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Sérvios protagonizam primeira revolta europeia devido à pandemia

Insatisfação com resposta à Covid-19 e deterioração da democracia levam milhares às ruas de Belgrado

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DW

Milhares de sérvios saíram às ruas de Belgrado nesta quarta-feira (8) e, pela segunda noite, entraram em confronto com a polícia, em meio a uma insatisfação crescente com a forma como o governo está enfrentando a pandemia e a uma preocupação com o estado da democracia no país.

O estopim foi a reimposição pelo presidente Aleksandar Vucic, após um novo surto de coronavírus, de um confinamento obrigatório de três dias aos moradores da capital sérvia. Os manifestantes dizem que a quarentena em si não é o problema, mas os erros que acabaram levando a ela.

Os protestos em Belgrado são a primeira grande agitação de indignação popular relacionada à pandemia na Europa desde o início da crise.

Manifestantes em confronto com a polícia na frente da Assembleia Nacional da Sérvia, em Belgrado
Manifestantes em confronto com a polícia na frente da Assembleia Nacional da Sérvia, em Belgrado - Andrei Isakovic - 8.jul.20/AFP

Os manifestantes foram recebidos com violência pela polícia, e observadores dizem não terem testemunhado repressão nessa amplitude na Sérvia desde o domínio de Slobodan Milosevic, nos anos 1990.

Os manifestantes culpam o governo pela disseminação do coronavírus. As autoridades impuseram medidas draconianas de bloqueio nos estágios iniciais do surto, mas depois levantaram todas as restrições, pois o país estava se aproximando de uma eleição parlamentar.

O presidente Vucic insistiu em avançar com a votação de 21 de junho, na qual seu grupo político obteve ampla vitória.

Grandes eventos esportivos, incluindo um torneio de tênis e um jogo de futebol de alto nível, também foram realizados diante de milhares de torcedores. Muitos também acusam o governo de fraudar os dados oficiais e minimizar o risco para realizar a eleição.

Nos dias que se seguiram à eleição, Vucic soou o alarme para o crescimento das infecções e culpou a falta de disciplina dos cidadãos pela propagação da doença.

Na terça-feira, o presidente anunciou que o país reinstituiria medidas de bloqueio e quarentena obrigatória. Depois, ele voltou atrás, mas as manifestações não cessaram.

Manifestante fazem protesto pacífico em Belgrado, na frente do Parlamento da Sérvia
Manifestante fazem protesto pacífico em Belgrado, na frente do Parlamento da Sérvia - Oliver Bunic - 9.jul.20/AFP

Embora o movimento não tenha uma liderança clara, alguns dos pedidos apresentados pelos manifestantes incluem a substituição dos membros do conselho de emergência do coronavírus.

O órgão inclui a premiê Ana Brnabic e o ministro da Saúde, Zoran Loncar.

As manifestações rapidamente se transformaram em uma expressão mais ampla de frustração com o crescente controle de Vucic sobre a formulação de políticas e a percepção de que houve má gestão da resposta à pandemia na Sérvia.

Depois de inicialmente impor um dos bloqueios mais rigorosos da Europa em março, Vucic levantou as restrições sociais no início de maio, alegando que seu governo havia derrotado o coronavírus.

Mas enquanto outros países europeus aliviaram seus bloqueios gradualmente, o presidente optou por um processo mais rápido, permitindo que os sérvios se reunissem em dezenas de milhares sem distanciamento social.

Os líderes da oposição, incluindo o político de extrema direita Bosko Obradovic e o popular ator e político Sergej Trifunovic, foram feridos após tentarem se juntar aos protestos de quarta-feira.

Alguns dos participantes denunciam haver provocadores pró-governo infiltrados na multidão para instigar conflitos com a polícia. Só na quarta-feira, dez policiais ficaram feridos.

A Sérvia reportou mais de 17 mil infecções e 340 mortes por Covid-19 em uma população de sete milhões de habitantes. As infecções diárias dispararam nas últimas semanas, sobrecarregando os hospitais.

O presidente denunciou os protestos como "a violência política mais brutal dos últimos anos". Vucic disse que isso "prejudica a imagem da Sérvia" num momento em que ele está sob pressão para relançar as negociações para normalizar os laços com Kosovo, antiga província que se separou após a guerra nos anos 1990.

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