Descrição de chapéu Governo Trump

Em Washington, Stormy Daniels relembra caso com Trump e critica feminismo

Atriz pornô foi a evento de livraria na capital americana para promover seu novo livro

A atriz pornô Stormy Daniels durante evento em livraria de Washington
A atriz pornô Stormy Daniels durante evento em livraria de Washington - Roberto Schmidt/AFP
Washington

Faltavam mais de duas horas para o início do evento da noite em uma das principais livrarias de Washington e cerca de dez pessoas já guardavam seus lugares para garantir que veriam a protagonista de perto.

"Moro na esquina e todos só falavam disso na rua", afirmou a aposentada Patty Greenwald, 71. "Achei que seria interessante vir para ouvir o que ela tem a dizer. Estou muito curiosa para ver como ela se apresenta."

Era a primeira vez em que a atriz pornô Stormy Daniels, pivô de um escândalo sexual envolvendo o presidente americano Donald Trump, participaria de uma conversa na capital federal sobre o seu novo livro de memórias, "Full Disclosure" (revelação completa), lançado em outubro.

Na obra, ela fala sobre a infância problemática, as primeiras experiências como stripper e detalhes sórdidos da relação que afirma ter tido com o mandatário americano quando ele já era casado com Melania Trump— o republicano nega ter se envolvido com a mulher.

"Eu li o livro e o achei muito bem escrito e interessante", contou a advogada Abbe Jolles. "Ela parece ser bem brilhante, e isso foi o que mais chamou a minha atenção. Vim para vê-la pessoalmente."

Perto das 18h (21h, no horário de Brasília) desta segunda (3), os poucos curiosos no fundo da livraria, onde o tablado estava montado, já haviam se transformado em centenas. Os idosos eram maioria entre o público.

"Vim para ser entretido, nada mais", disse o consultor de tecnologia da informação Dan Schwartz, 73, que vive no estado vizinho de Maryland. "E pode ser que ela faça um show de strip."

Stormy entrou em cena em meio a muitos aplausos. A condução da conversa ficou a cargo da jornalista do jornal The Washington Post Sally Quinn, viúva de Ben Bradlee, mais importante editor executivo do jornal americano.

O que se seguiu foi um bate-papo descontraído sobre a juventude de Stormy, sua paixão por cavalos e, claro, Trump. Suas tiradas envolveram a plateia, que oscilava entre risadas e aplausos, mas nem todos estavam preparados para o que estava por vir: um espectador chegou a desmaiar no meio da conversa, mas sem gravidade.  

Quinn começou elogiando o livro, que classificou como "muito engraçado e muito inteligente", e Stormy por ter "desafiado o presidente dos Estados Unidos como ninguém havia feito antes". Declaração que foi seguida por aplausos da plateia, claramente mais democrata do que republicana.

A atriz afirma ter feito sexo com Trump em 2006. Em meio à campanha presidencial de 2016, o então advogado de Trump, Michael Cohen, a mando do cliente, pagou US$ 130 mil (mais de R$ 490 mil) pelo silêncio da mulher.

Ela negou na conversa que o tenha chantageado. "Caso o tivesse feito, teria pedido muito mais do que US$ 130 mil", disse. "Sou uma mulher de negócios, isso é um insulto!"

Também criticou o fato de ter sido tachada como mentirosa só pelo fato de "ter uma vagina" —e "uma vagina conhecida, que todos já viram".

Quando a história veio à tona, as duas partes travaram uma batalha jurídica. Stormy processou Trump por difamação (caso que foi perdido) e tenta também anular o acordo de confidencialidade sobre a relação que tiveram mais de dez anos atrás (ainda não foi julgado).

Já o advogado do presidente diz que a atriz deve a eles cerca de US$ 780 mil (mais de R$ 2 milhões) referentes ao honorários advocatícios do processo de difamação.

Boa parte do que falou sobre Trump na conversa já havia sido publicado ou televisionado. Mas a plateia ouviu atenta a todas as palavras e adjetivos relacionados ao presidente.

Os dois se conheceram em um torneio de golfe no lago Tahoe, na Califórnia. Na ocasião, um segurança de Trump teria a convidado para jantar com o então empresário. Mas, em vez disso, foi parar no quarto do hotel onde ele estava hospedado. Ele a aguardava com um pijama de seda. "Me prometeram comida, o que eu ainda não ganhei", brincou.

A atriz conta no livro que foi o sexo menos impressionante de sua vida e que o republicano tem um pênis pequeno. Ela alega que os dois tiveram relações sem camisinha, mas que não corria o risco de engravidar porque estava tomando pílula.

Stephanie começou na carreira de stripper para sustentar o que descreveu como as grandes paixões de sua vida: seus cavalos. O livro, aliás, poderia ter se chamado "Eu fiz tudo pelos cavalos", segundo ela. "Andar a cavalo me dava poder, confiança e liberdade", contou.

Sobre o trabalho na indústria de filmes pornô, afirmou que é uma profissão como qualquer outra, com altos e baixos. "Alguns dias são ótimos. Há uma garota bonita, um garoto bonito, você se sente linda e a química é boa", afirmou. "Em outros, você está menstruada, com espinhas no rosto e não quer trabalhar."

Contou que, antes de engravidar, exigiu que o ex-marido gravasse um filme pornô. Queria evitar que, no caso de um divórcio, perdesse a guarda da criança só porque era uma atriz de filmes adultos. Dessa forma, os dois estavam no mesmo barco. Acabaram por se separar no meio de 2018. 

A filha tem hoje oito anos. Sabe que "a mamãe escreve, dirige e, às vezes atua em filmes". Mas ainda não sabe o que é sexo. Não espera que a menina fique chocada no dia em que contar o que realmente faz porque nudez nunca foi tabu na família. "Vou dar o meu livro para ela e tomar uma taça de vinho", brincou.

Uma das partes mais delicadas do livro é a que trata sobre o abuso sexual que Stormy diz ter sofrido quando era criança. Ela contou na livraria que, originalmente, essa parte de sua vida não estava no livro. "Era a única coisa que me impedia de estar totalmente exposta", afirmou a atriz.

Mas, no fim das contas, foi positivo porque incentivou seus leitores e amigos próximos a denunciarem os agressores, segundo ela. "Recebi mensagens de homens e mulheres [relatando abusos]. Me senti ótima e terrível ao mesmo tempo", contou.

Disse que tem sido apoiada por mulheres desde que o caso veio à tona, mas criticou o feminismo porque estava a colocando "dentro de uma caixa". "Quase todos tentavam empurrar o movimento #MeToo para mim, e isso me deixou furiosa", afirmou. "Porque apesar de todas as questões que tive com Donald Trump, eu não fui atacada ou abusada. Eu tomei a decisão, da qual me arrependo, mas foi a minha escolha".

O que mudou na sua vida desde que tudo foi exposto? "Eu tenho cabelo branco agora, isso é muito preocupante."

Às 19h (22h do Brasil) em ponto a conversa foi encerrada. Dali, escoltada por dois seguranças, Stormy seguiu para o Cloakroom, um famoso clube de strip em Washington. Quem não garantiu o livro com antecedência ficou sem autógrafo.

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