Descrição de chapéu The New York Times

Onda de calor intensa já faz pelo menos 36 mortos na Índia

Com atraso das chuvas de monções, temperaturas altas de até 50,5 ºC devem continuar

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Mujib Mashal
Nova Déli (Índia) | The New York Times

Uma das ondas de calor mais intensas e prolongadas em décadas na Índia, com temperaturas de até 50,5 ºC, já provocou pelo menos 36 mortes desde que começou, em maio, e o governo avisa que o sofrimento pode continuar porque as chuvas das monções estão atrasadas.

 

As ondas de calor vêm sendo especialmente fortes na Índia nos últimos dez anos, à medida que a mudança climática se intensificou pelo mundo afora, fazendo milhares de mortos e afetando cada vez mais estados nesse país. 

Neste ano as temperaturas extremas atingiram grande parte do norte e centro da Índia. Rajastão, Madhya Pradesh, Uttar Pradesh e Maharashtra estão entre os estados mais afetados.

A população armazena água potável durante um dia de altas temperaturas
A população armazena água potável durante um dia de altas temperaturas - Noemi Cassanelli/AFP

Anup Kumar Srivastava, especialista do departamento nacional indiano de Gerenciamento de Desastres, disse que o número de estados indianos atingidos por ondas de calor subiu de nove em 2015 para 19 em 2018 e está previsto para chegar a 23 neste ano.

“Neste ano, as ondas de calor também têm sido mais prolongadas”, disse. “A temperatura noturna também tem sido alta, não apenas a diurna.”

Srivastava disse que tempestades iminentes podem reduzir a temperatura em algumas áreas, mas que as ondas de calor podem recomeçar enquanto não chegarem as chuvas das monções.

O calor chegou a cerca de 51 ºC duas vezes na última semana na área de Churu, no Rajastão, ao norte da Índia. 

O Departamento Meteorológico indiano avisou que um calor tão extremo provoca “probabilidade muito alta de insolação e internação em pessoas de todas as idades”. 

Temperaturas superiores a 48 ºC foram registradas em vários outros pontos do estado. As autoridades cancelaram licenças ou férias de médicos em Churu devido ao aumento grande no número de pacientes. Em Madya Pradesh, na Índia central, as escolas estão fechadas. 

Um calor prolongado de pelo menos 45 ºC é classificado como onda de calor, e quando a temperatura passa de 47 graus por um período prolongado, trata-se de uma onda de calor grave. 

Na capital, Nova Déli, a temperatura alcançou o recorde de 47,8 ºC na segunda-feira (10). Tempestades de poeira no dia seguinte fizeram a temperatura a cair para 38 ºC.

A probabilidade de recordes de calor serem quebrados em todo o mundo é crescente devido à alta temperatura média decorrente da alta nas emissões de gases estufa.

Moradores de Nova Déli coletam água potável em um caminhão disponibilizado pelo governo
Moradores de Nova Déli coletam água potável em um caminhão disponibilizado pelo governo - Noemi Cassanelli/AFP

Embora haja variações ano a ano, a tendência global é inequívoca: os cinco anos mais quentes da história registrada foram os últimos cinco, e 18 dos 19 anos mais quentes da história ocorreram desde 2001.

Uma análise recente das tendências climáticas em várias das maiores cidades do sudeste asiático concluiu que, se a tendência atual de aquecimento se mantiver, até o final deste século os níveis de calor e umidade serão tão altos que pessoas expostas ao calor diretamente por seis horas ou mais não poderão sobreviver.

As vítimas mais recentes da onda de calor neste ano foram quatro pessoas com idades entre 69 e 80 anos, que morreram na terça-feira (11) em Uttar Pradesh durante uma viagem de trem sem ar condicionado.

A despeito das temperaturas extremas, o número de mortos neste ano é baixo até agora em comparação com anos anteriores. 

Mais de 6.000 pessoas morreram na Índia desde 2010 em decorrência de ondas de calor, segundo dados do governo. 

O maior número de mortos ocorreu em 2015: mais de 2.000. 

As ondas de calor continuaram a ocorrer, mas o número de mortes atribuíveis imediatamente ao calor caiu significativamente desde então: foram registradas 375 em 2017 e 20 em 2018. 

Mas as contagens oficiais de mortos muitas vezes não captam a letalidade total de uma onda de calor. 

Pesquisadores em saúde pública descobriram que na cidade de Ahmadabad, no oeste da Índia, onde o clima normalmente já é quente, houve um aumento de 43% na mortalidade total em comparação com o mesmo período de anos anteriores quando a temperatura subiu para 47,8 ºC em maio de 2018. 

Mas autoridades e analistas atribuem a queda nas mortes informadas às precauções adotadas pelo governo desde 2015. 

O governo passou a exortar as empresas a reduzir e mudar os horários de trabalho de seus funcionários em épocas de ondas de calor, especialmente em locais ao ar livro como canteiros de obras, e passou a oferecer água potável gratuita à população em áreas especialmente vulneráveis e superlotadas.

​Srivastava disse que neste ano o departamento de Gerenciamento de Desastres adotou como meta reduzir o total de mortos para menos de dez. 

Mas a enorme eleição nacional indiana teria complicado os esforços, porque funcionários públicos que seriam necessários para divulgar as medidas preventivas foram, em vez disso, enviados para trabalhar nas eleições. 

No estado de Gujarat, no oeste do país, as autoridades se preparam para um problema meteorológico extremo de outro tipo: um ciclone de grandes proporções estava se aproximando da área, com ventos de mais de 160 km/h. 

Voos e viagens de trem foram canceladas e cerca de 300 mil pessoas foram evacuadas. Mas na manhã da quinta-feira (13), parecia que o ciclone não chegaria a Gujarat.

Foi a segunda tempestade de grandes proporções a atingir a Índia neste ano. Em março, o ciclone Fani atingiu Odisha, no leste do país. O sistema de aviso antecipado funcionou e o governo evacuou cerca de 1 milhão de pessoas e conseguiu evitar um elevado número de vítimas.

Tradução de Clara Allain

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