Pesquisa indica que inquérito de impeachment não abalou chances de Trump à reeleição

Levantamentos a um ano do pleito costumam acertar tanto quanto as da véspera do voto

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Nate Cohn
The New York Times

Apesar dos baixos índices de aprovação nacional e do fantasma do impeachment, o presidente americano Donald Trump continua altamente competitivo nos estados mais disputados, onde deverá ser decidida sua reeleição, segundo um conjunto de novas pesquisas do New York Times Upshot e da faculdade Siena.

Nos seis estados que passaram a apoiar os republicanos por uma pequena margem em 2016, ele está atrás do ex-vice-presidente democrata Joe Biden por dois pontos em média entre os eleitores registrados, mas segue dentro da margem de erro.

O presidente dos EUA, Donald Trump, em compicio em Lexington, no estado de Kentucky
O presidente dos EUA, Donald Trump, em compicio em Lexington, no estado de Kentucky - Yuri Gripas - 4.nov.19/Reuters

Trump supera a senadora Elizabeth Warren, também democrata, por dois pontos entre os eleitores registrados, a mesma margem de sua vitória sobre Hillary Clinton nesses locais há três anos.

A pesquisa mostrou o senador Bernie Sanders e o presidente empatados entre os eleitores registrados, mas perdendo entre os eleitores prováveis (aqueles que devem comparecer às urnas).

Os resultados sugerem que Warren, que tomou a dianteira na nomeação do Partido Democrata, poderá enfrentar uma série de obstáculos.

A pesquisa reforça as preocupações de alguns democratas de que a ideologia e o gênero de Warren —e a questão preocupante da simpatia— poderão atrapalhar sua candidatura em uma fatia crucial do eleitorado. Ela tem desempenho inferior ao de seus rivais, e a pesquisa sugere que a disputa poderá ser tão apertada que essa diferença seja decisiva.

Nas enquetes que abrangem todo os EUA, a posição política de Trump parece estar gravemente ameaçada. Seus índices de aprovação estão há muito tempo na casa dos 40%, e ele perde para Biden por quase nove pontos na média nacional. Mas, como mostrou a disputa de 2016, a história nos estados-pêndulo pode ser muito diferente.


O que é um estado-pêndulo?

São aqueles sem preferência por nenhum dos dois partidos —também chamados de ‘estados roxos’. A cada eleição, votam em uma legenda diferente. Os ‘estados vermelhos’, como Texas e Arizona, votam nos candidatos do Partido Republicano, enquanto os ‘estados azuis’, como Califórnia e Nova York, votam nos do Partido Democrata.


Trump venceu a eleição conquistando Michigan, Pensilvânia, Wisconsin, Flórida, Arizona e Carolina do Norte, mesmo perdendo na votação nacional por dois pontos.

Os democratas provavelmente precisariam vencer em três desses seis para ganhar a Casa Branca, supondo que demais estados votassem igual a 2016.

A pesquisa Times/Siena e outros dados sugerem que a vantagem do presidente no Colégio Eleitoral em relação ao país como um todo permanece intacta ou até cresceu desde 2016, aumentando a possibilidade de que os republicanos possam conquistar a Presidência mesmo perdendo no voto popular. Seria a terceira vez em seis eleições.


Entenda o colégio eleitoral

  • Quando um eleitor americano vota, ele elege um membro do colégio eleitoral (delegado)
  • Cada estado é representado por um número de delegados definido de acordo com o número de habitantes; o mínimo é três
  • O delegado votará na chapa (presidente e vice-presidente) escolhida pelos eleitores quando o órgão se reunir, normalmente semanas após a eleição

538
delegados compõem o colégio eleitoral

270
mínimo de votos necessários para que uma chapa vença

Já aconteceu de uma chapa ter mais votos de eleitores, mas menos dos delegados? 
Sim. Em 2016, Hillary Clinton conquistou mais votos dos eleitores. E em 2000, o democrata Al Gore também perdeu no Colégio Eleitoral, mas venceu no número total de votos; George W. Bush foi eleito. Há outros casos, mais antigos.


