Maior procura por orgânicos estimula contato com produtores

Negócios que conectam pequenos agricultores a consumidores tiveram crescimento acelerado na pandemia

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São Paulo

A demanda por alimentos orgânicos no Brasil tem aumentado cerca de 20% ao ano, segundo dados da Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos).

"Algumas questões que podem explicar essa busca são a preocupação com a preservação ambiental, cuidados com a saúde e o corpo, além do desejo de evitar o consumo de agrotóxicos", afirma Marcio Gazolla, professor do programa de pós-graduação em desenvolvimento regional da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

A maior procura por esses alimentos impulsionou empresas que se dedicam a conectar pequenos produtores rurais aos consumidores.

Hany e Manuela seguram cestas com produtos orgânicos, como melancia, cenoura, tomate, batata, maça, laranja, abacate e melão; Hany é uma mulher branca de cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, ela veste camisa branca e calça verde; Manuela é uma mulher branca, de cabelos pretos e cacheados, ela veste uma camisa branca e uma calça rosa
Hany Oliveira, 37, e Manuela Alves, 35, fundaram no final de 2015 a Quitanda Orgânicos, em Recife - Leo Caldas/Folhapress

Criada no fim de 2015, no Recife, a Quitanda Orgânicos faz entregas na casa dos clientes sempre às quartas. As proprietárias Hany Oliveira, 37, e Manuela Alves, 35, afirmam que o propósito é ajudar as pessoas a terem uma vida saudável em meio à correria.

Os clientes fazem seus pedidos por meio do site ou do WhatsApp. É possível comprar produtos avulsos ou optar pela assinatura, com entregas semanais ou quinzenais, de uma cesta com número determinado de frutas, legumes e verduras. Os pacotes podem ser em tamanho individual, casal ou família.

"Começamos há três meses com a assinatura. A gente percebeu que os clientes novos estão assinando, mas os antigos acabam comprando como já estão acostumados", afirma Alves. Ela diz que a maioria das vendas ainda ocorre de forma avulsa.

Outra empresa é a Raízs, que atende mais de 100 mil consumidores no estado de São Paulo e trabalha com mais de mil agricultores pelo país.

"A Raízs se propõe a levar a agricultura familiar do campo à cidade por meio de tecnologia. Nós entendemos que a cadeia era muito desigual, injusta e ineficiente, por passar por muitos distribuidores e supermercadistas, o que aumentava a perda de alimentos", diz Tomás Abrahao, 32, CEO da companhia.

A empresa utiliza uma ferramenta de inteligência artificial e aprendizado de máquina para estabelecer a previsão de demanda para os agricultores. "Com esse planejamento, o produtor já sabe o quanto ele vai vender, para quem e qual vai ser a renda dele com esses produtos."

A tecnologia ajuda a reduzir o desperdício de alimentos e contribui para a queda de preços, já que corta intermediários entre o agricultor e o consumidor. "Com a plataforma não é preciso passar por um distribuidor rural, depois um distribuidor urbano e depois por um supermercado até chegar no cliente."

A Raízs também oferece modalidades de vendas avulsas ou por assinatura. Na segunda modalidade, é possível customizar as cestas de acordo com os alimentos disponíveis.

Segundo o empresário, cada um dos modelos é responsável por metade do faturamento. O ticket médio das vendas avulsas fica em torno de R$ 300, enquanto o das assinaturas é R$ 110.

Fundada em 2019, a Local Farmers entrega alimentos orgânicos em Porto Alegre e na cidade de Canoas às quartas e aos sábados.

Segundo a cofundadora e proprietária Márcia Ruff, 44, que é engenheira agrônoma, a prioridade é a venda programada. Toda semana é enviada uma lista com os itens disponíveis, e o cliente seleciona o que quer receber.

Nas três empresas, além de frutas, legumes e verduras, as pessoas podem comprar outros produtos, como cereais, laticínios e ovos.

Esse tipo de negócio cresceu ainda mais durante a pandemia, devido à facilidade da entrega na casa dos consumidores e à maior preocupação com a alimentação saudável.

De acordo com Ruff, o número de clientes chegou a 300 por semana naquele período. Atualmente, fica em torno de 50. Para se reinventar, a Local Farmers passou a realizar uma feira presencial.

"A maioria dos produtores são feirantes. Quando veio a pandemia, as feiras foram fechadas por um período, e nós fomos essenciais nessas vendas. Hoje em dia, os agricultores também se reinventaram, mas nós seguimos firmes", afirma ela.

Antes da pandemia, a Quitanda Orgânicos, do Recife, tinha uma média de 20 clientes semanais. Hoje, esse número ultrapassa os 50. O ticket médio também aumentou, passando de R$ 80 para R$ 130. A equipe, que inicialmente contava apenas com as duas fundadoras, agora é formada por cinco pessoas, além dos serviços terceirizados de marketing e tecnologia.

A Raízs também cresceu nesse período e tem triplicado as vendas ano a ano, segundo Abrahao. Hoje, o número de funcionários chega a 186.

Apesar da alta procura, o professor Gazolla destaca que a oferta desse tipo de produtos ainda pode crescer. Ele afirma que menos de 2% das propriedades rurais são destinadas aos orgânicos, de acordo com o Censo Agropecuário.

Para o especialista, alguns fatores que explicam esse índice baixo são os custos para certificação, as adaptações necessárias nas propriedades e até mesmo a proximidade com áreas de outros produtores que fazem uso de agrotóxico. "Falta mais incentivo do governo em políticas de assistência técnica, de crédito e de extensão rural", diz.

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