Execuções públicas e condenações arbitrárias continuam sendo aplicadas na Coreia do Norte, segundo revelações de uma ONG sul-coreana. A entidade divulgou um relatório no qual denuncia a existência de 300 locais de execuções e valas secretas para sepultamento dos condenados.
As informações são fruto de uma longa investigação da ONG Grupo de Trabalho sobre a justiça de transição. A organização entrevistou mais de 600 refugiados norte-coreanos e descobriu a existência de 318 locais de execução pública no país, além de 25 terrenos usados para sepultar os cadáveres.
Segundo o relatório, as execuções seriam realizadas quase sempre com armas de fogo, muitas vezes diante de centenas de pessoas, obrigadas a assistir à aplicação das penas de morte.
"Quando presenciei minha primeira execução eu tinha apenas oito anos de idade", lembra Oh Se-hyek, um dos refugiados ouvidos pela ONG. Segundo ele, em algumas regiões do país os chefes dos vilarejos recrutavam os moradores para assistirem às aplicações de pena. "Eles iam às escolas, e os professores levavam seus alunos para ver as execuções", relata.
De acordo com o refugiado, essas execuções acontecem frequentemente em províncias na divisa com a China, onde muitos norte-coreanos tentam atravessar a fronteira ilegalmente.
"As autoridades exterminam pessoas nas escolas ou em estádios, como uma mensagem enviada aos demais para que não tentem fugir. Há até casos de pessoas enforcadas em feiras livres. O governo usa as execuções para intimidar seu povo", continua Oh Se-hyek.
Executados por assistirem à televisão
A organização que elaborou o relatório espera que esse trabalho ajude a punir os responsáveis no futuro, além de facilitar uma eventual transição democrática na Coreia do Norte. "O objetivo mais importante é enviar um sinal forte aos dirigentes norte-coreanos, pressionando para que eles mudem sua política", explica Lee Young-hwan, fundador e diretor da ONG.
"Kim Jong-un e seus subordinados serão um dia julgados graças a esse tipo de trabalho de documentação", afirma. Segundo ele, os dados também são importantes para as famílias das vítimas, para que elas possam encontrar os corpos de seus parentes. Afinal, eles também têm direito a um enterro de verdade.
Lee Young-hwan critica a posição dos Estados Unidos e da própria Coreia do Sul que, segundo ele, concentram as negociações com Pyongyang apenas em torno da questão nuclear, ignorando quase sempre o delicado tema dos direitos humanos.
A pena de morte na Coreia do Norte é aplicada em casos de assassinato, roubo ou corrupção, mas também para atividades consideradas "antirrevolucionárias", como o fato de assistir a um canal de televisão sul-coreano.
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