Descrição de chapéu Brexit

Entenda a eleição do Reino Unido em 7 passos

Decidido em 2016, brexit ainda divide o país, embaralha afinidades partidárias e coloca em jogo voto útil

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Londres

Incerteza é a única certeza das eleições no Reino Unido na quinta (12), antecipadas pelo primeiro-ministro e líder do Partido Conservador, Boris Johnson, para garantir maioria que aprove no Parlamento seu acordo para o brexit (a saída da União Europeia).

Até este fim de semana, pesquisas mostravam uma folga de 7 a 13 pontos para os conservadores —o limite para assegurar maioria são 6 pontos, segundo analistas.

Numa eleição batizada de breXmas (junção de brexit com Xmas, Natal, em inglês), os britânicos discutem até o efeito do frio e da chuva sobre os votos, mas o principal complicador é o divórcio com a UE.

perfil de boris johnson sob nuvens
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson fala à imprensa durante evento de campanha no nordeste da Inglaterra, neste sábado (7) - Toby Melville/AFP

Se o tamanho da vitória de Boris Johnson caminha para ser a principal notícia do dia 13, não fechará questão sobre sua capacidade de completar a saída da União Europeia até o fim de 2020, como prometeu. 

E ainda estão no horizonte crises com escoceses e irlandeses do norte, que têm potencial para afetar até mesmo a continuidade do Reino Unido.

 

1. Como chegamos até aqui

Dificuldades de aprovar o acordo de Boris Johnson para o brexit o fizeram antecipar de 2022 para este mês as eleições no Parlamento.

O objetivo é assegurar a maioria das 650 cadeiras e passar seu plano antes de 31 de janeiro, como prometeu. Siga a corrida de obstáculos do brexit:

jan.2013 – O então premiê David Cameron promete um referendo se os conservadores vencessem as eleições seguintes
fev.2016 – O referendo é marcado para junho
23.jun.16 – 52% dos eleitores votam pela saída da UE
out.16 – A então primeira-ministra Theresa May marca para 29. de março de 2019 a data do brexit
dez.17 –UE e Reino Unido chegam a acordo sobre fronteiras da Irlanda e direitos mútuos dos cidadãos
15.jan.19 – Primeiro revés: Parlamento rejeita acordo
12.mar.19 – Segundo revés: novo acordo é rejeitado, a 16 dias do brexit
21.mar.19 – UE adia saída para 22 de maio, condicionada à aprovação do acordo
10.abr.19 – Terceiro revés: acordo é rejeitado
24.jul.19 – Boris assume e anuncia o brexit em 31 de outubro, com ou sem acordo
17.out.19 – Conselho Europeu aprova novo acordo; em 28 de outubro, UE aprova pedido de Boris e adia o brexit, para 31 de janeiro de 2020.

2. Quem disputa esta eleição

3. Sobre o que é esta eleição (pouco além do brexit)

Nem só de brexit vive a eleição. O tema era prioridade para 68% dos britânicos no começo da campanha, mas pesquisas recentes mostram um avanço da preocupação com o sistema público de saúde, o NHS, que passou de 40% das menções para perto de 50%.

O sistema registra piora nos indicadores de atendimento e é o principal tema do Partido Trabalhista, que acusa os conservadores de querer “vender o sistema para os americanos”. Acusações de antissemitismo no Partido Trabalhista e anti-islamismo no Conservador também têm ganhado espaço.

4. Por que os conservadores lideram

A discussão sobre a saída da UE favoreceu os conservadores especialmente em regiões que costumavam votar nos trabalhistas, mas são pró-brexit.

Boris Johnson repete o slogan “Let’s get brexit done” (“vamos resolver o brexit de uma vez”), eficiente entre eleitores cansados de três anos de vaivém, ainda que a vitória conservadora não garanta uma solução definitiva.

Boris também repete a tática de 2016: mensagens pela internet que abordam os interesses (e medos e rancores) individuais de cada eleitor.

5. O que acontece com o Reino Unido

Tudo depende da vantagem conquistada por Boris. Professor da London School of Economics, o cientista político Patrick Dunleavy traça quatro cenários, de acordo com as cadeiras obtidas pelo Partido Conservador:

mais de 322 eleitos – o primeiro-ministro aprova o acordo e governa pelos próximos cinco anos. 
313 a 322 eleitos – Boris se mantém como chefe de governo, mas seu acordo pode sofrer resistências, principalmente do norte-irlandês DUP (Partido Unionista Libertário), descontente com os termos sobre fronteiras. 
225 a 312 eleitos – o Reino Unido escolhe em outro referendo se fica na UE ou sai. Não há certeza sobre a continuidade de Boris
menos de 225 eleitos – Boris deixa o governo, e o trabalhista Jeremy Corbyn assume como primeiro-ministro, elabora novo acordo e o submete a referendo.

O destino do brexit também embute o risco de que o Reino Unido se encerre, com a separação da Escócia (pró-UE) e a pressão da Irlanda do Norte.

Para o ex-embaixador Sérgio Amaral, há risco da quebra de equilíbrio entre Irlanda e Irlanda do Norte, obtido “depois de anos e anos de guerra civil e mortes”. A perda de empresas e bancos será “um novo golpe no país que já foi a maior potência do mundo”, segundo Rubens Barbosa, também ex-embaixador.

6. Como a eleição afeta a União Europeia

 “As perspectivas para o futuro da Europa não são estimulantes”, diz o diplomata brasileiro Rubens Ricupero. Segundo ele, a união inédita de 28 nações num continente marcado por guerras foi “a própria semente das rivalidades”, pois cresceu a heterogeneidade. Sem o Reino Unido, o bloco perde relevância num mundo dominado pela China e pelos EUA.

Para Ricupero, uma incógnita é o relacionamento com a Rússia, que emprestaria força à UE, mas cujas tendências imperialistas são vistas com desconfiança.

7. Qual o impacto do pleito para o Brasil

O brexit tem dois efeitos contrários para o comércio exterior brasileiro. O Reino Unido tem uma tradição de livre comércio, e a saída da UE estimula os britânicos a negociar acordos com outros países.

Sem a influência britânica, podem crescer no bloco tendências protecionistas em áreas importantes para o Brasil, como o agronegócio, diz o diplomata brasileiro Sérgio Amaral. Para Rubens Ricupero, a UE deve paralisar as negociações de um acordo com o Mercosul, à espera de uma definição tanto em relação ao brexit quanto aos rumos da política latino-americana.

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