'Achei que fosse um terremoto', diz sobrevivente de queda de ponte na Itália

Mecânico trabalhava ao lado da estrutura quando 'carros capotavam por cima dos galpões vizinhos'

Diana Brito
Gênova (Itália)

Com a voz embargada e as mãos trêmulas, o mecânico italiano Carmelo Chiarenza, 36, disse que por pouco não conseguiu escapar do desmoronamento da ponte Morandi, nesta terça-feira (14), em Gênova, na Itália.

 
O mecânico italiano Carmelo Chiarenza, 36, conta como correu para se proteger do desmoronamento da ponte de Gênova
O mecânico italiano Carmelo Chiarenza, 36, conta como correu para se proteger do desmoronamento da ponte de Gênova - Diana Brito/Folhapress

Ele trabalhava em sua oficina, ao lado da estrutura, quando ouviu um estrondo e correu para se proteger na entrada da loja, mas quase foi atingido pelos carros que capotavam em meio a telhas e concreto.

“Foi um barulho devastador. Senti uma vibração muito forte. Era nítido que não era só a tempestade. Achei que fosse um terremoto”, disse o mecânico à Folha.

“Só deu tempo de correr e me proteger, mas o pavimento todo tremia e carros e caminhões capotavam por cima dos galpões vizinhos na minha direção."

O italiano disse que sua oficina não chegou a ser atingida, mas a área continua isolada para facilitar os trabalhos de buscas das vítimas.

Até o início da tarde desta quarta-feira (15), a polícia havia confirmado 39 mortos. Entre as vítimas estão romenos, albaneses, sul-americanos (ainda não se sabe as nacionalidades), além de italianos.

O acidente aconteceu por volta das 11h40 da manhã desta terça (14) quando um trecho da ponte se desintegrou durante uma forte tempestade e caiu a 45 metros de altura, levando cerca de 30 carros e ao menos três caminhões com ela, de acordo com Angelo Borrelli, chefe do Departamento de Proteção Civil de Gênova.

A reportagem foi até o centro municipal Buranello, onde a maior parte dos cerca de 400 desabrigados haviam sido encaminhados, mas ninguém foi encontrado. Funcionários informaram que todos teriam passado por uma triagem e foram levados por agentes municipais a hotéis e casas. A prefeitura teria se comprometido a arcar com as despesas.

Folha também esteve no Hospital San Martino, onde estão internados sete sobreviventes (quatro em estado grave) resgatados dos escombros, mas nenhum familiar quis dar entrevista. Outras 15 pessoas também foram socorridas logo após a queda da ponte, na terça (14).

Ao menos mil pessoas, entre eles bombeiros, policiais, médicos e enfermeiros socorristas e voluntários, trabalham no resgate das vítimas em turnos revezados, segundo a polícia italiana. Eles contam com cães farejadores, britadeiras, retroescavadeiras e um sistema improvisado de iluminação local. 

Até o início da noite desta quarta (15) ainda era possível ouvir o som de celulares tocando no meio dos escombros, de acordo com um policial. “Sabemos que há mais vítimas lá, mas não temos certeza se estão vivos”, disse.

Mesmo com a cidade menos movimentada com um feriado católico, o trânsito segue engarrafado, principalmente para quem chega ou segue ao aeroporto internacional Cristóvão Colombo, localizado a cerca de três quilômetros da ponte. 

Ao menos oito condomínios de casas e prédios foram evacuados no entorno da ponte. Cerca de 400 desabrigados encaminhados para o centro municipal Buranello.

Ainda traumatizado, Chiarenza ​nterrompeu a entrevista e disse que não tinha condições psicológicas para falar mais sobre a tragédia. “Só espero que a Justiça seja feita e os responsáveis sejam punidos”, afirmou.

Promotores italianos abriram uma investigação para descobrir o que causou a queda da ponte de Gênova. A polícia local também abriu inquérito. 

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, declarou nesta quarta estado de emergência por um ano na região da Ligúria, em Gênova, por causa do desastre. Em entrevista a jornalistas na cidade, ele disse que fez a declaração após um pedido das autoridades regionais. As providências a serem tomadas, no entanto, ainda não foram divulgadas.

Inaugurada há 51 anos pelo engenheiro italiano Riccardo Morandi, que emprestou o nome a ponte, a estrutura já havia apresentado problemas desde a sua construção em 1960, por conta do alto custo de manutenção.

“Ninguém sabe ainda se a companhia responsável pela ponte estava cumprindo com todas as obrigações de monitoramento e manutenção justamente por conta do alto custo", afirmou Enrico Musso, professor do Departamento de Economia e Transporte da Universidade de Gênova.

"De qualquer forma as pessoas dizem que ouviam eles fazendo reparos na ponte com frequência, geralmente durante a madrugada."

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