Netanhyahu antecipa eleições em Israel para abril

Favorito, premiê conservador visa aumentar capital político em momento em que sofre pressão

Daniela Kresch
Tel Aviv

Três dias antes de embarcar para uma visita histórica ao Brasil, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta segunda (24) a dissolução imediata da coalizão de seu governo e a convocação de eleições gerais em Israel.

A votação acontecerá em 9 de abril próximo. Nesta terça (25), horas depois da reunião entre líderes dos partidos da coalizão que decidiu pela antecipação, o Knesset (Parlamento) deve ser dissolvido, dando início à campanha.

Netanyahu, sentado diante de uma escrivaninha, faz sinal de vitória com pulso cerrado
Binyamin Netanyahu anuncia em discurso antecipação das eleições para abril - Marc Sellem/AFP

“O governo completará quatro anos de mandato com tremendas realizações. Transformamos Israel em potência mundial. Continuamos com mão firme a impedir a consolidação do Irã na Síria e estamos prestes a acabar com o desmantelamento dos túneis do [grupo radical e partido libanês] Hizbullah. Nos campos econômico e social, nossas conquistas são enormes”, disse Netanyahu.

“A coalizão de agora é a semente da nova coalizão. Pedimos mandato do povo de Israel para continuar com no caminho certo a liderar o país”.

Netanyahu é premiê há uma década, mas, ao todo, já governou o país por 13 anos —de 1996 a 1999, e desde 2009— tornando-se o premiê com mais tempo no cargo no país. 

Em 2013, foi reeleito e, em 2015, venceu pela quarta vez. Atualmente, ele também é titular das pastas de Relações Exteriores, Defesa e Saúde no governo mais à direita que Israel já teve.

Boa parte dos analistas políticos afirmava que Netanyahu não chegaria ao final de seu mandato, em novembro de 2019, por causa dos problemas que enfrenta dentro de sua coalizão e das investigações por corrupção que podem levar a um indiciamento.

O estopim para a convocação foi a saída da coalizão, em novembro, do partido de ultradireta Israel Nossa Casa, do ex-ministro da Defesa, Avigdor Lieberman. Sem os seis parlamentares do partido, a coalizão de Netanyahu foi reduzida a 61 das 120 cadeiras do Knesset, uma maioria frágil para a aprovação de leis.

“O problema era a coalizão estreita. Poderíamos sobreviver por mais algum tempo, mas não tinha jeito”, disse o ministro do Turismo e da Imigração, Yariv Levin, a um canal de TV.

O anúncio ocorre pouco após o ex-jornalista Yair Lapid, líder do partido de centro Há Futuro, anunciar que votaria contra uma lei importante para os partidos ultraortodoxos que integram a coalizão de Netanyahu.

A lei, sobre alistamento de jovens ultraortodoxos no Exército, tinha que ser votada até 15 de janeiro. Se não fosse aprovada, abriria nova crise. 

Com novas eleições, ela fica congelada, e Netanyahu pode ampliar sua base nas urnas.

Para alguns analistas, no entanto, a dissolução do governo leva em conta o possível indiciamento do premiê em quatro casos de corrupção.

O procurador-geral, Avichai Mandelblit, estava prestes a se pronunciar a respeito e, embora as investigações prossigam, precisará aguardar o pleito para evitar influenciar o processo democrático. 

“O premiê conseguiu manter o controle do governo nos últimos meses. O que aconteceu foi a questão das investigações. Todos entendem que poderíamos ter indiciamento a qualquer momento”, disse a analista política Dana Weiss.

Até abril, a política israelense deve experimentar uma radicalização do embate entre governo e oposição. 
Netanyahu é o favorito para reeleição, segundo todas as pesquisas de opinião, mantendo o patamar de 30 assentos no Parlamento para seu partido, o Likud.

Mas enfrentará oponentes veteranos, como Lieberman e o ministro da Educação, Naftali Bennet (partido Casa Judaica). Os ex-generais Moshe “Bogie” Ya’alon e Ehud Barak também podem surpreender. 

Na oposição, destacam-se Lapid, Avi Gabbay (com a ex-chanceler Tzipi Livni no Campo Sionista) e o ministro das Finanças, Moshe Kahlon.

Há, porém, um nome que pode desbancar Netanyahu: o ex-chefe das Forças Armadas Benny Gantz, que pode abocanhar votos prometendo melhorar a segurança do país, com problemas tanto na fronteira com a faixa de Gaza quanto com Síria e Líbano.

O general, considerado uma “pomba” em termos de políticos de defesa, pode ser o líder que a esquerda procura para competir contra a hegemonia dos “falcões” da direita. 

“O público está cansado com o que acontece aqui no Parlamento, e é bom que haja eleições. Estou otimista e acho que os cidadãos de Israel vão votar em termos morais”, afirmou a líder do partido Meretz, da esquerda radical, Tamar Zandberg.

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