Em 2010, o terceiro colocado de um concurso de beleza no Rio Grande do Norte recebeu uma faixa tão simples que Damião Teixeira, o preparador do candidato, resolveu incrementá-la com uma costura mais elaborada. "Foi aí que tudo começou. Desde então não parei mais", conta o empresário de Natal (RN).
Hoje, é da produção de faixas que ele tira seu sustento. Com clientes espalhados pelo Brasil e em mais de 60 países, a principal demanda vem dos concursos de beleza, mas há todo tipo de pedido. "Esses dias recebi uma encomenda para uma Bianca. Descobri que Bianca era a égua do rapaz que encomendou."
Desde que entrou para o ramo das faixas, Damião viu o mercado crescer e se modificar. Antes da pandemia, por exemplo, as competições concentravam-se do período pós-Carnaval até meados de novembro. "Agora, trabalhamos o ano todo, parece que as pessoas estão correndo atrás do prejuízo. É uma rotina muito puxada", afirma ele, que chega a produzir 15 peças em uma semana movimentada.
Também corrido é o dia a dia de Maria Cristina Belarmino, cuja marca MC A Despedida atende concursos de beleza, mas tem como foco faixas para despedidas de solteira e headbands personalizadas para shows.
Com uma produção mais ágil, ela faz uma peça em até uma hora e meia, totalizando quase 50 pedidos diários, enquanto Damião leva cerca de um dia para elaborar, sozinho, um exemplar para concursos.
Maria Cristina começou produzindo lembrancinhas para eventos, mas ampliou o portfólio após uma faixa encomendada para um amigo secreto fazer sucesso nas redes sociais, em 2015.
Os pedidos são recebidos em marketplaces e produzidos em um ateliê em Osasco (SP) por uma equipe de três pessoas além dela, que se dedica exclusivamente à marca. "Pelo fato de ser feito manualmente e demandar muito capricho, é difícil achar mão de obra compatível", diz a designer, que vende faixas entre R$ 26 e R$ 112.
Damião sente a mesma dificuldade quanto à mão de obra especializada. "Às vezes você pega uma pessoa que faz alta-costura e ela não consegue fazer uma faixa." Seus valores vão de R$ 250 a R$ 350, conforme o material escolhido e o nível de elaboração.
Assim como ele, Francisco Aguero atende principalmente franquias de concursos de beleza. Paraguaio, o então jovem de 18 anos veio para São Paulo em 2000 para trabalhar como costureiro e, após fazer especialização em design, produziu peças para concursos pequenos.
Em 2014, começou a trabalhar com Antonio Carlos de Lima, conhecido como o Mago das Faixas, que morreu em 2018. Francisco herdou o negócio e o título.
É ele quem faz os exemplares de todos os concursos estaduais e alguns municipais do Miss Universo no Brasil, além do Miss Brasil Terra, Miss Grand Brasil e Miss Gay São Paulo. E também tem clientes na Itália, Espanha e Bélgica.
Seu trabalho apareceu ainda na São Paulo Fashion Week, por encomenda do estilista Walério Araújo.
O processo de confecção do Mago é semelhante ao de Damião. Depois de cortar o tecido, geralmente cetim, Francisco busca os escritos em um bordador terceirizado para então costurá-los e fazer o acabamento. As rosetas —item com fitas franzidas localizado na parte de baixo— são feitas à mão, assim como a colocação das pedrarias.
Com dois ajudantes, ele faz 50 peças por mês, cujos preços variam entre R$ 170 e R$ 350. "Entra bastante dinheiro, mas roda muito porque os materiais não são baratos e ainda tem os funcionários."
Para complementar a renda, o costureiro trabalha como designer em uma empresa uma vez por semana.
Além das faixas, as coroas são muito valorizadas no mundo dos concursos. Segundo Tiago Seixas, joalheiro de Belo Horizonte (MG) que também atendeu o Miss Universo Brasil e o Miss Grand Brasil, a tendência entre as franquias é encomendar, a cada ano, peças que conversem com o conceito do concurso.
"As coroas estão deixando de ser simples para construir uma história. Está ficando cada vez mais interessante observá-las e compreender que elas carregam informação."
Daniele Amorim, por exemplo, dona da marca DMD Criações, de Maricá (RJ), já fez coroas com o contorno geográfico do respectivo estado do concurso. Com preços mais acessíveis do que o padrão —de R$ 230 a R$ 920—, há semanas em que ela produz 30 coroas, a maioria feita com latão niquelado e pedrarias de vidro.
Já Tiago utiliza latão banhado em ouro ou prata, com pedras naturais ou sintéticas, e faz entre cinco e seis peças por ano, que representam de 50% a 60% do seu faturamento como joalheiro. Sua faixa de valores catalogados começa em R$ 1.200 e vai até R$ 15 mil. A peça produzida por ele para o Miss Universo Brasil 2020, que coroou Julia Gama, foi avaliada em R$ 100 mil.
As referências estéticas para os modelos são uma mistura do repertório deles com a demanda específica dos clientes.
Apesar de os concursos liderarem os pedidos, Daniele e Tiago atendem encomendas para festas de aniversário, debutantes e formaturas. "Até para ensaios fotográficos já fiz. Cada um escolhe como vai usar", afirma a empresária.
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