Em sinal a Trump, Putin detalha política para uso de armas nucleares

Documento reafirma que Rússia pode usar a bomba se for atacada com armas convencionais

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São Paulo

Em meio a tensões crescentes na área nuclear com os Estados Unidos, o presidente Vladimir Putin assinou um documento detalhando as hipóteses em que a Rússia poderá empregar armas atômicas.

Há mais minúcias em relação à doutrina militar russa de 2009, publicada em 2010, mas o principal segue intacto: a Rússia se reserva o direito de usar a bomba mesmo que seja atacada com armas convencionais, embora diga que não faria um primeiro ataque nuclear sem ser provocada.

Teste de lançamento do míssil Sarmat, uma das novas armas nucleares de Putin
Teste de lançamento do míssil Sarmat, uma das novas armas nucleares de Putin - EPA - 2.abr.2018

Isso se daria caso fossem alvejadas infraestruturas cruciais ou se o país corresse risco existencial. O mesmo vale para o caso de aliados de Moscou serem alvo, e aí os rivais americanos Irã e Coreia do Norte vêm ao topo da lista.

O documento também coloca no papel algo dito pelo Ministério das Relações Exteriores no fim de abril: qualquer lançamento de míssil balístico contra a Rússia ensejará uma reação nuclear.

Isso se deu porque Donald Trump colocou em operação neste ano, em sua frota de submarinos, bombas atômicas de baixa potência, de efeito tático, como a destruição de tropas ou instalações militares.

O americano o fez após publicar sua própria revisão de política nuclear, em 2018, aumentando significativamente a possibilidade de emprego de armas atômicas. Ali, já previa a necessidade da nova arma.

A revisão americana seguia a doutrina militar russa em vários aspectos, mas era mais agressiva e inserida no contexto belicista preconizado por Trump.

Putin vê lançamento de míssil com o planador hipersônico Avangard em centro de controle
Putin vê lançamento de míssil com o planador hipersônico Avangard em centro de controle - Mikhail Klimentiev - 26.dez.2019/Sputnik/AFP

O documento, uma demonstração de alerta em meio à pandemia do novo coronavírus, transforma a retórica dos últimos anos em política oficial e reflete uma preocupação que remonta ao fim da Guerra Fria, quando o poderio convencional da União Soviética era temido pelo Ocidente tanto quanto o nuclear.

O sucateamento das Forças Armadas russas na década de 1990 levou a um temor contrário em Moscou: o de que a Otan (aliança militar ocidental) pudesse levar vantagem em um embate convencional com os russos, sem assim ensejar uma reação nuclear pelo risco de Apocalipse que lhe seria inerente.

O documento assinado por Putin na terça (2) mostra clara preocupação com o aumento de atividade militar nos membros mais ao leste da Otan e com o desenvolvimento bélico no espaço —Trump criou a Força Espacial no fim de 2019.

É uma avenida com duas mãos. Putin vem assustando o Ocidente com sua desenvoltura militar, iniciada na guerra contra a Geórgia em 2008 e que chegou ao máximo com a anexação da Crimeia da Ucrânia em 2014 e a intervenção na guerra civil síria, no ano seguinte.

O pensamento russo é claro: as investidas de expansão ao leste pela Otan após a Guerra Fria indicam um cerco a suas fronteiras. Assim, é preciso riscar linhas no chão, mesmo ao preço de isolamento internacional e sanções econômicas.

Assim, a sugestão feita já nos anos 2000 de um escudo antimísseis na Europa levou Putin a desenvolver uma nova gama de armas estratégicas, como mísseis hipersônicos e até um "torpedo do Juízo Final" capaz de obliterar a Costa Leste americana.

Como uma busca por culpados levaria aos anos 1940, quando o desenho do século 20 foi delineado pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, o que sobra agora são as provocações.

O turno atual é dos EUA. Além da revisão nuclear, Trump deixou dois importantes acordos de controle de armas recentemente e ameaça deixar caducar o principal instrumento de limitação de ogivas nucleares no mundo, o Novo Start, que vence em 2021.

Putin já alertou que o fim do tratado elevará o risco de uma nova corrida armamentista nuclear, provavelmente integrada pela hoje secundária China. Em Pequim, nacionalistas já pedem a quadruplicação do arsenal de 320 ogivas da ditadura comunista.

Hoje, segundo a referencial Federação dos Cientistas Americanos, os russos têm 1.572 armas prontas para uso e outras 4.310 estocadas, enquanto os americanos possuem 1.750 e 3.800, respectivamente. É mais que suficiente para destruir o planeta inúmeras vezes.

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