Favorito à presidência do Uruguai é entusiasta do Mercosul

Socialista Daniel Martínez, 62, faz parte da coalizão Frente Ampla, que governa país desde 2005

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Buenos Aires

Favorito no primeiro turno das eleições uruguaias, que ocorrem no domingo (27), o socialista Daniel Martínez, 62, pode ser mais um dirigente da região ideologicamente oposto ao brasileiro Jair Bolsonaro. 

Integrante da Frente Ampla, coalizão de centro-esquerda que governa o Uruguai desde 2005, o engenheiro Martínez alia-se à ala moderada, comandada pelo atual presidente Tabaré Vázquez, e não é tão próximo dos tupamaros, liderados pelo ex-presidente José "Pepe" Mujica.

Em entrevista à Folha, Martínez diz ser um entusiasta do Mercosul.

Daniel Martinez, 62, é o favorito a vencer as eleições presidenciais uruguaias ddo domingo (27)
Daniel Martinez, 62, é o favorito a vencer as eleições presidenciais uruguaias do domingo (27) - Eitan Abramobich - 9.out.2019/AFP

"[O bloco] continua sendo uma importante estratégia para a inserção global. Conjuntamente aos outros países, temos que buscar os melhores caminhos para garantir o acesso a mercados exigentes, com as menores taxas possíveis."

O candidato afirmou já estar em avançadas conversas com o kirchnerista Alberto Fernández, que concorre no mesmo dia à Presidência argentina e também é favorito na disputa. 

Martínez diz que, embora tenha o conhecido há pouco tempo, já se reuniu com o argentino várias vezes, o que gerou "um laço muito estreito."

O uruguaio conta que os dois já definiram uma agenda de trabalho conjunta vinculada a assuntos ambientais que envolvem o rio Uruguai e o rio da Prata, e as pautas abarcariam criação de empregos e temas de fronteira. 

Questionado sobre Jair Bolsonaro, Martínez foi mais cauteloso. "A eleição do presidente do Brasil é de exclusiva responsabilidade do povo brasileiro e meu caminho, caso seja eleito, será procurar os melhores entendimentos entre os dois governos."

Na pesquisa mais recente, Martínez tem 38% das intenções de voto, contra 27% de Luis Lacalle Pou e 11% de Ernesto Talvi. Seus dois opositores são liberais e pertencem a partidos tradicionais.

Lacalle Pou, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), é do Partido Blanco. Já o economista Ernesto Talvi, formado em Chicago, pertence ao Partido Colorado.

Por ora, todas as pesquisas apontam para a realização de um segundo turno, que ocorreria no próximo dia 24 de novembro.

Na economia, Martínez diz que o país deve seguir as mesmas políticas que têm dado ao Uruguai um crescimento sustentável de média de 3% ao ano há mais de uma década, embora o panorama internacional esteja mais hostil.

Ainda que se mostre preocupado com a crise no Brasil e na Argentina, Martínez conta que o Uruguai já aprendeu a caminhar sem os vizinhos. Essa "forte redução da dependência" seria, em sua avaliação, "uma das transformações mais relevantes dos governos da Frente Ampla".

O Uruguai diversificou mercados, o que o permitiu crescer mesmo quando os países vizinhos vizinhos estão em dificuldades, diz.

Com a redução drástica da pobreza (de 40% para 9% durante a atual gestão da Frente Ampla), um dos problemas mais mencionados pelos uruguaios é o aumento da insegurança.

Embora tradicionalmente o Uruguai seja uma das nações menos violentas da América Latina, em dois anos a taxa de homicídios disparou e atinge hoje a cifra de 11,8 para cada 100 mil habitantes.

O ritmo em que o número vem crescendo, segundo a ONG Insight Crime, é proporcionalmente maior do que os índices de países muito violentos da América Central, como Honduras e El Salvador.

"A questão mais relevante que teremos de enfrentar, se formos eleitos, é a da segurança. Minhas preocupações são com a violência já instalada e com a forma como as gangues do narcotráfico vêm captando nossos jovens para o delito", afirma Martínez.

"Definimos uma estratégia com dois pilares: políticas de prevenção e repressão focada."

Esse plano, explica o candidato, envolve investir em inteligência e em reformar a política carcerária, pois os índices de reincidência são altos no Uruguai.

Se de fato vencer o pleito, ele diz que a política uruguaia para a Venezuela não muda. Uruguai e México têm rejeitado as pressões do Grupo de Lima sobre o país caribenho e defendem uma linha por meio do diálogo, e não pela imposição de sanções econômicas.

"Nossa política internacional tem de servir para oferecer caminhos de saída que gerem o menor impacto sobre o povo venezuelano, tal como estão impulsando alguns países europeus."

Nesse ponto, há outra coincidência com o provável próximo presidente argentino, que é contra as posições do Grupo de Lima, não classifica a Venezuela como uma ditadura e quer que a Argentina se junte à linha mexicana de atuação para ajudar o país a se redemocratizar.

Entenda a eleição uruguaia

O que está em disputa?
A Presidência, as 99 cadeiras da Câmara e as 30 do Senado, além dos governos regionais. Todos são eleitos para mandatos de cinco anos.

Quem são os principais candidatos à Presidência?
Favorito, o ex-senador e ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez tenta manter a Frente Ampla, no poder desde 2005, no comando. O principal adversário é o senador centro direitista Luis Alberto Lacalle Pou (Partidio Nacional), filho de um ex-presidente.

Há chance de 2º turno?
É a hipótese mais provável, de acordo com as pesquisas. A votação para presidente é semelhante a do Brasil. Vence em 1º turno o candidato que tiver mais de 50% dos votos e, caso isto não aconteça, há 2º turno entre os dois mais votados em 24 de novembro.

E como é para o Congresso?
Usa-se o sistema de lista fechada, no qual o eleitor vota apenas nos partidos. As cadeiras são divididas de
acordo com a porcentagem de votos que cada sigla recebeu.

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