Escolha de ponto para negócio deve pesar valor do aluguel, perfil do bairro e até sentido da rua

Geomarketing, ferramenta que analisa dados sobre a região, pode ajudar micro e pequenos empreendedores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A escolha do ponto para abrir um negócio vai além do endereço ou estado do imóvel e deve considerar também, segundo especialistas, o planejamento financeiro da empresa e características demográficas da região.

"Quando falamos do micro e do pequeno empreendedor, às vezes ele já tem um ponto em casa ou em um espaço com possibilidade de abrir o negócio. Nesses casos, é importante olhar o entorno para avaliar que tipo de negócio caberia na região", afirma Isabela Albuquerque, gerente de produtos de dados na Geofusion, que oferece soluções com base em inteligência geográfica.

Já quando o empreendedor definiu primeiro o ramo de para depois escolher o ponto, deve fazer uma análise mais ampla, considerando qual produto ou serviços pretende vender e quem é o público-alvo.

Marta Miasato, sócia do salão Soho Hair da Vila Madalena, em São Paulo
Marta Miasato, sócia do salão Soho Hair da Vila Madalena, em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

"Se é um negócio de conveniência, precisa ter um fluxo grande de pessoas naquela região e o estabelecimento deve ser de fácil acesso. Até o sentido da rua é importante porque, se o cliente precisa parar o carro e o estabelecimento fica do lado contrário, ele vai ter dificuldade para acessar a loja. Todos esses aspectos precisam ser avaliados para minimizar qualquer erro na escolha do ponto", diz.

Para isso, empreendedores podem fazer uso do geomarketing, abordagem que utiliza informações geográficas, socioeconômicas e demográficas para melhorar o desempenho das empresas, explica Ney Cavalcante, coordenador da incubadora Base, da ESPM do Rio de Janeiro.

"Com o geomarketing, eu consigo personalizar campanhas de marketing de acordo com a localização dos consumidores, posso identificar oportunidades de negócio que eu nem pensava em explorar, além de mapear os melhores locais para abrir lojas. Isso porque ele me permite analisar dados da concorrência, densidade populacional e comportamento do cliente."

De acordo com Cavalcante, há ferramentas abertas e gratuitas, como Google Earth, Fusion Tables e a do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que mostram informações sobre determinada região e sua população —dados como quais são os estabelecimentos no entorno, se as pessoas moram ou trabalham ali, em que horário frequentam a região, poder aquisitivo, entre outros.

Fundador e CEO da Plaza, empresa de locação comercial de imóveis que usa inteligência artificial, Julio Viana afirma que o geomarketing é a etapa número dois na hora de escolher um ponto.

A primeira seria o desenvolvimento do plano de negócios, que envolve determinar quanto deverá ser investido na locação, quanto o empreendedor precisará vender para pagar o aluguel, a perspectiva de faturamento para os próximos dois anos e os riscos trazidos pelo imóvel.

"Teve muita chuva em São Paulo recentemente. Se você pegar um ponto comercial cujo telhado não esteja apropriado para a época de chuvas e tiver problemas nas telhas, vai ficar com o negócio parado, deixando de faturar", diz.

Outros riscos são inundações e quedas de energia. Assim, além de escolher o melhor ponto, o empreendedor deverá reservar parte do orçamento para emergências.

Segundo Viana, o ideal é que o aluguel represente cerca de 5% do faturamento de uma loja de rua após dois anos de ganhos. Em shoppings, esse valor se aproxima dos 10%, já que estão inclusos também condomínio e fundo de promoção do espaço.

Já Cavalcante diz que números mágicos não existem, mas manter o valor gasto em uma média de 8% a 11% do faturamento pode contribuir com a segurança financeira.

"Restaurantes, salões de beleza e o setor de serviços podem gastar uma proporção menor à medida que vão expandindo o negócio."

Foi o que Marta Akiko Miasato, 54, cabeleireira e sócia do salão Soho Hair, da Vila Madalena, viu acontecer. Dona de metade da empresa há nove anos, ela gasta hoje 10% do faturamento no aluguel. A porcentagem era maior nos outros dois endereços pelos quais o salão passou, todos no mesmo bairro.

"Percebemos que nossos clientes são da região. Então, apesar de mudarmos de endereço três vezes, não poderíamos sair do bairro. O que a gente percebe com o nosso tipo de negócio é que as pessoas não querem se deslocar para cortar o cabelo ou fazer a manicure, por isso não podemos nos mudar para longe."

Ela conta que o primeiro espaço, ocupado de 1996 a 2014, ficava no segundo andar de um prédio, com pouca visibilidade e sem acessibilidade para pessoas idosas. Em 2014, mudou para um ponto térreo, nos fundos de uma loja.

Quando a proprietária pediu o imóvel, em 2022, ela decidiu que era hora de encontrar um lugar virado para a rua. "O nosso movimento cresceu bastante. Por estarmos na rua, tem movimento de gente. Estamos atendendo cerca de 30% mais clientes do que no segundo endereço que tivemos", diz.

O salão faz parte da rede Soho, conhecida por sua filosofia japonesa e especialidade em cabelos de pessoas amarelas. São cerca de 900 atendimentos por mês, com ticket médio de R$ 180.

"Temos uma técnica oriental para cortar esse tipo de cabelo, então eles nos procuram, mas a nossa clientela é diversificada. Atendemos homens, mulheres e crianças."

Outra estratégia de atração é o horário de funcionamento. O espaço atende de segunda a sábado, frequência incomum no setor, que costuma ter folga no domingo e na segunda. Na empresa, cada cabeleireiro tem o próprio CNPJ e é remunerado por comissão —em média, 30% do valor dos atendimentos. No caso das manicures, a fatia é de 65%, já que as profissionais compram todos os produtos usados.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.