Tarifas de Trump sobre papel aceleram demissões em jornais regionais

Veículos maiores, como The Tampa Bay Times, vencedor do Pulitzer em 2016, também são afetados

Catie Edmonson Jaclyn Peiserthe
Washington | The New York Times

A decisão do governo Trump de impor tarifas ao papel de imprensa produzido no Canadá está acelerando as demissões em jornais locais dos EUA, forçando publicações que já enfrentavam dificuldades a reduzir suas equipes, o número de dias de circulação e, pelo menos em um caso, a fechar completamente.

Os custos crescentes dos jornais impressos começam a prejudicar publicações como The Gazette de Janesville (Wisconsin), o jornal da cidade natal do presidente da Câmara, Paul Ryan, que há muito sentia a necessidade de cortar gastos.

O jornal, com uma Redação de 22 pessoas, foi o primeiro a noticiar que Ryan apoiaria a candidatura de Donald Trump. Embora seu conselho editorial tenha endossado Ryan inúmeras vezes, o jornal foi notícia nacional quando o criticou por se recusar a realizar reuniões com seus eleitores.

Hoje, com as tarifas sobre o papel aumentando os custos de impressão anuais em US$ 740 mil (R$ 2,8 milhões), The Gazette fez vários cortes de pessoal e está usando papel mais estreito, reduzindo o número de reportagens publicadas diariamente.

"Estamos todos pagando um preço enorme", disse Skip Bliss, editor da Gazette, sobre o efeito das tarifas no setor. "Temo que será uma época muito difícil. Acho que provavelmente haverá algumas baixas."

As tarifas sobre o papel de imprensa fazem parte de várias medidas comerciais que Trump aplicou no esforço de seu governo para proteger os fabricantes americanos, contendo o que chama de práticas comerciais injustas.

As tarifas foram implementadas em janeiro, depois que o Departamento do Comércio se aliou à North Pacific Paper Co., uma fábrica de papel sediada no estado de Washington, em uma queixa alegando que os fabricantes canadenses vendiam papel-jornal por preços artificialmente baixos.

Na semana passada, os editores tiveram um pequeno alívio quando o departamento emitiu tarifas finais de 3,38% a 16,88%, ligeiramente menores do que havia aplicado inicialmente.

Embora as tarifas pareçam se alinhar ao conhecido desprezo de Trump pela imprensa noticiosa, a decisão do governo a favor da companhia que moveu a ação não foi incomum na luta comercial do presidente. O governo incentivou empresas a mover processos quando têm queixas contra similares estrangeiras, e o processo de "imposto compensatório" sob o qual o caso da North Pacific Paper foi iniciado se destina a defender as empresas americanas das concorrentes estrangeiras.

Em meados de julho, as empresas tinham aberto 120 novas investigações antidumping e de imposto compensatório sob o governo Trump —cerca de um terço a mais que num período semelhante no final do governo Obama, segundo estatísticas do Departamento do Comércio.

Assim como as outras tarifas de Trump sobre aço, alumínio, painéis solares e máquinas de lavar, os impostos sobre papel de imprensa ajudarão alguns fabricantes americanos, mas prejudicarão muitas outras empresas nacionais.

Um estudo realizado em nome de uma coalizão de gráficas, editoras e fornecedoras de papel projeta que o preço do papel-jornal nos EUA aumentará mais de 30% em um ou dois anos, e que os jornais e gráficas enfrentarão um aumento de custos de aproximadamente US$ 500 milhões (R$ 1,9 bilhão) pelas cinco fábricas de papel-jornal que restam nos EUA.

O estudo foi apresentado à Comissão de Comércio Internacional dos EUA, um órgão federal independente que rege o setor e poderá derrubar ou modificar a decisão do Departamento do Comércio em uma decisão judicial esperada para o próximo mês.

Jornais de todo o país já estão sentindo os efeitos das tarifas. Pelo menos 12 jornais cortaram os dias de publicação, e um deles, o Jackson County Time-Journal, de Ohio, fechou, devido à queda do número de leitores da edição impressa e às tarifas.

Publicações maiores, como The Tampa Bay Times, que ganhou prêmios Pulitzer em 2016 por reportagem local e investigativa, também estão na lista dos jornais afetados.

Paul Tash, presidente e executivo-chefe desse jornal, disse que o preço do papel por tonelada aumentou US$ 200 (R$ 760), criando um custo adicional em despesas de impressão de US$ 3,5 milhões (R$ 13,3 milhões) por ano.

Tash disse que, em consequência direta das tarifas, teve de demitir 50 funcionários, juntar seções do jornal de domingo e reduzir a frequência de um tabloide gratuito de cinco dias por semana para um.

"Qualquer coisa que aumente a pressão sobre este jornal causa preocupação", disse Tash. Mas ele afirmou que o jornal não perdeu sua missão de produzir jornalismo de qualidade. "Continuamos fazendo um ótimo trabalho, grandes reportagens. Continuamos fazendo as pessoas prestarem contas. Não quero deixar a impressão de que só restam palavras cruzadas."

Em algumas cidades da zona rural, o jornal semanal serve como único canal de informações da região, disse Crystal Dupre, editora de The Bryan-College Station Eagle, em Bryan, no Texas. "Não há dúvida de que sem um jornal local ninguém cobra atitudes das autoridades, nem serve como arquivo local", disse Dupre.

Em reação aos aumentos do custo de impressão de 30%, disse ela, The Eagle reduziu o número de páginas que imprime diariamente e evitou preencher cargos vagos "em todos os departamentos", do editorial à contabilidade.

Dupre disse que tentou evitar cortar cargos de repórter, em vez disso pedindo a outros departamentos que assumam mais trabalho. "Os leitores sofrem quando você corta um repórter. É provavelmente o cargo mais fácil de cortar, porque você simplesmente publica uma matéria de agência", disse ela. "Mas afeta seu conteúdo local. Não sobrevivemos sem conteúdo local."

Os editores de jornais estão otimistas de que a pressão do Congresso possa abrandar as tarifas. Uma legislação apresentada em maio pela senadora republicana Susan Collins, do Maine, suspenderia as tarifas enquanto Wilbur Ross, o secretário do Comércio, realiza um estudo de suas consequências sobre o setor.

Ela tem 31 copatrocinadores dos dois partidos, e a deputada democrata Kristi Noem, da Dakota do Sul, apresentou um projeto relacionado na Câmara. Ryan manifestou preocupação sobre as tarifas a Ross, disse seu gabinete na quarta-feira (8).

Bliss disse que a redução das tarifas é crucial para garantir a sobrevivência de pequenos jornais regionais.

"Quando eles desaparecerem, não voltarão mais", afirmou. "Isso significa que essas comunidades, tudo o que fazemos para que os governos, as escolas e a polícia prestem contas, não haverá ninguém para fazer isso."

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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