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Vitória folgada em estado multirracial dá força à liderança de Bernie Sanders

Resultado em Nevada consolida senador como principal nome na corrida pela nomeação democrata

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Jennifer Medina Aston W. Herndon
Las Vegas | The New York Times

Para dezenas de latinos, em sua maioria de classe trabalhadora, Bernie Sanders parece ser um deles, um filho de imigrantes que entende o que é ser visto como eterno outsider.

Por um dia pelo menos, a revolução política longamente prometida por Sanders ganhou vida intensa: uma coalizão multirracial de imigrantes, estudantes universitários, mães latinas, jovens eleitores negros, liberais brancos e até alguns moderados que aderiram à sua ideia de transformações radicais e o carregaram para a vitória no caucus de Nevada neste sábado (22).

Sanders celebra a vitória no caucus com sua mulher, em San Antonio, no Texas - Callaghan O'hare/Reuters

Atrelando o apoio de eleitores de origens tão diversas, Sanders ofereceu uma prévia do caminho que espera trilhar para chegar à indicação presidencial democrata: a união de uma gama de eleitores em estados racialmente diversificados no Oeste e Sul do país e em partes do Meio Oeste e Sudoeste que passam por problemas econômicos, todos juntos em torno da mensagem de justiça social que ele prega há anos.

Os assessores de Sanders argumentam que ele possui uma capacidade singular de mobilizar eleitores que sempre se sentiram preteridos no Partido Democrata, como os latinos e os mais jovens, e que Nevada comprovou esse fato —sem falar que pode preparar o terreno para resultados fortes nas disputas da Super Terça, em 3 de março, quando 14 estados realizam suas primárias ao mesmo tempo.

A campanha de Sanders está de olho especialmente na Califórnia e no Texas, estados com grande número de delegados e cujo eleitorado democrata diverso inclui uma alta porcentagem de votantes de origem imigrante.

Por isso, Sanders fez seu discurso de vitória na noite de sábado não em Nevada, mas na cidade de San Antonio, no Texas.

As chances do senador dependem também, em parte, de o campo de pré-candidatos moderados continuar dividido, além da capacidade de convencer eleitores, incluindo latinos em outras partes dos Estados Unidos, sobre o valor do tipo de socialismo democrático proposto por ele.

Nas pesquisas de intenção de voto feitas antes do caucus em Nevada, Sanders se destacou como líder entre muitos grupos demográficos: homens e mulheres, brancos e latinos, famílias sindicalizadas ou não e eleitores com graus diversos de instrução.

É um sinal de alarme para o establishment democrata tão frequentemente criticada pelo senador. Boa parte dele baseou suas esperanças de barrá-lo na ideia de que Sanders tem um teto político que não conseguirá ultrapassar no partido e de que não será capaz de ampliar sua base de apoio.

O que se viu quando as prévias democratas deixaram os eleitores racialmente homogêneos de Iowa e New Hampshire e chegaram a Nevada, no entanto, foi que Sanders ganha força, enquanto outros candidatos enfrentam dificuldades.

Os resultados fortes obtidos nos dois primeiros estados não ajudaram o ex-prefeito Pete Buttigieg e a senadora Amy Klobuchar a ampliar sua base entre eleitores não brancos.

O ex-vice-presidente Joe Biden se descreveu como o único candidato capaz de formar uma coalizão diversa, mas ficou em segundo lugar em Nevada —muito atrás de Sanders—, onde a disputa pela indicação do candidato presidencial democrata foi a mais multirracial até agora.

“Ele vem dizendo a mesma coisa há 40 anos. Confio nele”, disse Cristhian Ramirez, 31, especialista em suporte tecnológico, que, em novembro, começou a trabalhar como voluntário na campanha do pré-candidato.

Em Iowa e em New Hampshire, eleitores jovens e aqueles ideologicamente progressistas levaram Sanders à vitória no voto popular, mas foi Nevada o estado responsável por mostrar que a autenticidade do pré-candidato pode agradar a votantes de diversas origens culturais.

Ativistas e lideranças que endossaram Sanders, especialmente pessoas que trabalham com populações imigrantes, disseram que a atenção voltada aos chamados “Bernie Bros” —uma caricatura feita de seus seguidores como sendo em sua maioria brancos e homens— não leva em conta até que ponto sua campanha está alcançando setores historicamente marginalizados.

Eles elogiaram Sanders por articular uma visão global da injustiça que o levou a lugares até agora não mapeados no campo democrata: o senador foi o primeiro pré-candidato a defender uma moratória das deportações, além de falar com frequência da situação dos palestinos durante os debates e da experiência de imigrante de sua própria família, usando-a como maneira de se aproximar dos eleitores, algo que raramente fez na disputa presidencial em 2016.

É claro que nenhum setor do eleitorado é monolítico, e a base de apoio a Sanders tem fissuras ligadas à idade e ao grau de instrução dos eleitores.

Mas, a julgar pelo que aconteceu em Nevada, ele está bem posicionado para conquistar o apoio de uma parcela ampla dos latinos, de uma maneira feita por candidatos anteriores com o eleitorado negro do Partido Democrata.

