Descrição de chapéu The New York Times

Líder de milícia que lutou contra os EUA lidera eleição no Iraque

Coalizão de Muqtada al-Sadr, que também é crítico ao Irã, venceu em seis províncias no país

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Manifestantes em Bagdá carregam um cartaz de Muqtada al-Sadr logo após a divulgação dos primeiros resultados da eleição
Manifestantes em Bagdá carregam um cartaz de Muqtada al-Sadr logo após a divulgação dos primeiros resultados da eleição - Hadi Mizban - 14.mai.2018/Associated Press
Margaret Coker Rick Gladstone
Bagdá | The New York Times

Muqtada al-Sadr, um líder miliciano incendiário cujas forças combateram as tropas americanas no Iraque e se envolveram em extensas atrocidades contra civis, surgiu surpreendentemente como um dos principais nomes nas eleições nacionais do país, segundo autoridades eleitorais.

Depois que as forças dos EUA se retiraram do Iraque, em 2011, Al-Sadr manteve seu discurso antiamericano, embora também critique muito o Irã, a outra potência estrangeira com ampla influência no país. 

A vitória da coalizão política de Al-Sadr poderia complicar a estratégia de Washington no Iraque. Os militares americanos têm treinado, compartilhado informações e planejado missões com antigos milicianos no país, apostando que essa parceria militar possa impedir o retorno do Estado Islâmico.

Al-Sadr criticou intensamente os ataques aéreos dos EUA no Iraque contra o EI, mas pouco disse sobre sua disposição a permitir que tropas americanas continuem em solo iraquiano.

As autoridades americanas não têm certeza —apesar de não estarem preocupadas ainda— de qual será a posição do futuro governo iraquiano sobre a questão.

Alguns aliados políticos de Al-Sadr, mesmo os que lutaram contra tropas americanas no passado, querem que os EUA fiquem e ajudem a reerguer o país. Seus adversários mais próximos na eleição também apoiam a permanência dos americanos. E até mesmo os representantes de Al-Sadr disseram que ele respeitará os acordos entre os EUA e o Iraque para o treinamento de forças de segurança do país.

Al-Sadr já liderou a milícia xiita iraquiana conhecida como Exército do Mahdi, que combateu ao lado das forças americanas depois da invasão em 2003 que derrubou Saddam Hussein e a minoria sunita que estava no poder. O Exército do Mahdi foi acusado de formar os esquadrões da morte que cometeram represálias contra os sunitas durante as disputas sectárias no país em 2006 e 2007.

No início da invasão liderada pelos EUA, o presidente George W. Bush chamou Al-Sadr de inimigo e até considerou brevemente a ideia de que os militares americanos o capturassem ou matassem. "Não podemos permitir que um homem mude o rumo do país", disse Bush em uma videoconferência.

Al-Sadr, que faz parte de uma família de religiosos xiitas, passou anos remodelando sua imagem. Hoje ele se apresenta como um populista independente, decidido a combater a corrupção, e capitalizou as dificuldades vividas por muitos iraquianos devido a esse sistema nocivo.

Ele não critica mais os EUA de modo tão contestador quanto antes, quando seus discípulos mataram soldados americanos e cometeram atrocidades contra os sunitas em banhos de sangue. Ele se projetou como um nacionalista ardente e se distanciou do Irã, a potência xiita vizinha que estabeleceu uma crescente influência no Iraque depois da retirada dos militares americanos em 2011.

Al-Sadr era conhecido por suas viagens prolongadas ao Irã, mas no ano passado levantou indagações com uma visita à Arábia Saudita, o rival regional do Irã, onde se encontrou com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, e outros.

Os milicianos xiitas de Al-Sadr tiveram um papel proeminente ao ajudar na luta para expulsar os extremistas do EI que tomaram grandes cidades iraquianas há quatro anos, e hoje muitos fazem parte das forças armadas do país.

Em uma entrevista em 2017 a uma emissora de TV turca, Al-Sadr defendeu a ajuda aos iraquianos sunitas de Mossul que apoiaram a calamitosa ocupação da cidade pelo grupo.

"Ainda há moderados entre a população, mas estão assustados", disse ele. "Temos de lhes dar uma chance de aparecer e colocar suas ideias."

Agora ele perturbou a ordem política nacional.

Embora Al-Sadr não fosse um candidato e não possa se tornar primeiro-ministro, ele comandou uma aliança improvável de candidatos que incluía os últimos comunistas, empresários sunitas e ativistas religiosos que conquistaram seguidores por sua forte posição contra a corrupção.

A coalizão de Al-Sadr, segundo autoridades iraquianas, ficou em primeiro lugar em seis províncias, incluindo a capital densamente povoada, Bagdá. Sua aliança poderá ter a primeira oportunidade de formar uma coalizão de governo, e na noite de segunda-feira (14) em Bagdá multidões de jovens no bairro pobre de Cidade Sadr exibiram fotos de Al-Sadr e soltaram fogos de artifício.

Mas não há garantia de que Al-Sadr terá a última palavra sobre quem será o próximo líder iraquiano, ou mesmo um dos principais. As negociações entre os partidos concorrentes no Iraque deverão continuar pelos próximos 15 dias, e a paisagem política poderá mudar.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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