Os eleitores de Denver, cidade no Colorado que está na vanguarda do debate cada vez mais amplo sobre a legalização da maconha nos EUA, decidirão nesta terça-feira (7) se será a primeira do país a descriminalizar outra droga recreativa: os cogumelos alucinógenos.

A medida que será posta em votação local não legalizaria propriamente os cogumelos "mágicos" —que contêm psilocibina, uma substância psicodélica natural. Os regulamentos estaduais e federais teriam de mudar para se conseguir isso.

Mas, se for aprovada, tornará a posse, o uso ou o cultivo desses cogumelos por pessoas com mais de 21 anos um crime de menor prioridade para a polícia da cidade e do condado de Denver. As prisões e os processos, já bastante raros, poderão praticamente desaparecer.

A aprovação da medida poderia indicar a nascente aceitação pelo público de uma droga que altera a mente, proibida nos Estados Unidos há quase 50 anos e que, segundo pesquisas recentes, pode ter usos médicos benéficos.

Uma iniciativa semelhante falhou e não foi votada na Califórnia no ano passado, mas poderá ressurgir em 2020. Os eleitores do Oregon também poderão votar uma medida comparável no próximo ano.

Os proponentes de policiamento mais leniente para a psilocibina citam estudos que indicam que a droga pode ser benéfica para tratar depressão e ansiedade entre pacientes de câncer. Outros estudos identificaram usos potenciais em terapia para alcoólatras e pessoas que tentam parar de fumar, e no tratamento de depressão mesmo em quem não têm câncer. 

"Como a psilocibina tem um tremendo potencial médico, não há motivo para que os indivíduos sejam criminalizados pelo uso de algo que cresce naturalmente", disse Kevin Matthews, diretor da campanha "Descriminalize Denver".

Matthews, 33, atribui aos cogumelos de psilocibina o fato de ele ter saído de uma grande depressão que o obrigou a deixar a academia militar dos Estados Unidos em West Point, onde foi cadete durante três anos, quando tinha 20 e poucos.

"Ela realmente me ajudou a enxergar fora da caixa da minha vida", disse Matthews sobre a droga. "Ela me tirou das profundezas de minhas lutas internas e do desespero."

Matthew Johnson, professor associado de psiquiatria e ciências do comportamento na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, foi um dos autores de um estudo no ano passado que recomendou que a Administração de Alimentos e Drogas (FDA na sigla em inglês) reclassificasse a droga para reconhecer seus potenciais usos médicos e relativamente baixo potencial de abuso.

A psilocibina não causa dependência, e "não há [registro de] overdose letal direta" da droga, disse Johnson. 

"Mas alguém pode tomar uma dose que seja psicologicamente desafiadora", advertiu ele. "A pessoa entra em pânico, anda no meio dos carros e morre. É uma escala reconhecidamente pequena, mas se for seu filho ou filha que entrou num acidente fatal, por mais raro que seja, é muito real."

Os pesquisadores que estudam os efeitos da psilocibina usam uma versão sintética da droga em ambientes cuidadosamente controlados, disse ele, o que é diferente de alguém que cultiva os cogumelos e os consome em casa.

"A descriminalização em geral é apoiada pela ciência de saúde pública", disse Johnson sobre a votação em Denver. "Mas se isso acontecer, eu espero que a cidade seja muito clara de que não está endossando o uso e que há riscos muito claros."

A medida em votação, o regulamento 301, também criaria um grupo de especialistas para analisar o impacto da lei na saúde pública e na segurança. A votação vai até as 19h no horário local (22h pelo horário de Brasília). 

Art Way, diretor estadual no Colorado de um grupo pró-descriminalização, a Drug Policy Alliance , elogiou o esforço local em Denver de reduzir o empenho policial no combate à psilocibina, mas fez uma advertência a respeito de abordar a questão como algo corriqueiro."Separar algumas drogas como boas e outras como ruins só vai perpetuar a guerra das drogas", disse ele. 

As prisões em Denver por incidentes envolvendo psilocibina não passaram de 59 em cada um dos últimos três anos, e só 11 casos foram processados legalmente nesse período.