Assim, o senador acumula uma vantagem que pode ajudar no caminho para sua indicação à candidatura democrata.

Muitas pessoas que foram ao caucus usando broches e adesivos de Sanders disseram que a campanha dele foi a única com a qual tiveram contato.

Ativistas políticos latinos, incluindo os que apoiam outros candidatos, costumam aplaudir a campanha de Sanders por fazer o tipo de trabalho de angariação de votos que envolve muito contato pessoal e que eles vêm tentando há anos convencer outros pré-candidatos a fazer.

O ex-prefeito de Nova York Mike Bloomberg, dono de recursos financeiros virtualmente ilimitados, também está investindo para tentar ganhar a adesão dos latinos e competindo agressivamente nos estados da Super Terça, algo que pode prejudicar o apoio a Sanders.

Ele já gastou mais de US$ 10 milhões (R$ 43,9 milhões) com anúncios em espanhol.

A atração exercida por Sanders parece ser especialmente forte no Oeste do país, onde sua capacidade de ganhar a adesão de eleitores não apenas latinos, mas também negros e asiático-americanos liberais pode ser um presságio de fortes resultados na Califórnia, que renderá mais delegados que os quatro primeiros estados votantes somados.

A equipe de Sanders​ vem dizendo há muito tempo que a Califórnia, onde a votação antecipada já começou, é um dos principais focos da campanha.

Ela investiu cerca de US$ 6,5 milhões (R$ 28,5 mi) até agora em anúncios no Estado, incluindo mais de US$ 1 milhão (R$ 4,39 milhão) em propagandas em espanhol.

Uma pesquisa do Instituto de Políticas Públicas da Califórnia divulgada na semana passada deu 30% das intenções de voto a Sanders, enquanto Joe Biden, no segundo lugar, ficou quase 20 pontos percentuais atrás.


Como ficam os demais candidatos após Nevada

Ninguém dá sinais de que quer desistir

Após a votação em Nevada, apoiadores de Pete Buttigieg anunciaram que comprariam anúncios de TV nos estados da Super Terça, o chefe de campanha de Joe Biden falou que “o retorno de Biden” tinha apenas começado, Amy Klobuchar disse que seu desempenho “excedeu expectativas” o de Elizabeth Warren afirmou que sua performance no debate se provaria importante no futuro. Em resumo, todos deram sinais de que continuarão em campanha. A fragmentação favorece Sanders, pois quanto mais tempo os candidatos continuarem na corrida, mais ele pode seguir vencendo e acumulando delegadas nas prévias sem um rival único. 

Segundo lugar ainda é o melhor resultado de Biden 

Biden tem batido na tecla de que é o único que pode derrotar Trump. Porém, pela terceira vez não conseguiu ganhar nas prévias, apesar de ter melhorado em relação aos desastrosos quarto e quinto lugares em Iowa e New Hampshire. O ex-vice de Obama tem dito que sua sorte mudaria em estados com mais diversidade, mas em Nevada foi Sanders que liderou entre os latinos. Biden é favorito na Carolina do Sul e isso pode trazer um novo fôlego para a Super Terça. Mas ele também liderava as pesquisas em Nevada ao longo do último ano e não ganhou lá. 

Buttigieg quer ser o anti-Sanders

O discurso de Buttigieg foi o mais revelador: ele não só falou de seus méritos, mas mirou em Sanders, a quem acusou de impor uma “revolução inflexível e ideológica que deixa de fora a maioria dos democratas, para não mencionar a maioria dos americanos”. Um de seus chefes de campanha disse a uma TV que Buttigieg é o líder da “faixa não revolucionária” das prévias. O problema é que o sucesso de Buttigieg até agora não alçou sua candidatura nacionalmente. Pesquisas de boca de urna mostram que ele teve só 2% dos votos dos eleitores negros de Nevada, por exemplo. Estrategistas dizem que ele está em um beco sem saída em termos demográficos. 

Sucesso em debate não empurrou Warren

A boa performance de Elizabeth Warren no debate de quarta-feira não impulsionou seu desempenho de em Nevada. Os resultados são outra frustração para ela, que já havia se saído abaixo das expectativas em Iowa e New Hampshire. Seu chefe de campanha diz que o impacto dessa performance virá ao longo da corrida, até porque muitos eleitores deram seu voto antes do debate (na votação antecipada de Nevada). Além disso, Warren arrecadou US$ 9 milhões nos últimos três dias. Mas o resultado do último caucus, junto com o próximo debate, reinicia a corrida. E ela tem pouco apoio na Carolina do Sul, estado da próxima prévia. 

Por que a apuração demora tanto?

Uma das explicações é que novas regras obrigam os líderes das seções a passar à sede do partido muito mais dados do que antes: além do número de delegados que cada candidato ganhou, os votos antecipados e os votos do primeiro e do segundo alinhamento no caucus. Há ainda dupla checagem, usando uma foto da planilha de resultados enviada por SMS. Nevada disponibilizou 200 linhas telefônicas (em Iowa, eram 80) para receber os dados. Mesmo assim, houve congestionamento e foi preciso criar outras.

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