Falta um ano para o dia da eleição, e muita coisa pode mudar. 

Warren, por exemplo, poderia moderar sua imagem (de ativista energética) ou atrair eleitores jovens e não brancos, incluindo os milhões que talvez nem sejam incluídos em uma pesquisa de opinião com os atuais eleitores registrados.

Biden poderia perder os eleitores relativamente conservadores que o apoiam hoje. E Trump poderia sofrer danos políticos irreparáveis durante o processo de impeachment.

Mas as pesquisas de um ano antes das eleições costumam acertar tanto quanto as da véspera. A estabilidade do índice de aprovação do presidente faz pensar que esse padrão poderá se manter novamente, pelo menos para os três principais e já conhecidos democratas testados nas pesquisas.

Enquanto Biden é considerado o democrata mais forte nos estados indecisos, as conclusões da pesquisa tampouco são boas para ele. Seu apelo aos democratas depende da opinião de que ele é uma aposta segura contra o presidente, mas sua vantagem contra Trump não é tão confortável que ele possa ser considerado uma certeza.

A pesquisa Times/Siena mostra um eleitorado excepcionalmente engajado e polarizado, que continua dividido como nas eleições presidenciais de 2016. Mais de 90% dos eleitores registrados dizem estar "quase certos" ou "com grande probabilidade de votar", superando os 87% que disseram o mesmo nas pesquisas realizadas nas últimas semanas das eleições de 2016.

Três anos depois, mais de 90% dos apoiadores de Trump em 2016 aprovam seu desempenho, enquanto mais de 90% dos eleitores de Clinton o desaprovavam.

As principais divisões demográficas das eleições de 2016 também permanecem.

Trump tem dificuldades entre os eleitores com educação superior, brancos e não brancos, embora haja sinais de que sua posição nesse último grupo tenha melhorado modestamente. Mas ele leva vantagem entre os eleitores brancos sem formação universitária.

Em contraste com levantamentos nacionais recentes, as pesquisas Times/Siena constatam que a liderança do presidente entre os eleitores brancos da classe trabalhadora é próxima à vantagem decisiva de 2016. Esse grupo representa quase a metade dos eleitores registrados nesses estados, e corresponde à maioria daqueles vindos dos estados-pêndulo do norte do país que decidiram a última eleição.

A pesquisa oferece poucas evidências de que algum democrata, incluindo Biden, tenha feito progressos substanciais para recuperar os eleitores brancos da classe trabalhadora que desertaram para Trump em 2016, pelo menos até agora.

Todos os principais candidatos democratas ficam para trás nos distritos ou municípios que votaram em Barack Obama e depois mudaram para Trump.

Em consequência, os democratas parecem ter feito pouco progresso na recuperação de sua vantagem tradicional nos estados-pêndulo do norte, apesar da vitória nesses locais na eleição de meio de mandato em 2018.

Os entrevistados nesses estados disseram que votaram nos candidatos democratas ao Congresso por uma média de 6 pontos, margem quase idêntica à de sua vitória real.

Quase dois terços dos eleitores de Trump que disseram ter votado em candidatos democratas ao Congresso em 2018 declaram que apoiarão o presidente contra os três oponentes nomeados.

No entanto, Biden mantém a vantagem entre os eleitores registrados e prováveis.

Ele atinge 55% contra 22% entre os eleitores que afirmam ter apoiado candidatos de partidos menores em 2016, como Gary Johnson e Jill Stein, e entre os que dizem ter votado, mas deixaram em branco o voto para presidente. Isso vem depois de uma pequena mudança —apenas 2 pontos percentuais a favor de Biden— entre os que dizem ter votado em Clinton ou em Trump.

Warren e Sanders, por outro lado, perdem uma fatia do voto de Clinton e ganham menos entre apoiadores de Trump.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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