Itália vai tirar licença de empresa operadora de ponte que ruiu

Roma inicia cassação da concessão da Autostrade per l'Italia, cuja empresa-mãe atua no Brasil

Gênova (Itália) | Reuters

O governo da Itália iniciou nesta sexta (17) os procedimentos para revogar a concessão de operação da Autostrade per l’Italia, empresa responsável pela manutenção da estrada onde ficava a ponte Morandi, que desabou em Gênova na terça-feira (14).

O acidente —cujas causas são alvo de inquéritos da polícia, da Justiça e do Executivo federal— deixou 41 mortos e 14 feridos, segundo bombeiros locais. A contagem oficial do governo é de 38 mortos.

“Hoje o governo enviou uma carta formal à Autostrade per l’Italia anunciando o início do processo de revogação de sua concessão”, anunciou o governo do premiê Giuseppe Conte, que também disse que o governo cobrará mais investimentos em manutenção e segurança das concessionárias de infraestrutura que atuam no país.

O comunicado atribui a responsabilidade do ocorrido à empresa, a qual alega ter a obrigação de cuidar da manutenção ordinária e extraordinária da estrada e de suas pontes, e dá 15 dias de prazo para a operadora apresentar sua defesa.

Segundo o ministro do interior e vice-premiê Matteo Salvini, do partido de direita radical Liga, o processo de cassação da concessão pode levar semanas ou meses. 

Especialistas do setor advertem, porém, que a cassação pode levar o governo a pagar até € 20 bilhões (R$ 90 bilhões) em compensações à empresa pelos investimentos já feitos.

A Atlantia, empresa-mãe da Autostrade per l’Italia, pertence à família Benneton —a mesma da marca de roupas— e opera estradas no Brasil por meio de um consórcio com a Bertin que atua em São Paulo e Minas Gerais, a AB Concessões. Desde a queda da ponte, as ações da empresa caíram cerca de 25% na Bolsa de Milão.

Uma possibilidade apontada por engenheiros seria a fragilidade dos cabos que sustentam o concreto armado da ponte. A erosão provocada pelo uso de sal no inverno e pelas condições climáticas e o aumento do tráfego nos últimos anos também foram citados. A ponte Morandi tinha 51 anos e recebeu manutenção pela última vez em 2016.

Neste sábado, o governo promoverá um funeral de Estado para as vítimas em um centro de convenções e conduzido pelo arcebispo de Gênova, cardeal Angelo Bagnasco. Conte e o presidente Sergio Mattarella participarão.

Algumas das famílias, porém, prometem boicotar o evento em protesto à inação do governo quanto à infraestrutura no país.

As buscas por corpos e sobreviventes entraram no quarto dia. Ainda que a chance de encontrar alguém vivo seja mínima, as equipes de resgate afirmam que é possível que a forma como os pedaços de concreto caíram tenham formado um bolsão de ar, viabilizando a sobrevivência. 

Ao menos cinco pessoas continuavam desaparecidas.

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