Alemanha demite chefe de espionagem por simpatizar com extrema direita

Hans-Georg Maassen questionou vídeos de perseguições a imigrantes na cidade de Chemnitz

Berlim | Reuters

O governo da chanceler alemã, Angela Merkel, decidiu nesta terça-feira (18) destituir o chefe do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, a agência de espionagem), Hans-Georg Maassen.

Maassen é acusado de ter simpatizado com a extrema direita durante protestos no mês passado na cidade de Chemnitz, no leste do país.

Hans-Georg Maassen, então chefe da agência de espionagem alemã, BfV, em Berlim - Tobias Schwarz - 24.jul.18/AFP

Enquanto várias autoridades do governo, entre elas a própria Merkel, condenaram os eventos, Maassen questionou a autenticidade de vídeo que mostrava neonazistas perseguindo estrangeiros pelas ruas da cidade.

Na ocasião ele afirmou que a BfV não tinha "informações confiáveis sobre uma perseguição acontecendo". Maassen também questionou se um vídeo postado pelo usuário Antifa Zeckebiss mostrava, como dizia, uma "caçada em Chemnitz" no dia 26 de agosto.

Os protestos em Chemnitz tiveram início após a morte de um homem por supostamente um sírio e um iraquiano. O sírio continua preso, mas o iraquiano foi solto nesta semana.

Maassen irá ocupar um cargo no Ministério do Interior. O nome de seu sucessor não foi anunciado.

Sua saída foi um acordo entre Merkel (da União Cristã Democrata, CDU) e seus parceiros de coalizão, o ministro do Interior, Horst Seehorf, da União Cristã Social (CSU), e Andrea Nahles, líder do Partido Social Democrata (SPD).

Seehofer defendeu Maassen, mas Nahles preferia que ele fosse exonerado.​

"O ministro do Interior, Horst Seehofer, valoriza a competência de Maassen em questões de segurança pública", afirmou nota do governo.

O acordo foi criticado por setores mais à esquerda da política alemã.

"Maassen não é mais chefe da espionagem. Isso é bom. Mas é uma farsa que ele tenha sido praticamente promovido e que o SPD tenha aceitado isso", afirmou Dietmar Bartsch, do partido A Esquerda.

Merkel também foi criticada por ter levado 11 dias para tomar uma decisão sobre Maassen. ​

Sociedade dividida

Os protestos de extrema direita em Chemnitz, cidade de cerca de 250 mil habitantes próxima da fronteira com a República Tcheca, começaram após a morte de um carpinteiro alemão de 35 anos no dia 26 de agosto. A polícia divulgou poucos detalhes sobre o episódio, dizendo apenas que ele foi esfaqueado após uma discussão com migrantes.

Além do iraquiano que foi solto e do sírio que continua preso, um terceiro suspeito está foragido. Os promotores acreditam que ele e o sírio estão envolvidos na morte. 

As manifestações do dia seguinte à morte do alemão se tornaram violentas, com grupos de skinheads filmados perseguindo pessoas com aparência de estrangeiras nas ruas. Um dia depois, outro protesto mais cheio tomou as ruas.

No fim de semana seguinte, a cidade foi tomada por atos pró e antifascistas, cada um com cerca de 4 mil participantes.

As tensões fervilhantes sobre imigração, identidade, raça e religião têm corroído a Alemanha desde que Merkel permitiu a entrada de mais de 1 milhão de migrantes no auge da crise dos refugiados.

Isto deu força à ascensão da Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de direita nacionalista que conquistou 92 assentos parlamentares nas eleições do ano passado e hoje é o maior partido de oposição no Bundestag. Essas tensões explodiram em Chemnitz.​

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