OEA pede proteção a bispo mediador após morte de manifestantes na Nicarágua

Opositor, Silvio José Báez recebeu ameaças de morte de seguidores do presidente Daniel Ortega

Dois homens se abraçam chorando. Um deles, de camisa branca e cinza estampada, coloca a mão no vidro que cobre o caixão de um adolescente. O outro, de camisa azul, abraça envolvendo a mão na cabeça do primeiro. Uma outra mulher, de camisa branca e também chorando, abraça os dois. Os três são observados por outras pessoas que também participam do velório em uma sala.
Familiares choram ao lado do caixão de Orlando Córdobas, 15, um dos 16 mortos nos protestos de quarta-feira (30) na Nicarágua - Oswaldo Rivas/Reuters
Manágua | AFP e Reuters

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos pediu nesta sexta-feira (1º) proteção a Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua, na Nicarágua, após ele deixar a mediação das negociações entre o presidente do país, Daniel Ortega, e os manifestantes que pedem sua saída.

Báez desistiu do diálogo devido à repressão das forças de segurança e de paramilitares aliados a Ortega aos protestos, que atingiu seu ponto mais violento na quarta, quando 16 pessoas morreram.

Para a comissão, ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos), os direitos à vida e à integridade pessoal do religioso e de sua família correm grave risco. 

“Ele foi alvo de operações de descrédito, ameaças de morte e ataques do governo orquestrados através de jornalistas e meios de comunicação governistas e contas anônimas em redes sociais”, diz o órgão, em comunicado.

O bispo é um dos principais críticos de Ortega e reforçou suas declarações ao crescer a repressão aos protestos iniciados em 18 de abril que pedem a renúncia do mandatário. “Na Nicarágua existe uma ditadura há muitos anos”, disse, em entrevista ao Diario Las Américas no dia 27 daquele mês.

Apesar de ser opositor, ele era o representante da Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) na mesa de diálogo. Na quinta (31), a entidade católica disse que não voltará à mesa do diálogo enquanto “o povo continue sendo reprimido e assassinado nas ruas”.

A própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos havia considerado excessiva a força das equipes de segurança oficiais e das milícias aliadas de Ortega contra a oposição após visita ao país em meados de maio.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos acusa as forças do presidente de matarem todos os 16 manifestantes mortos na quarta no ato que rememorava a morte de outras 83 pessoas na onda de protestos e coincidiu com o Dia das Mães no país.

Em comunicado, o governo negou sua responsabilidade pelas mortes e as atribuiu aos manifestantes mascarados que usam a tática black bloc para entrar em confronto com os agentes oficiais.

“Não existem forças de choque nem grupos paramilitares afins ao governo, motivo pelo qual não podemos aceitar que tentem nos acusar de acontecimentos dolorosos e trágicos que não provocamos nem jamais provocaremos.”

O diálogo começou em 16 de maio em um clima de tensão. Os representantes da oposição, que reúnem estudantes, pequenos agricultores e empresários, reivindicavam a antecipação das eleições, previstas para 2021, enquanto o governo exigia o fim dos protestos e os acusava de conspirar para um golpe de Estado.

Na noite desta sexta, a OEA anunciou ter fechado um acordo com o governo para uma reforma eleitoral, a ser iniciada em julho, com a visita de especialistas para reuniões com autoridades, partidos políticos e integrantes da sociedade civil. 

A reforma é revelada um dia depois da renúncia do presidente do Conselho Supremo Eleitoral, Roberto Rivas, alvo de sanções dos EUA e acusado de usar o órgão para beneficiar Ortega e prejudicar a oposição nas votações no país.

As versões para a saída, no entanto, são desencontradas. A OEA afirma que faz parte de um acordo da negociação entre governo e oposição, enquanto as autoridades atribuem o afastamento a um problema de saúde de Rivas.

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