada ao centro de seu ateliê, ao fundo aparecem quatro vestidos feitos por ela em manequins
A estilista Daniela Setogutti, 43, criou roupas para diversas misses, entre elas Julia Gama, Vice-Miss Universo 2020, e Maria Brechane, Miss Universo Brasil 2023 - Daniel Marenco/ Folhapress

Formada em administração, ela só começou a criar vestidos quando sua irmã, que também é estilista, mudou-se do Brasil. Ela, então, ficou responsável pelo ateliê que as duas tocavam juntas.

Segundo Daniela, um vestido com bordados em tule e cristais genuínos custa a partir de R$ 30 mil. Os modelos feitos sob medida e que ficam disponíveis para aluguel no ateliê têm preço inicial de R$ 20 mil. Peças que já estão prontas são alugadas por a partir de R$ 12 mil.

Desde que começou a vestir misses, sua marca cresceu consideravelmente. A estilista conseguiu comprar um prédio próprio para o ateliê e aumentar a equipe, que hoje conta com mais de dez pessoas. Ela possui um acervo com 500 vestidos de festa e outros 500 para noivas e debutantes.

A visibilidade das misses nas redes sociais transforma os concursos em uma grande vitrine para impulsionar os trabalhos dos profissionais da moda.

"Com o Instagram eu consigo atingir um público bem grande. Hoje eu atendo misses de fora do Brasil porque meu trabalho foi exposto em concursos internacionais", afirma o estilista Helcio Fernandes Júnior, 33.

Ele já vestiu mulheres que se destacaram nos concursos, como Isabella Menin, vencedora do Miss Grand International 2022. Helcio também criou vestidos para concursos em diversos países, como Estados Unidos, El Salvador, Costa Rica, Chile e Dinamarca.

Segundo ele, que é de Patos de Minas (MG), além de outras misses o procurarem a partir dessa divulgação, a busca do seu trabalho por formandas também cresceu.

Além de confeccionar peças sob medida, Fernandes aluga roupas de seu acervo, inclusive as que foram utilizadas nas passarelas dos concursos.

O estilista diz que o preço das peças pode variar muito, dependendo dos materiais utilizados e do trabalho necessário para criá-los. Ele já fez exemplares mais simples, com valor em torno de R$ 5.000, e vestidos elaborados que chegaram aos R$ 45 mil.

"Eu já fiz vestido com uma pedraria toda banhada a ouro e cravejado com pedras preciosas. Mas, às vezes, a pessoa quer uma coisa mais barata e eu me adequo ao orçamento que ela tem."

Outro estilista que viu a carreira crescer ainda mais após se aproximar dos concursos de miss foi o venezuelano Samuel Teixeira, 46, que chegou ao Brasil há 18 anos.

Filho de costureira e sobrinho de estilista, está envolvido com a moda desde a infância. Ele diz que a cultura das misses é ainda mais forte em seu país de origem.

Atualmente, Teixeira trabalha como stylist da marca responsável pelos concursos Miss Brasil Mundo, Miss Supranational Brasil e Miss Grand Brasil.

O estilista já criou vestidos para diversas misses, entre elas Isabella Menin e Sancler Frantz, que conquistou o terceiro lugar no Miss Supranational 2023 e ficou conhecida como a Barbie brasileira.

"Eu já tinha bastante credibilidade e muitas clientes, que eram noivas, madrinhas e debutantes. O mundo miss ajudou a aumentar a procura, porque a gente consegue fantasiar um pouco mais nesses vestidos, e conseguem ver o trabalho que o ateliê pode fazer."

Teixeira atendeu sua primeira miss em 2019 e diz que seu faturamento cresceu cerca de 30% de lá para cá. Segundo ele, em meses mais fracos, o faturamento fica em torno dos R$ 30 mil. Nos períodos de maior procura, chega a R$ 75 mil.

Ele diz que os vestidos que faz para misses costumam ser mais caros, porque todo o material precisa ser da melhor qualidade possível. Em média, um vestido simples custa cerca de R$ 6.000, já modelos mais elaborados, como os utilizados nas finais dos concursos chegam ao valor de R$ 25 mil.

Em relação às outras clientes, Samuel conta que uma das primeiras perguntas que faz a elas é sobre o orçamento disponível para o vestido. As peças feitas para noivas custam a partir de R$ 5.000, e para madrinhas, R$ 2.200. Em ambos os casos, não há limite de preços.

Samuel é um homem branco de cabelos pretos e curtos, ele veste uma camisa preta; Samuel está apoiado em um manequim com um vestido verde, ao fundo há outro manequim com um vestido rosa
O estilista Samuel Teixeira, 46, nasceu na Venezuela e mora no Brasil há 18 anos, ele já vestiu diversas misses, como Isabella Menin, vencedora do Miss Grand International 2022, e Sancler Frantz, que conquistou o terceiro lugar no Miss Supranational 2023 - Lucas Seixas/ Folhapress

O estilista e professor de desenho Antônio Gonzalez, 64, também é um entusiasta do mundo miss. Além de criar vestidos, ele também ajuda as candidatas em todas as etapas da preparação para o concurso.

Antônio, que é de Porto Alegre, trabalha com uma metodologia diferente. Ele cria o projeto dos vestidos, que serão confeccionados por outras costureiras. "Eu dou uma consultoria até o final, me comprometo a comprar os tecidos com ela, assistir a primeira e a última prova, até a entrega do modelo pronto", diz ele.

A criação do projeto de um vestido acompanhada da consultoria custa a partir de R$ 1.000. Antônio cria vestidos para uma média de dez misses por ano e acredita que esse tipo de projeto gera uma divulgação "boca a boca", fazendo com que muitas aspirantes a miss conheçam o seu trabalho.

Bruno Oliveira, 39, é figurinista. Ele fez os trajes típicos usados por Mia Mamede no Miss Universo 2023, e por Natália Guimarães na edição 2007 do concurso. Ele também criou um vestido em parceria com o artista Eduardo Kobra para a passagem de coroa de Mia no Miss Universo Brasil deste ano.

"O que eu tento sempre fazer nos meus trajes é sair do óbvio, nunca fazer algo muito literal. Eu sempre vou na contramão. A ideia é buscar uma particularidade do estado ou do país representado, mas que fuja do que as pessoas já viram", afirma o figurinista.

Segundo ele, um dos principais benefícios da participação nesses concursos é a visibilidade. Após cada evento, ele percebe um aumento significativo no número de seguidores nas redes sociais e na procura por seus trabalhos.

Em seu ateliê, Bruno emprega cerca de 20 pessoas. Ele diz que em épocas nas quais há maior procura, como no Carnaval, esse número pode dobrar.

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