Primeira presidente mulher da Bolívia foi de guerrilheira a fantoche dos militares

Após ser tirada do poder por militares, Lidia Gueiler deixou país e buscou exílio na França

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La Paz

Jeanine Añez, 52, não é a única mulher a chegar à Presidência da Bolívia.

Há 40 anos, em circunstâncias igualmente estranhas e num ambiente político também bastante instável, o posto praticamente caiu no colo de outra mulher, Lidia Gueiler Tejada, que governou de 1979 a 1980.

Gueiler era presidente da Câmara dos Deputados e pertencia ao grupo político do ex-presidente Victor Paz Estenssoro (1907-2001), que havia sido presidente em três ocasiões.

A ex-presidente da Bolívia Lidia Gueiler discursa durante cerimônia no palácio presidencial, em La Paz
A ex-presidente da Bolívia Lidia Gueiler discursa durante cerimônia no palácio presidencial, em La Paz - David Mercado - 10.out.05/Reuters

Nas eleições de 1979, nenhum dos candidatos recebeu 50% dos votos e, pela lei da época, a escolha tinha que ser feita pelo Parlamento, que tampouco chegou a um consenso.

O poder acabou ficando com o líder do Senado, Walter Guevara. No entanto, os militares não aceitaram a ideia e promoveram um golpe, liderado pelo general Alberto Natusch.

Mas o plano das Forças Armadas também não deu certo. Uma grande greve geral pressionou os militares, que, 16 dias depois, entregaram o cargo à presidente da Câmara de Deputados, Lidia Gueiler.

Os historiadores, porém, referem-se a esse período como parte de um governo militar, em que Gueiler era apenas um rosto civil para acalmar os trabalhadores e amenizar o impacto do golpe.

O curioso é que, em seu passado, Gueiler havia tido um histórico político muito diferente de Añez.

Se a autoproclamada presidente da Bolívia é uma mulher religiosa e conservadora, Gueiler havia sido guerrilheira na juventude, tendo atuado como transportadora de armas para a milícia Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) —ou seja, era partidária da luta armada.

Conhecida por ser muito combativa, fez uma greve de fome em 1951, com outras 27 mulheres, pela libertação de presos políticos. Após oito dias, alcançaram o objetivo.

De classe média alta, era boa jogadora de tênis, ruiva e gostava de ler romances proibidos na época militar, o que tornou sua vida pessoal objeto de curiosidade popular.

Gueiler acabou tirada do poder por outro golpe militar, deixando o país e buscando exílio na França. Ela morreu em 2011, aos 80 anos, em La Paz.

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