O presidente dos EUA, Joe Biden, manteve a tradição e realizou sua primeira reunião bilateral no cargo com o líder canadense, o premiê Justin Trudeau, nesta terça-feira (23). O habitual tête-à-tête entre vizinhos, porém, virou um encontro virtual devido à pandemia de Covid-19.
O coronavírus, aliás, foi um dos pontos de cooperação salientados entre os dois mandatários na reunião de cerca de duas horas, que procuraram virar a página da era Trump e reforçaram seus laços profundos para trabalhar também na questão da crise climática.
A colaboração é um ponto-chave para os aliados, pois a gestão de Donald Trump resultou em atritos com o aliado-chave na América do Norte —os dois países protagonizam uma das maiores relações comerciais bilaterais do mundo. O antecessor impôs tarifas ao alumínio e ao ferro canadenses e foi apenas uma vez ao Canadá, durante uma reunião do G7 em 2018, quando disse que Trudeau foi “muito desonesto e fraco”.
O republicano forçou ainda a renegociação do Acordo de Comércio Livre Norte-Americano, assunto que consumiu o governo do premiê canadense por anos.
“Os EUA não têm amigo mais próximo que o Canadá”, afirmou Biden a Trudeau na videoconferência, que teve a presença de autoridades do alto escalão de ambos os governos. “É por isso que você foi a primeira pessoa para quem telefonei como presidente e com quem faço minha primeira reunião bilateral."
A robusta agenda de compromissos mira pandemia, recuperação econômica, mudanças climáticas, refugiados e migração, luta por valores democráticos ao redor do globo e fortalecimento da democracia doméstica, disse o americano.
Por sua vez, Trudeau deu as boas-vindas à administração democrata, citando a atenção renovada de Washington às mudanças climáticas, em contraste com as políticas do antecessor.
“Obrigado, novamente, por se empenhar tanto no combate à mudança climática. A liderança dos EUA tem feito muita falta nos últimos anos”, afirmou o canadense.
O encontro deve gerar um documento conjunto de cooperação com abrangência em diversos assuntos, segundo uma autoridade americana afirmou à agência de notícias Reuters.
De concreto, Biden anunciou em entrevista coletiva após o encontro, que chamou de muito bem sucedido, uma reunião ministerial de "alto nível com ambições climáticas" para alinhar políticas e objetivos para alcançar zero emissões de carbono até 2050.
Outro resultado foi o apoio público à libertação de dois canadenses detidos na China, acusados de espionagem, depois que a vice-presidente de Finanças e filha do fundador da Huawei, Meng Wanzhou, foi presa no Canadá, a pedido dos americanos.
Uma autoridade dos EUA ouvida pela Reuters sob condição de anonimato já havia afirmado que a Casa Branca acredita que a detenção dos canadenses é injusta e irá trabalhar para garantir sua libertação. O governo americano salientou, porém, que não se intrometerá nos assuntos do Departamento de Justiça, ou seja, não irá interferir na questão de Meng, que segue em prisão domiciliar.
Após a reunião, Biden afirmou que irá trabalhar junto com o Canadá "até que consigamos seu retorno seguro", ao que Trudeau agradeceu.
Ainda não está claro, porém, se a reunião resultou em novos acordos, como o acesso do Canadá a vacinas produzidas nos EUA. Uma autoridade americana tinha dito que há pouca disposição no fornecimento dos imunizantes, já que a prioridade é vacinar os americanos.
Depois do encontro, uma pessoa ligada ao governo canadense ouvida pela Reuters afirmou que de fato não houve progresso na possibilidade de o país acessar as doses fabricadas nos EUA —atualmente, o Canadá está recebendo vacinas produzidas na Europa.
A primeira reunião entre Biden e Trudeau ocorreu num ambiente virtual privado e durou 45 minutos. Segundo um funcionário da gestão democrata, o americano iria falar sobre o financiamento da Otan (aliança militar ocidental) por seus integrantes, acusados por Trump de não contribuírem suficientemente.
Antes do encontro, a secretária de Imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, já havia se pronunciado sobre o assunto. “Esperamos que o presidente, durante o encontro, evidencie a parceria forte e profunda entre EUA e Canadá como vizinhos, amigos e aliados na Otan”, afirmou nesta segunda (22).
Segundo autoridades e funcionários ouvidos pela Reuters e AFP, os dois líderes planejavam também tocar em alguns pontos sensíveis da relação bilateral.
Um deles seria o cancelamento da permissão do oleoduto Keystone XL, executado por Biden em seu primeiro dia no cargo. O projeto de US$ 8 bilhões (R$ 43,6 bilhões) para bombear petróleo de Alberta ao Nebraska enfrentou forte oposição de ambientalistas, mas era apoiado por Ottawa.
O presidente americano também irritou canadenses ao propor o programa “Buy American” (compre americano), destinado a direcionar os gastos dos EUA e de suas agências federais a produtores domésticos, o que pode impactar fortemente seu vizinho do norte, uma vez que as duas economias são firmemente integradas.
Nesse sentido, Trudeau afirmou à agência de notícias Reuters no início do mês querer que os dois países colaborem mais estreitamente na produção de veículos elétricos e no fornecimento de minerais necessários à fabricação de baterias para os carros e outras tecnologias verdes. O tema está entre as metas do pacote para o clima aprovado por Biden no fim de janeiro.
Na entrevista após a reunião, o premiê canadense afirmou que "diante da Covid-19, das mudanças climáticas e da desigualdade crescente, esse é o nosso momento de agir".
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