EUA fazem acordo com Taleban para retirar tropas do Afeganistão em cinco anos

Planos se alinham às críticas de Trump ao envolvimento americano em conflitos no exterior

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Washington | The New York Times

Todas as tropas americanas deixariam o Afeganistão durante os próximos três a cinco anos de acordo com um novo plano que o Pentágono apresentou ao país nesta quinta-feira (28).

Sob o novo acordo, há a possibilidade da formação de um governo em Cabul que incluiria o grupo extremista Taleban.​

Exército Nacional do Afeganistão desfila durante uma cerimônia militar na base de Guzara, na região oeste do país, nesta quinta (28)
Exército Nacional do Afeganistão desfila durante uma cerimônia militar na base de Guzara, na região oeste do país, nesta quinta (28) - Hoshang Hashimi/AFP

Desde 2001, quando os EUA iniciaram ações militares no país em resposta aos atentados de 11 de setembro em Nova York, pouco progresso foi feito para estabilizar a região. 

As negociações atendem, em parte, aos apelos do presidente americano, Donald Trump, que tem repetidamente expressado ceticismo em relação à participação prolongada dos EUA em conflitos no exterior. 

As demais tropas estrangeiras atualmente presentes no território afegão sairiam no mesmo período. 

De acordo com os termos discutidos, metade dos 14 mil militares americanos regressariam aos Estados Unidos nos próximos meses. 

Os americanos se concentrariam em operações de contraterrorismo —o que já estaria previsto mesmo se as negociações não avancem, afirmam oficiais. 

Os planos têm sido bem recebidos pela Otan e por Washington, mas autoridades americanas alertaram que o presidente Trump pode barrá-los a qualquer momento.

Até a retirada completa das tropas, os americanos seguiriam conduzindo ataques contra os grupos terroristas Al Qaeda e Estado Islâmico, incluindo ações em parceria com os comandantes afegãos. 

As operações de contraterrorismo e a presença militar americana, mesmo que pequena, são críticas para viabilizar os trabalhos da CIA no Afeganistão. 

Negociações com o Taleban

Na segunda-feira (25), diplomatas americanos se reuniram com o Taleban no Qatar na mais alta cúpula entre os dois lados da história — o general Austin S. Miller, comandante da missão internacional no Afeganistão, estava entre os interlocutores.

Os dois lados devem ainda definir os detalhes da retirada total das tropas americanas e o compromisso do Taleban em combater grupos terroristas que buscam atacar os EUA a partir do território afegão. 

Cabul não participa do diálogo, já que o Taleban se recusa a conversar com o presidente Ashraf Ghani e seus enviados. 

Os representantes do grupo terrorrista se opõem firmemente à permanência ao prazo de cinco anos para o fim das operações de contraterrorismo americanas. Por outro lado, os EUA não estão seguros de que um período menor seria aceito pelo grupo. 

A redução das operações de treinamento poderiam deixar o já enfraquecido exército afegão vulnerável a ataques e sob o risco de divisões internas.

Em janeiro, Ghani anunciou que mais de 45 mil militares afegãos havia morrido desde 2014. Oficiais do Pentágono consideram o número improvável e infundado. 

Apesar de ter destinado bilhões de dólares às forças armadas afegãs na última década, avaliações do Pentágono concluíram que os esforços para modernizar a aeronáutica dificilmente serão bem-sucedidos —segundo estimativas, a força aérea só se tornaria auto-suficiente nos anos 2030. 

Demais tropas estrangeiras

As negociações envolvem aliados europeus, que foram consultados sobre os termos em discussão —uma diferença significativa em relação à retirada dos americanos da Síria, anunciada unilateralmente por Trump em dezembro. 

As tropas europeias e australianas (cerca de 8.600 militares) ficariam responsáveis por treinar as forças armadas afegãs —uma das prioridades da missão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) desde o início da década.

"Os europeus são plenamente capazes de conduzir os treinamentos", disse James Stavridis, um almirante americano aposentado e ex-alto comandante da Otan. 

"É uma boa divisão de trabalho. Faz sentido que os americanos concentrem a maior parte dos seus esforços em operações especiais", afirmou. 

Segundo Stavridis, as duas missões militares atuariam de forma coordenada, e os EUA forneceriam apoio logístico às tropas europeias. 

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