Usar a Internet é proibido para norte-coreanos, com exceção de quem precisa tratar com o exterior a trabalho.
Estrangeiros podem acessar a web com celular especial, que impede ligações locais —1 giga pode custar mais de US$ 200 (cerca de R$ 700).
Hotéis internacionais, como o Pothonggang, oferecem wi-fi por US$ 1,40 cada dez minutos, após registrar o número do passaporte e conferir a assinatura do interessado.
"Wi-fi? Você sabe o que é isso?", perguntou à Folha a intérprete Kim Kum-yong, 26, quando o funcionário do hotel lhe ofereceu a opção.
“A internet é útil, mas muito perigosa. Há muita violência e informações danosas às crianças. As redes sociais impulsionaram a Primavera Árabe, e o que aconteceu? Hoje há ainda mais caos que antes”, afirma ela.
“Se houvesse informação livre, talvez estivéssemos cheios de viciados em drogas, como nos outros países", afirma Ko Kun-chol, representante para América Latina do Comitê Coreano de Intercâmbio Cultural com o Exterior.
Os norte-coreanos possuem uma rede interna, a Kwangnyong, com informações autorizadas pelo governo. Em Pyongyang celulares são frequentes, mas a comunicação é por SMS ou, algo cada vez mais raro no Brasil, ligações de voz.
Não há redes sociais como as ocidentais, e mesmo norte-coreanos jovens desconhecem o que seja Facebook, Tinder ou Whatsapp.
Todo meio de comunicação é oficial: 5 jornais, 2 emissoras de rádio e 4 canais de TV —mas um deles, o esportivo, só vai ao ar aos sábados.
Os rádios têm o dial bloqueado, e ser flagrado com aparelho adulterado pode levar à prisão. O governo tenta também bloquear emissões de TV estrangeiras nas fronteiras.
Na chegada ao aeroporto, câmeras, computadores e material impresso são fiscalizados para evitar “propaganda capitalista”. Raros norte-coreanos podem viajar ao exterior, quase sempre a trabalho.
“Você me perguntou se é possível deixar o país. Muitos morreram tentando defender a nação. Se agora todos quiserem ir embora achando que vão ter uma vida melhor, quem vai trabalhar para garantir o futuro? Não é justo”, diz o guia Ko Kun-chol, 50.
Folha leva à Coreia do Norte perguntas de leitores
"O que você gostaria de perguntar a um norte-coreano, se tivesse a oportunidade de visitar esse que é um dos países mais fechados do mundo?" foi a questão feita pela Folha a seus leitores antes de embarcar.
Foram enviadas mais de 70 questões, parte delas respondidas durante a viagem, no final de outubro.
Muito foi visto e ouvido, mas o número de vozes e pontos de vista ausentes deixa sempre muitas questões em aberto.
- Informação, internet e contato com o exterior
- Casamento, sexo e família
- Vida coletiva e participação política
- Reunificação e Guerra das Coreias
- Educação
- Trabalho
- Diversão, esporte e arte
- Isolamento, controle e mudanças
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.