Descrição de chapéu Coreia do Norte

Liderado por Kim, regime exerce brutal controle sobre os norte-coreanos

Execuções e doutrinação estão entre violações dos direitos humanos apontadas no país

The New York Times

Com o encontro entre o presidente Donald Trump e Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte, ocorrido nesta terça-feira (12) em Singapura, grupos de direitos humanos esperavam que Trump mencionasse os amplos crimes contra a humanidade cometidos pela Coreia do Norte.

Kim governa com extrema brutalidade, tornando seu país um dos piores violadores dos direitos humanos. Na Coreia do Norte, esses crimes "significam extermínio, assassinato, escravização, tortura, prisão, estupro, abortos forçados e outras violências sexuais, perseguição por motivos políticos, religiosos, raciais e de gênero, a transferência forçada de populações, o desaparecimento forçado de pessoas e o ato desumano de propositalmente causar fome prolongada", concluiu um relatório da ONU de 2014 que analisou a Coreia do Norte. Aqui estão algumas das atrocidades que aconteceram lá.

Uma rede de campos-prisões

Muitos norte-coreanos vivem com medo. Isso é intencional, e é reforçado pela impiedosa polícia do Estado.

Pessoas acusadas de crimes políticos são detidas e condenadas a campos-prisões sem julgamento, enquanto suas famílias muitas vezes não são informadas de seu paradeiro. Até 120 mil pessoas estavam detidas nos quatro maiores presídios políticos do país em 2014, submetidas a condições terríveis, segundo o relatório da ONU.

Os prisioneiros passam fome, são obrigados a trabalhar, torturados e violentados. Os direitos reprodutivos são negados por meio de abortos e infanticídios. Alguns são executados, às vezes em público. Centenas de milhares de prisioneiros políticos morreram nos campos nos últimos 50 anos, segundo o relatório da ONU.

Além dos campos políticos, a Coreia do Norte opera prisões para os acusados de crimes comuns. Algumas são campos de trabalho de curto prazo. Outras detêm prisioneiros que enfrentam tortura prolongada, fome e sofrimento.

Inimigos de Kim e parentes foram executados

Desde que Kim assumiu o governo em 2011, sucedendo a seu pai, Kim Jong-il, ele consolidou seu poder por meio de execuções. Nos primeiros seis anos como líder, ordenou a execução de pelo menos 340 pessoas, segundo o Instituto para Estratégia de Segurança Nacional, um grupo de pensadores ligado ao Serviço Nacional de Inteligência dos EUA.

Em 2016, Kim Jong-jin, o vice-primeiro-ministro para Educação, foi morto por um pelotão de fuzilamento depois de mostrar "posição desrespeitosa" em uma reunião. Hyon Yong Chol, um general das Forças Armadas, dormiu em uma reunião e foi executado com uma arma antiaérea.

O meio-irmão do ditador Kim Jong-un, Kim Jong-nam, em foto de 2001; ele foi morto em 2017
O meio-irmão do ditador Kim Jong-un, Kim Jong-nam, em foto de 2001; ele foi morto em 2017 - Toshifumi Kitamura - 4.mai.2001/AFP

A família também não está a salvo. Um dos tios de Kim, Jang Song-thaek, foi condenado por traição, executado por metralhadoras antiaéreas e seu corpo incinerado com lança-chamas.

Kim Jong-nam, o meio-irmão rejeitado pelo líder norte-coreano, foi morto no ano passado de forma muito pública: perto de um balcão de embarque no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, na Malásia.

Duas mulheres foram gravadas por câmeras de segurança aproximando-se dele e esfregando uma substância em seu rosto —um agente químico conhecido como VX, segundo determinaram mais tarde os EUA. Kim Jong-nam morreu em poucos minutos. As mulheres foram presas, mas os EUA viram evidências de que a Coreia do Norte foi responsável pelo ataque.

"Uma máquina de doutrinação abrangente"

Com frequência as primeiras violações dos direitos humanos que ocidentais atribuem à Coreia do Norte, além de impedir que norte-coreanos deixem o país, são os esforços do regime para doutrinar seus cidadãos.

Segundo o relatório da ONU, que foi preparado por sua Comissão de Inquérito e tem mais de 300 páginas, a Coreia do Norte "opera uma máquina de doutrinação abrangente que se enraíza desde a infância, propagando um culto da personalidade oficial e fabricando uma obediência absoluta" a Kim.

O pensamento independente é eliminado, e a propaganda que glorifica o Estado é abundante, segundo o relatório, assim como a propaganda destinada a "incitar o ódio nacionalista contra inimigos oficiais", como o Japão e os EUA.

Cristianismo é considerado "ameaça séria"

A Coreia do Norte considera perigosa a disseminação da maioria das religiões, mas o cristianismo é considerado uma "ameaça especialmente perigosa" porque "oferece uma plataforma para organização social e política e interação fora do reino do Estado", segundo o relatório da ONU.

Os cristãos são proibidos de praticar sua religião, e os apanhados em infração são "submetidos a severas punições", concluiu o relatório. Os líderes norte-coreanos também confundem os cristãos com os detidos em campos de prisioneiros, os que tentam fugir e "outros considerados influências subversivas", afirma o documento. 

Em entrevistas ao New York Times em 2012, quatro norte-coreanos disseram que foram advertidos de que os campos de trabalho seriam o destino dos que falassem com jornalistas ou missionários cristãos. "Se o governo descobrir que estou lendo a Bíblia, estou morta", disse uma mulher.

Em sua Lista Mundial de Vigilância de 2018, o grupo cristão Portas Abertas classificou a Coreia do Norte como o pior país do mundo para os cristãos, e em um comunicado na semana passada o grupo conclamou os cristãos a participarem de 24 horas de orações e jejum na segunda-feira (11) antes da reunião entre Trump e Kim. 

"Fome deliberada" como jogada de poder

De 2 milhões a 3 milhões de pessoas teriam morrido durante uma penúria prolongada na Coreia do Norte nos anos 1990, relatou o New York Times em 1999, quando o país começava a se recuperar.

Na época, a Coreia do Norte usou os alimentos como instrumento para reforçar a lealdade política, priorizando sua distribuição com base em quem era mais útil para o sistema político do país, afirma o relatório da ONU.

Mais recentemente, a população carcerária nos campos de prisioneiros políticos do país foi intimidada por meio de "fome deliberada", concluiu o relatório, acrescentando que os suspeitos também são submetidos à penúria para "aumentar a pressão para que confessem e incriminem outras pessoas".

Quando o relatório de 2014 foi realizado, concluiu que a fome e a desnutrição ainda são problemas disseminados entre a população em geral, e as mortes por fome continuam sendo relatadas. Isso levou a comissão da ONU a manifestar o temor de que possa ocorrer outra fome em massa. "Leis e políticas que violam o direito à alimentação adequada e à liberdade da fome continuam em vigor", disse o documento.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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