Descrição de chapéu Coronavírus Governo Trump

'Egoísta' e 'fora de hora'; as reações à ordem de Trump de suspender repasses à OMS

Líderes e autoridades mundiais criticam presidente americano após corte anunciado na terça (14)

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Washington | Reuters

A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de cortar repasses para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em meio à pandemia do coronavírus está sendo criticada por autoridades e líderes mundiais.

A medida foi anunciada por Trump nesta terça-feira (14) durante entrevista coletiva na Casa Branca. Segundo o presidente americano, a OMS "falhou em seu dever básico e deve ser responsabilizada".

Ele disse que a organização promoveu desinformação criada pela China sobre o vírus –o que, na opinião do presidente, provavelmente levou a um surto maior do que o previsto.

Presidente Donald Trump durante encontro na Casa Branca com pacientes que se recuperaram da Covid-19 - Mandel Ngan - 14. abr.20/AFP

Os Estados Unidos são os maiores doadores da OMS —em 2019, o país desembolsou US$ 400 milhões (R$ 2,06 bilhões), equivalente a cerca de 15% do orçamento da organização sediada em Genebra.

Nesta quarta (15), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, concedeu uma entrevista coletiva em que lamentou a decisão de Trump. Ele disse ainda que a OMS vai trabalhar com outros parceiros para preencher a lacuna no financiamento e "garantir que o trabalho continue ininterruptamente".

O diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) disse que o diálogo com a OMS não será interrompido.

"A OMS tem sido uma parceira de longa data para o CDC. Nós temos trabalhado juntos para lutar contra crises de saúde no mundo todo. Vamos continuar a fazer isso", disse Robert Redfield.

O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, lamentou a decisão dos EUA de suspender os repasses à OMS.

"Não há razão para justificar essa mudança no momento em que seus esforços são necessários mais do que nunca para ajudar a conter e mitigar a pandemia de coronavírus. Somente unindo forças podemos superar essa crise que não conhece fronteiras”, escreveu Borrel no Twitter.

Na Rússia, o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, classificou o corte como “muito alarmante”. “Esse é um exemplo de uma abordagem muito egoísta das autoridades dos EUA sobre o que está acontecendo no mundo em relação à pandemia.”

"Tal golpe para esta organização no momento em que os olhos da comunidade mundial estão olhando de várias maneiras para ela é um passo digno de condenação e censura", disse Ryabkov à agência de notícias TASS.

A China instou os Estados Unidos a cumprirem suas obrigações com a OMS. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, disse que a pandemia de coronavírus, que infectou quase 2 milhões de pessoas em todo o mundo, está em um estágio crítico e que a decisão dos EUA afeta todos os países.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, pediu união. "Repartir a culpa não ajuda. O vírus não conhece fronteiras", escreveu no Twitter.

"Temos que trabalhar em conjunto contra a Covid-19. Um dos melhores investimentos é fortalecer a ONU, especialmente a subfinanciada OMS, por exemplo, para desenvolver e distribuir testes e vacinas."

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, reiterou o apoio à OMS. “Em um momento como esse, em que precisamos compartilhar informações e precisamos ter conselhos em que podemos confiar, a OMS forneceu isso. Continuaremos a apoiá-la e a fazer nossas contribuições."

Na Austrália, o primeiro-ministro Scott Morrison fez ressalvas à atuação da OMS, principalmente sobre sua relação com a China, mas defendeu a importância dos trabalhos realizados pela entidade.

"Nós não vamos jogar fora o bebê com a água do banho aqui, mas eles [a OMS] não estão imunes a críticas nem imunes a fazer as coisas [de uma maneira] melhor”, disse Morrison.

Trump também recebeu críticas dentro dos EUA. O democrata Eliot Engel, chefe da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, acusou o presidente de fazer uso político da pandemia.

"A cada dia que passa dessa crise, o presidente está nos mostrando seu guia político: culpe a OMS, culpe a China, culpe seus oponentes políticos, culpe seus antecessores —faça o que for preciso para evitar o fato de que seu governo administrou mal a crise e agora está custando milhares de vidas americanas”, disse Engel.

Patrice Harris, presidente da Associação Médica Americana, pediu que Trump reconsidere a decisão e a classificou como "um passo perigoso na direção errada que não tornará mais fácil derrotar a Covid-19”.

Amesh Adalja, especialista em doenças infecciosas e professor da universidade Johns Hopkins, que tem sido a principal fonte de monitoramento dos números da pandemia de coronavírus, afirmou que o presidente Trump “envia a mensagem errada no meio de uma pandemia".

Adalja reconheceu que a OMS comete erros e que reformas podem ser necessárias, mas isso precisa ocorrer após o período mais crítico da crise. “Não é no meio de uma pandemia que você faz esse tipo de coisa", disse.

Os filantropos Bill e Melinda Gates disseram no Twitter que interromper o financiamento da OMS “é tão perigoso quanto parece”.

“O trabalho deles está retardando a disseminação da Covid-19. Se esse trabalho for interrompido, nenhuma outra organização poderá substituí-los. O mundo precisa da OMS agora mais do que nunca."

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